“Itália foi traída”. Mario Draghi demite-se e país vai a eleições antecipadas no Outono

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Mario Draghi

Este é o terceiro colapso de um Governo italiano em três anos. Draghi deve manter-se como primeiro-ministro interino até às novas eleições.

O cenário mais provável acabou por se concretizar. Depois de na semana passada ter perdido o apoio do Movimento 5 Estrelas (M5S) e de ter tentado demitir-se — tendo o Presidente, Sergio Matarella, rejeitado o seu pedido de demissão e pedido que tentasse salvar o Governo primeiro — Mario Draghi fez esta quarta-feira um esforço final para tentar segurar o seu frágil e dividido Governo italiano.

“O único caminho a seguir, se quisermos ficar juntos, é reconstruir um pacto com coragem, abnegação e credibilidade“, propôs. “Vocês, partidos e parlamentares, estão prontos para reconstruir esse pacto? Estão prontos para confirmar esse esforço dos primeiros meses e que depois ficou mais fraco?”, questionou.

Mas o esforço foi em vão. Depois da retirada dos populistas anti-sistema M5S, Draghi perdeu ontem também o apoio da Liga (de extrema-direita e partido de Matteo Salvini) e do Forza Italia (de direita e partido de Silvio Berlusconi), que recusaram votar a moção de confiança que ia ditar o futuro do Governo italiano.

Ambos os partidos já tinham exigido que Draghi chefiasse um novo Governo sem o M5S, visto que o apoio deste partido não é essencial para a governação, mas o primeiro-ministro sempre disse que não aceitaria liderar um executivo sem o M5S, reforçando que não cede a ultimatos.

A tensão aumentou durante o dia, com a Liga e o Forza Itália a admitirem que ficaram surpreendidos quando Draghi anunciou que o destino do seu Governo seria determinado por uma moção de confiança numa resolução pedida pelo Senador centrista Pier Ferdinando Casini, que apelou a que os partidos cedessem às condições impostas por Draghi.

Apesar de continuar a ter uma maioria parlamentar, a questão era mais política do que isso. Com o corte de relações com a Liga, o Movimento 5 Estrelas e o Forza Italia, Draghi perdeu o apoio da maioria os partidos que aceitaram integrar o seu Governo de unidade nacional, que formou em Fevereiro de 2021. Por esta razão, o primeiro-ministro anunciou esta quinta-feira que está de saída.

“À luz do voto expresso quarta-feira à noite no Senado”, começou, realçando que iria “suspender de imediato a sessão” para se dirigir ao Presidente da República e apresentar-lhe as suas “determinações”. “Obrigado por tudo“, terminou Mario Draghi, dirigindo-se à Assembleia e recebendo de volta aplausos.

A crise despoletou na última semana, com o M5S a criticar Draghi e tirar-lhe o tapete por este não incluir as suas nove propostas num pacote de medidas no valor de 23 mil milhões de anos intitulado “Ajudas às famílias”, que teria como objectivo ajudar os italianos a fazer frente à escalada da inflação.

No entanto, a tensão entre Draghi e o M5S já não era de agora, com alguns analistas a especular que o partido queria sair do Governo e voltar à oposição para se reavivar depois de ter perdido terreno nas sondagens.

O suposto ressentimento de Giuseppe Conte, líder do M5S e ex-primeiro-ministro, contra o “usurpador” também é apontado como uma razão, visto que Draghi foi a escolha de Matarella para o substituir na chefia do Governo.

Este é o terceiro colapso de um governo italiano em três anos. É pouco provável que os italianos vejam esta crise com bons olhos, devido ao contexto complicado pela inflação e a dependência energética da Rússia.

Draghi é também visto como uma figura conciliadora que será dificilmente substituída num país que tem uma política errática e caótica por natureza, tendo recebido um apoio público sem precedentes, com mais de 1500 autarcas de várias famílias políticas apelado a que o primeiro-ministro ficasse no poder, assim como imensos sindicatos e empresários.

Os jornais italianos vocalizaram o descontentamento da população com a crise. O La Stampa escreveu apenas “vergonha” na capa, o La Repubblica considera que a “Itália foi traída” e o Corriere della Sera disse “Adeus ao Governo de Draghi”.

Antecipa-se agora que Itália vá a eleições antecipadas no Outono, ou a 25 de Setembro ou a 2 de Outubro. É também possível que Mattarella peça a Draghi que continue como primeiro-ministro interino até à formação de um novo Governo.

Uma agregação de sondagens feita recentemente concluiu que se as eleições fossem agora, uma coligação que incluísse os partidos de extrema-direita Irmãos de Itália e  Liga e também o Forza Italia conseguiria ter uma maioria para Governar.

Adriana Peixoto, ZAP //

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