O presidente da dona do Novo Banco, a Nani Holdings que é associada do fundo Lone Star, em Portugal, e que detém 75% da instituição financeira, foi assessor do Fundo de Resolução na venda do Novo Banco, sendo actualmente administrador na empresa do comprador.
Evgeny Kazarez, o presidente da Nani Holdings, esteve na equipa do Deutsche Bank que assessorou a venda do banco em 2017. Esta foi uma das revelações feitas numa audição da Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e que são imputadas ao Fundo de Resolução.
Numa audiência com tradução simultânea do inglês das declarações de Evgeny Kazarez, os deputados questionaram o presidente da Nani Holdings acerca das suas funções efectivas.
A deputada Cecília Meireles (CDS-PP) perguntou-lhe quais eram as suas funções antes de ingressar na Nani Holdings. Kazarez revelou que tinha trabalhado no Deutsche Bank e que assessorou o Banco de Portugal (BdP) na venda do Novo Banco em 2017.
“Trabalhei para o Deutsche Bank em Londres, fazia parte de uma equipa responsável por assessorar instituições financeiras em transacções estratégicas”, apontou. “Fui parte da equipa que assessorou o Fundo de Resolução relativamente à venda do Novo Banco”, acrescentou depois.
A deputada centrista resumiu, então, que “era assessor financeiro do vendedor e hoje é administrador do comprador“. Mas Kazarez rejeitou quaisquer conflitos de interesses, defendendo que o seu papel foi aprovado pelas entidades reguladoras.
Trabalhou em empresa que vendeu imóveis do Novo Banco com perdas
Na audição desta terça-feira também foi revelado que, no final de 2017, Kazarez iniciou conversas junto da Hudson Advisors, empresa que presta serviços à Lone Star em jurisdições espalhadas por todo o mundo.
Acabou por abandonar o Deutsche Bank em 2018 e começou a trabalhar na Hudson em Junho desse mesmo ano. Note-se que a Hudson assessorou o Novo Banco na venda de imóveis no âmbito da chamada “carteira Viriato” que causou perdas de 110 milhões de euros.
Kazarez disse ainda que trabalhou junto do Novo Banco para desenvolver sistemas tecnológicos para a instituição liderada por António Ramalho.
Já em 2019 a Lone Star contactou Kazarez para ser presidente do conselho de administração da Nani Holdings, que também está ligada a uma sociedade no Luxemburgo ligada ao fundo norte-americano.
O deputado do PS Miguel Matos também questionou Kazarez acerca da passagem de vários trabalhadores entre a Hudson Advisors e o Novo Banco. O presidente da Nani Holdings confirmou essas mudanças profissionais de vários directores.
Não se sabe quem é o verdadeiro dono da Lone Star
Kazarez revelou ainda, após perguntas da deputada Mariana Mortágua (Bloco de Esquerda), que a Nani Holdings não tem funcionários, mas apenas administradores. Portanto, é uma sociedade-veículo que está sob a alçada do Banco Central Europeu, mas que não toma decisões estratégicas.
“A Nani Holdings tem um conselho de administração, tem um comité de auditoria, tal como prescrito na lei, mas não tem qualquer funcionário”, destacou Kazarez, realçando que a sociedade “não tem activos a não ser os 75% do Novo Banco”.
A sociedade-veículo é detida pela LSF Nani Investments S.à.r.l. que tem sede no Luxemburgo. Contudo, Kazarez não soube dizer se haverá outras empresas, designadamente offshores, na estrutura das sociedades. “Não conheço a estrutura exacta”, apontou aos deputados.
“Não faz parte das minhas competências ter essa informação. E não a tenho”, apontou ainda quando Mariana Mortágua lhe perguntou quem era o beneficiário último e, portanto, o verdadeiro dono da Lone Star.
Kazarez ainda reportou aos deputados que é um mero “executante” de medidas tomadas por outros.
“Há poucas decisões que são tomadas por mim. Estão restritas à aprovação das contas da Nani Holdings. Cumpro as responsabilidades na assembleia-geral de accionistas do Novo Banco. Na Nani Holdings, não definimos a estratégia [para o banco]”, realçou ainda.
O presidente da sociedade também vincou que uma eventual futura venda do Novo Banco não passa por si. “No fim do dia, vai ser definido pelo meu accionista, não é uma decisão que me caiba”, salientou.
Sobre a eventual necessidade de o Novo Banco precisar de mais dinheiro, Kazarez apontou que “não deve haver utilização de mais pagamentos por parte do mecanismo de capital contingente”, até porque se prevê que a instituição tenha lucros neste ano.
“Mas isto não está consagrado em pedra. Pode haver eventos a alterar a situação”, salientou assumindo sempre um tom de cautela ao longo de toda a intervenção.
ZAP // Lusa
Tudo clarinho como água! Que mais é que é preciso saber,, para se perceber?
O Banco foi praticamente dado aos americanos e agora temos nós que andar a sustentá-lo pela má gestão que tem, ninguém percebe tal situação e eu muito menos a razão porque lhe deram vida!