Carla Nunes destaca a importância do uso equipamentos de proteção individual na retoma do normal funcionamento da sociedade, por entender que estes não inibem comportamentos habituais.
As pessoas devem continuar a usar máscara de proteção em espaços fechados e manter as restantes medidas sanitárias contra a covid-19 no futuro próximo, defende a diretora da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP).
Apesar de a atual fase do plano de desconfinamento do Governo para o controlo da pandemia prever o fim da obrigatoriedade da utilização de máscara em espaços públicos, cuja lei está em vigor até dia 12, Carla Nunes argumenta que está em causa uma relação “custo-benefício” na continuidade do uso deste equipamento de proteção individual que se devia manter.
“Em espaços fechados as pessoas devem continuar a ter a máscara, a ter o distanciamento, a lavar as mãos e a abrir sempre as janelas. São medidas que, de alguma forma, não nos inibem totalmente de retomarmos a nossa vida: podemos continuar a trabalhar, a sair, a ir ao cinema e retomar a maior parte das coisas que fazemos”, afirma a líder da ENSP, acrescentando: “Estas medidas não são limitativas da nossa vida, somente aborrecidas”.
Recorrendo ao barómetro covid-19, produzido pela instituição que lidera e cujos dados têm sido partilhados ao longo da pandemia nas reuniões realizadas no Infarmed entre especialistas e políticos, Carla Nunes reforça que o maior problema nas restrições adotadas nunca esteve, sequer, nas máscaras, mas sim na limitação das situações de confraternização com amigos ou familiares e adianta que 85% dos inquiridos só esperam um regresso à normalidade em 2022.
“Todos sabemos que isto tem de ser um compromisso e, se nós usarmos algumas destas restrições, é mais provável que não tenhamos de dar passos atrás. Voltaremos a ser os mesmos com outras medidas e outros cuidados, mas acho que é urgente retomarmos a nossa atividade como um todo. Temos de voltar ao nosso trabalho com as devidas adaptações: as máscaras, o distanciamento, os rastreios e os testes estarão dentro dessa normalidade”, frisa.
Questionada sobre o relacionamento entre os especialistas e os decisores políticos, a epidemiologista e matemática — que esteve sempre presente nos encontros efetuados na sede da autoridade do medicamento para a análise da situação epidemiológica – reconhece que é um processo que também passou por diferentes fases, mas não deixa de salientar a “abertura positiva” e que especialistas e dirigentes políticos tinham papéis distintos.
“É positiva a audição dos peritos e também é positivo que seja aberto ao mundo. Há determinados temas que, pela sua complexidade, por vezes, depois precisam de ser maturados a outros níveis que serão, com certeza, onde nós não estamos”, observa, continuando: “Os especialistas dizem o que acham e o Governo faz o que quer, ouvindo estes e outros especialistas e não havendo nenhum tipo de condicionamento externo nesta relação”.
Já em relação à postura da Direção-Geral da Saúde (DGS) e as suas diferenças durante a pandemia, a diretora da ENSP da Universidade Nova de Lisboa nota que a covid-19 representou também uma “grande aprendizagem” para a instituição liderada por Graça Freitas e que as diferentes fases exigiram mudanças nem sempre fáceis na estratégia de comunicação.
“Houve uma primeira abordagem: toda a gente muito informada de qualquer pormenor, todos os dias e a todas as horas”, refere, admitindo um “excesso de informação” da DGS.
Por outro lado, destaca a entrada de outros atores neste processo, como a ‘task-force’ responsável pelo plano de vacinação, algo que entende como cada vez mais necessário, uma vez virada a página da pior fase da pandemia: “Temos de mudar os atores, porque não podem ser sempre os mesmos a falar em mortes e no dia seguinte a falar de vacinas”.