Salgado Zenha, pão partido e seduções: o que disse Marcelo na tomada de posse do Governo

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João Relvas / EPA

Marcelo Rebelo de Sousa cumprimenta Luís Montenegro na tomada de posse do Governo

É melhor ter um caminho com “virtualidades”, aconselhou o presidente da República. Novo Governo não tem “missão impossível”.

“A vitória eleitoral foi difícil, talvez das mais estreitas em eleições parlamentares. Imagino que também por isso a mais gratificante”.

Marcelo Rebelo de Sousa tem noção da margem (muito) curta que a AD conseguiu face ao PS, nas eleições legislativas do mês passado.

Sem maioria absoluta no parlamento, a governação será “muito difícil”. Mas “missão impossível, não o creio”, analisou, na cerimónia de tomada de posse do novo Governo.

Este mandato liderado por Luís Montenegro “é complexo por quatro razões: o panorama internacional, a governação económica e social interna, a base de apoio político e o tempo disponível”.

Mas Marcelo citou o histórico socialista Francisco Salgado Zenha: “Há sempre soluções em democracia”. E logo a seguir citou uma obra do frei Manuel Bernardes, do século XVII: ‘Pão Partido Em Pequeninos’.

Justificando: “O pão partido em pequeninos, aplicável a esta situação, significa que se parte um problema em vários pequenos e resolve-se um a um com paciência, sem criar ambições ilusórias. Pode não ser espetacular neste tempo de grandes emoções, paixões, seduções pela sensação imediata. Mas poderá ser um caminho com virtualidades“.

Não foi só a margem que foi curta – por isso, é preciso “conquistar mais portugueses” – porque o tempo também é “muito curto” para aplicar promessas em sectores centrais como saúde, habitação e educação. “É um tempo muito longo na teoria (quatro anos); na prática, para o que é muito urgente, e para o que foi prometido em campanha, é muito curto”.

A economia não escapou no discurso de Marcelo. Deve-se “acelerar o PRR e crescente foco no Portugal 2030, localização do novo aeroporto, solução para a TAP e contínua aposta na ferrovia, reforço da Entidade da Transparência para o combate à corrupção, o fim da discriminação entre as várias forças e serviços de segurança” – e ainda para “a superação de bloqueios e incompreensões que travam a economia, a sociedade, a justiça”.

“Onde não temos problemas, não os devemos criar, como no consenso sobre a necessidade de mais crescimento económico, no equilíbrio das contas públicas e atenção à dívida pública”, comentou o Chefe de Estado.

Apoios e diálogos

O novo Governo “conta com o apoio solidário e cooperante do presidente da República – que aliás nunca o regateou ao seu antecessor – mas não conta com o apoio maioritário na Assembleia da República e tem de o construir para convergências menos prováveis, noutros domínios, o diálogo tem ser muito mais aturado e muito mais exigente. Para decisões como reformas estruturais ou Orçamentos do Estado, essa exigência é ainda de mais largo folgo”, avisou.

Elogiando a menor abstenção nas eleições, comentou: “Foi um voto de fé na democracia ao inverter a abstenção que parecia imparável. O voto vale sempre a pena, a liberdade vale sempre a pena”.

Mas essa maior participação também traz responsabilidades para o Executivo, que deve apostar numa “aproximação às dificuldades dos portugueses”. Falando diretamente para o primeiro-ministro Luís Montenegro, disse: “Nunca se esqueça dos jovens que desta vez apostaram no voto, eles são a única razão de ser da sua missão”.

Os portugueses só ganham “se, com a mesma humildade e determinação com que aí aportou, o Governo nunca se esquecer deles: dos jovens que desta vez apostaram no jovem, aos menos jovens que se recusaram a perder a esperança”.

Ainda sobre os resultados das eleições, Marcelo Rebelo de Sousa não falou sobre o enorme crescimento do Chega. Comentou apenas: os portugueses “escolheram finalmente dar a vitória ao setor moderado e não ao setor radical do outro hemisfério”.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP // Lusa

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1 Comment

  1. “da família mais chegada,
    é que se leva a maior pedrada”
    diz a sabedoria do povo.
    Assim acontece a Marcelo.
    Tanta dedicação à família, para acabar rendida ao seu pior inimigo.
    O que fazer? Inundar de água o “chão salgado”, ou bota sal nisso?
    Quiçá ambas as duas, em defesa das selfies, em crise.

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