DiCaprio explica como reverter a crise climática

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Ice on Fire é um documentário HBO produzido e narrado pelo ator norte-americano Leonardo DiCaprio que retrata a atual crise climática. A grande produção foi discutida esta segunda-feira em Lisboa, onde se falou do contexto nacional e das possíveis soluções a adotar.

O documentário mostra como a ciência pode não só explicar os fenómenos que levam ao aquecimento global, como também solucioná-los. Leonardo DiCaprio explica-nos que vivemos uma crise climática. O gelo do Ártico está a derreter a uma velocidade recorde e as temperaturas estão a aumentar mundialmente, tudo devido à ação humana ao longo dos últimos anos.

Ice on Fire começa por explicar como a excessiva concentração de dióxido de carbono e de metano na atmosfera está a contribuir para isto. Mas o mais importante é que apresenta soluções, ou até formas de reverter a crise climática.

As soluções passam por grandes mudanças. Recorrer a 100% às energias renováveis; plantar árvores ou outras formas de vida (como algas marinhas que podem conter o carbono nos oceanos); ou até devolver o CO2 ao solo, transformando-o em pedra.

Estas soluções, refere o documentário, só podem ser conseguidas com esforços conjuntos de pessoas, comunidades, empresas e nações. Além disso, o relógio não pára de contar e a cada dia que passa as mudanças climáticas são notáveis. Assim, Leonardo DiCaprio encoraja-nos a tomar medidas agora.

Um puzzle para resolver o aquecimento global

A sessão de visionamento de Ice on Fire foi promovida pelo Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (BCSD Portugal). Na segunda-feira, foi na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, que a ciência, o setor privado e a juventude se encontraram para discutir a crise climática, partindo do documentário da HBO.

Moderado por João Meneses da BCSD Portugal, o debate contou com Francisca Salema, estudante e ativista organizadora da Greve Climática Estudantil, António Martins da Costa, responsável pela Direcção de Sustentabilidade do Grupo EDP e Gonçalo Vieira, professor no IGOT e coordenador do Programa Polar Português.

José Sá Fernandes, responsável pelos pelouros do Ambiente, Estrutura Verde, Clima e Energia da CML também marcou presença, como espectador.

Para João Meneses, a solução para os problemas climáticos é um puzzle com cinco peças claras que podem mudar tudo. “A primeira peça evidentemente somos todos nós, cada um de nós individualmente nos nossos comportamentos, nas nossas opções e decisões, em cada dia e em cada minuto“, explicou.

A segunda peça é a ciência ou o conhecimento, a terceira é o setor público “que tem de ser capaz de legislar e de investir”. O setor privado é a quarta peça: “precisamos que o setor privado mude, altere modelos de negócio“. A quinta é uma das mais importantes, “a inspiração que todos precisamos de ter”.

Como Portugal vê a crise climática

Para a jovem ativista Francisca Salema, a crise climática é um assunto urgente que põe a nossa existência em risco. “Olhamos para este problema das alterações climáticas como se nos estivessem a roubar o futuro”, diz. “Não temos muitos anos para agir”, acrescenta.

Já Gonçalo Vieira, professor e investigador, relembra como esta crise vai além do clima.”É talvez mais grave do que a questão climática só, é uma questão de superpopulação na Terra, de grande peso na utilização dos recursos e é muito mais complexo ainda do que é apresentado neste documentário“, esclarece.

António Martins da Costa, responsável pela sustentabilidade na EDP, relembra como é necessário que haja incentivos para que possa haver mudança. “Os incentivos têm de ser dados em primeiro lugar pelo poder público, em termos de legislação, quer em termos de regulação, para que todos os agentes, sejam eles cidadãos comuns, sejam eles as empresas, se guiem e orientem no sentido que isso se inverta“, explica.

Como podemos mudar

Prevê-se que em 2050 existam 10 mil milhões de pessoas a viver no planeta. Será possível que todas elas vivam bem e tenham qualidade de vida? O que é preciso mudar para que isso aconteça?

Algumas das soluções práticas podem passar por colocar um preço nas emissões de CO2, segundo Martins da Costa, não só na área da energia, mas também dos transportes ou da indústria. Acrescenta ainda que a eficiência energética, a eletrificação do consumo e a aposta em energias renováveis podem contribuir para a mudança.

A nossa alimentação também tem impacto nas alterações climáticas e terá de mudar. Em janeiro falava-se de uma dieta sustentável para alimentar o mundo em 2050, reduzindo o consumo da carne. O uso do solo e a mobilidade humana também podem fazer a diferença.

Gonçalo Vieira afirma que o poder político tem de aplicar medidas que obriguem as pessoas a mudar. “Não podemos viver da forma como estamos a viver”, refere o investigador. Defende ainda que o mundo ocidental tem de mudar drasticamente os seus hábitos. Isso passa também por uma transferência de riqueza dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento.

O impacto da mudança individual e coletiva

Estima-se que para atingir a neutralidade carbónica em Portugal até 2050, será necessário um investimento de 2 mil milhões de euros por ano entre o setor público e privado. Isso só será possível com estratégias conjuntas, entre cidadãos, empresas e investigadores.

“Eu acredito que só os três juntos, ou seja, só a juventude, as boas empresas e a ciência, os três juntos, é que conseguem fazer alguma coisa para mudarmos isto”, disse Sá Fernandes durante o debate.

O que fazemos individualmente tem impacto, ainda que reduzido se comparado com as grandes empresas. Para haver mudança, tem de haver um esforço coletivo. Muitos indivíduos fazem um mundo de pessoas, o importante é que haja a preocupação e a vontade de mudar.

Ice on Fire fez parte da Seleção Oficial do Festival de Cannes, onde se estreou em maio de 2019. O documentário narrado e produzido por Leonardo DiCaprio foi realizado por Leila Conners e está disponível na HBO Portugal.

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