Um dos discos rígidos apreendidos a Rui Pinto, que foi desencriptado pelo criador do Football Leaks e identificado pela Polícia Judiciária (PJ) como RP3, tinha 488 caixas de correio configuradas, indicou o especialista José São Bento.
A parte da tarde da 8.ª sessão do julgamento, no Tribunal Central Criminal de Lisboa, foi totalmente ocupada pela audição do elemento da unidade de combate ao cibercrime e criminalidade tecnológica da PJ e teve um cariz fortemente técnico, com a análise de ficheiros e programas de software encontrados no disco que consubstanciavam os acessos aos sistemas informáticos das entidades nomeadas na acusação a Rui Pinto.
José São Bento explicou que o criador do Football Leaks não só tinha as credenciais, mas também os certificados digitais necessários para contornar os mecanismos de verificação dos sistemas informáticos de algumas entidades atacadas, como a Federação Portuguesa de Futebol (FPF), a sociedade de advogados PLMJ, a Procuradoria-Geral da República (PGR), o Sporting ou o fundo de investimento Doyen.
“Encontrámos linhas de execução de instalação de software que permite explorar debilidades e fazer o rastreamento a equipamentos e a nível de rede”, referiu o especialista da Judiciária, que identificou ainda “programas para capturar credenciais” e “protocolos de transferência de ficheiros” naquele disco: “Encontrámos registos de acesso inequívoco à FPF e capturas de ecrãs das credenciais dentro do sistema da PLMJ”.
Segundo José São Bento, havia também registos dos processos de interceção de credenciais, sobretudo através do redirecionamento da informação para páginas de internet similares àquelas que os utilizadores procuravam e que, na verdade, permitiam a recolha dos dados de acesso. Por exemplo, em relação à FPF, foi destacado um “acompanhamento continuado” de Rui Pinto, que atualizou mesmo a página quando a Federação fez alterações no site.
A audição do especialista da PJ foi de tal forma técnica, que, em determinados momentos, foram notórios os olhares de perplexidade de juízes e advogados, aos quais se somaram algumas gargalhadas quando a juíza assistente Ana Paula Conceição resumiu a limitação dos conhecimentos informáticos do coletivo de juízes: “Nós é mais homicídios.”
O julgamento do processo Football Leaks prossegue na próxima terça-feira, com a continuação da audição de José São Bento.
O MP acusou Rui Pinto, de 31 anos, de 147 crimes, 75 dos quais de acesso ilegítimo, 70 de violação de correspondência, um de sabotagem informática e um de tentativa de extorsão, por aceder aos sistemas informáticos do Sporting, da Doyen, da sociedade de advogados PLMJ, da FPF e da Procuradoria-Geral da República.
Rui Pinto está a ser julgado por 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por tentativa de extorsão ao fundo de investimento Doyen.
Rui Pinto, que desde 8 de abril se encontrava em prisão domiciliária e proibido de aceder à Internet, está agora numa casa-abrigo do programa de proteção de testemunhas.
ZAP // Lusa