A Direcção Geral de Saúde (DGS) está no olho do furacão pelo facto de não divulgar o parecer técnico sobre a vacinação das crianças dos 5 aos 11 anos. E há quem avance que a directora-geral de Saúde, Graça Freitas, pode ter recebido “orientação política” para não o fazer.
Após a polémica em torno da não divulgação do parecer técnico que está a basear a recomendação da DGS para a vacinação contra a covid-19 das crianças dos 5 aos 11 anos, a entidade divulgou um resumo do mesmo. Uma decisão que só vem agravar as dúvidas e as suspeitas em torno do que constará no documento.
“Não faz sentido que a DGS esconda um parecer em que há especialistas que, certamente, dizem que a vacinação pode não ser recomendada” em todas as crianças, para lá das que têm comorbidades, conforme já notou o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC na sigla original em Inglês), aponta a investigadora em comunicação para a Saúde, Isabel de Santiago, em declarações ao Observador.
Esta especialista reconhece que o tema é “delicado”, mas defende que a DGS devia divulgar o parecer técnico em nome da “transparência” e da “verdade.
“A directora-geral porque tem orientação política, está a esconder o parecer de forma interesseira, e isso vai gerar um ruído e uma confusão junto das famílias”, nota ainda a investigadora que foi candidata do Iniciativa Liberal ao Círculo eleitoral de Lisboa.
“A partir de um pequeno nó cria-se uma montanha e uma avalanche que vai explodir na porta da DGS”, acrescenta Isabel de Santiago.
Será que DGS não quer adesão à vacinação?
Para a investigadora, é evidente que o resumo publicado “só põe a DGS em maus lençóis”, uma vez que a “crítica já está a tomar um contorno político inaceitável“.
Isabel de Santiago refere que é “lamentável” que o caso esteja a ser usado como “propaganda política”.
“Ou se fala com transparência e verdade, ou cria-se aqui uma nuvem muito grande, mais uma, em torno da própria DGS”, vinca também, fazendo referência a uma estratégia de comunicação que considera “errada” desde há muito tempo na entidade de Saúde Pública.
Isabel de Santiago acredita que todo este “ruído” em torno do parecer vai levar ao “condicionamento do processo de vacinação das crianças”, pois acredita que “as pessoas não vão aderir”. “Será que é isso que a DGS pretende?”, questiona mesmo.
Representante dos pais aponta dedo a Costa
Da parte dos encarregados de educação, o presidente da Confederação das Associações de Pais (Confap), Jorge Ascenção, assume que a ocultação do parecer “aumenta a desconfiança” em torno da vacinação dos mais pequenos.
“Esta pouca coerência na informação não ajuda à tranquilidade de que precisamos”, aponta Jorge Ascenção em declarações à Rádio Renascença (RR).
“É bom que possamos ter informação clara, que seja coerente e que transmita tranquilidade”, vinca ainda o dirigente da Confap que deixa algumas farpas ao primeiro-ministro António Costa pelo facto de o Governo já ter encomendado as vacinas para as crianças, mesmo antes do parecer técnico pedido pela DGS.
“Quando fez o anúncio [da encomenda das vacinas], já tinha informação que nós vamos tendo paulatinamente ao longo destes últimos dias”, nota Jorge Ascenção.
“Agora sabemos que, afinal, há pareceres que recomendam, mas era bom que o primeiro-ministro dissesse que já conhecia esses pareceres ou então, obviamente, ficamos na expectativa”, conclui o responsável da Confap.