Debate dos Ruis: um no escorrega, outro “muito mal” na habitação

ZAP // José Coelho, André Kosters / Lusa

Rui Tavares estreou-se nos debates televisivos, Rui Rocha falou pelo terceiro dia seguido. Ambos tremeram num debate “muito aborrecido”.

Ao terceiro dia de debates televisivos, a estreia de Rui Tavares (Livre) e o terceiro debate de Rui Rocha (IL), o único que apareceu nos ecrãs dos portugueses em todos os dias até agora, nos debates para as legislativas.

Como seria de esperar, reinou o desacordo na conversa transmitida pela CNN Portugal.

A IL quer colocar a economia portuguesa a crescer “perto de 4%” até 2028. Rui Tavares, que lembrou que as previsões económicas são arriscadas devido a uma possível guerra na Europa (ou outro episódio inflacionário), reagiu ironicamente: “O Rui Rocha há pouco dizia que tinha uma visão e acho que é uma visão muito clara: de um arco-íris e um cofre de moedas de ouro no fim. Porque é dizer: ‘se nós crescermos a 4% fazemos isto tudo'”.

Ainda na economia, Rui Rocha criticou a ideia do Livre de criar um imposto sobre a automação das empresas: “O que o imposto de automação implica é que quando se passou do sinaleiro para os semáforos, o Rui Tavares queria taxar o semáforo para proteger o sinaleiro. E quando se passou dos pombos correio para o e-mail, o Rui Tavares queria taxar o e-mail para proteger os pombos correio. Isto é impedir o progresso tecnológico em Portugal”. Rui Tavares apontou: “É bastante grave que defenda que quem substitui um trabalhador humano por um robot, deve ser de borla e ainda devemos ajudar a ser feito”, reforçando que Portugal deve ter uma agência de Inteligência Artifical.

Quando se falou sobre a saúde, Rui Rocha salientou que o utente deve poder escolher se quer ser tratado no sector público ou privado, dando o exemplo da Alemanha. Rui Tavares tem outro rumo e não gosta de fezadas: “Eu quero que todas as pessoas entrem de cara levantada num hospital (…). E eu não troco isso por uma aposta, uma fezada, um sistema misto que o Rui Rocha diz que vai ser o da Alemanha mas que pode ser o da Bulgária, que também é misto, e deu as piores taxas de vacinação da Europa, e não troco isso por sistemas privados onde as pessoas vão à falência se tiverem uma doença grave”.

Na habitação, Rui Tavares quer um maior parque de habitação público, menos compras de milionários – o mercado está a pender para o “segmento de luxo” – e manter o imposto de selo. Também salientou que é preciso ajudar os mais vulneráveis – e, neste assunto, a comentador Raquel Abecasis disse na CNN Portugal que o porta-voz do Livre esteve “muito mal” no debate porque não explicou como resolveria o problema. Rui Rocha voltou a falar sobre a ideia de 250 mil casas até 2028 e acrescentou: “Para quem não tem condições, o Estado deve intervir, não se deve fazer acção social à custa de proprietários”.

Ainda neste assunto, Rui Tavares voltou aos tempos de criança para entrar num parque infantil: Rui Rocha parece “um miúdo que só quer andar no escorrega (da descida de impostos) e depois fica muito chateado porque percebe que tem de subir as escadas”.

Logo no início do debate, Rui Tavares lamentou que até agora, nos outros debates, nunca se falou sobre educação, ciência, juventude e quase nada sobre ambiente. Ou seja, nunca se falou sobre o “futuro”. Neste debate tentou trazer – embora ao de leve – dois temas inéditos nesta semana inaugural: contexto internacional e Inteligência Artificial.

No geral, espreitando o jornal Expresso, Rui Tavares levou a melhor num debate “muito aborrecido e inútil”. E Rui Rocha voltou a não explicar, com detalhe, de onde viria o dinheiro para o anunciado choque fiscal proposto pela IL – e atrapalhou-se um pouco ao mostrar exemplos de outros países sobre o rendimento básico incondicional, quando o assunto era a semana de quatro dias. Rui Tavares tremeu sobre a saúde, com ideias pouco concretas.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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