ZAP // Tiago Petinga, António Cotrim / Lusa

Embora disputem quase o mesmo eleitorado, a conversa desta quinta-feira foi a mais civilizada entre todos os debates para as legislativas de 18 de maio que aconteceram até agora. Mas muito possivelmente, também foi a mais vazia.
Logo no arranque do debate entre o PAN, de Inês de Sousa Real, e o Bloco de Esquerda de Mariana Mortágua marcou-se o passo amigável, com elogios mútuos sobre… a roupa escolhida para o frente-a-frente e mais “bicadas” ao ausente André Ventura do que entre si.
“Cumprimento pela escolha de roupa que é muito parecida com a minha, quer dizer que temos bom gosto”, apontou Mariana Mortágua sobre o amarelo-preto cruzado usado pelas duas líderes partidárias.
As tarifas do “bully” e “vestir a camisola de Portugal”
Em referência à suspensão das novas tarifas dos EUA contra a União Europeia, que fez o mesmo, e à resposta do Governo português, o Bloco acredita que “aumentar as tarifas como retaliação só fará com que toda a gente viva pior, pagando mais pelas importações que fazem dos Estados Unidos”.
A resposta portuguesa está, segundo Mortágua, em “taxar os gigantes tecnológicos”, referindo-se à taxa Musk apresentada pelo partido.
“Trump é um bully que se comporta como um bully e quer chantagear os países da Europa, e na verdade os vários países do mundo, para conseguir impor as suas políticas económicas. E a pior coisa que nós podemos fazer a um bully, chame-se-o Donald Trump ou André Ventura, é ceder”, como, exemplifica “ceder à chantagem de comprar gás aos EUA”.
E aí, Mortágua tentou logo furar para a crise da habitação, que “será certamente o maior contributo que se pode dar para evitar uma recessão”.
Sousa Real acredita que a resposta do Governo “é um pouco requentada em relação ao programa de economia que já tinha apresentado há pouco menos de um ano”.
“Temos de proteger a nossa economia de vestir a camisola de Portugal“, partindo logo ao ataque ao líder do Chega, André Ventura, “que prefere colocar-se ao lado não só de um bully mas de um lunático como Donald Trump cuja conduta vai ter um efeito devastador na economia se for avante”
E também Inês de Sousa Real rapidamente puxou a brasa à sua prioridade, alterações climáticas, criticando as opções do governo e as medidas anunciadas: “os fundos do PRR para a transição verde e economia verde são mais de 429 milhões de euros que estão por executar”.
A porta-voz do PAN acredita que Trump “não se vai ficar” pelas tarifas, referindo o “rasgar” do Acordo de Paris e o “momento tão difícil para os direitos das mulheres”.
“É mentira que haja uma invasão iminente”
Mariana Mortágua voltou a defender a pés juntos aquilo que defendeu no debate contra Pedro Nuno Santos, e que lhe mereceu duras críticas: que a “é falso que a Europa precise de mais armas” e que “é mentira que haja uma invasão iminente”.
“UE e Europa exportam armas e produzem armas para vender para fora (…) a UE tem as armas que precisa para se defender e para a Ucrânia se defender, e tem armas que ainda sobram” para enviar para, por exemplo, os Emirados Árabes Unidos ou Catar, afirmou.
“A Putin basta que os seus aliados na UE ganhem, não precisa de invadir” a Europa, e lembra que o líder russo “não chegou a Kiev”.
“É verdade que as democracias estão sob ataque, mas esse ataque é interno. Esse ataque é o ataque da extrema-direita, da manipulação das eleições. Putin não precisa de invadir a França para dominar as políticas em França. Basta-lhe que Le Pen ganhe as presidenciais porque é a sua aliada”, disse a líder do Bloco.
“A UE impediu um acordo de paz, disse que não é tempo de paz”, sublinhou Mortágua, citando o novo chanceler alemão — e numa aproximação clara ao PCP neste assunto: “mais armas geram mais armas”.
O PAN lembrou que não quer o fim do apoio à Ucrânia, nem mesmo do fornecimento de armas, além do humanitário, mas Sousa Real reforça que “para cada euro que a Europa invista em armamento, há soluções que já foram propostas por outros países, em que se garanta que existe também um investimento do ponto de vista social”.
“Não cabe a Portugal comprar mais armas”, disse, chegando-se a Mortágua. “Portugal tem neste momento outros desafios, como a crise da habitação, cujas políticas falharam redondamente nos últimos anos, como a crise climática ou até mesmo a questão dos direitos humanos e da proteção animal”.
“Aquilo que a Europa tem de facto que garantir é uma autonomia energética, e aqui com a produção da energia limpa à energia verde”, repetiu.
O teto das casas, outra vez (sem explicação)
Mortágua voltou a defender a proposta de pôr um teto nos preços das casas, atirando os mesmos números que atirou antes — que os preços aumentaram 4 vezes mais do que a média da zona euro (como confirma a Eurostat) e que as pessoas gastam mais de 40% do seu rendimento em habitação.
Voltou também a referir o exemplo da Holanda e Alemanha, sem explicar exatamente como o aplicaria por cá. “A prova cabal que resulta é que os preços nesses países estão a descer ou não estão a subir, como os preços em Portugal”. Mais tarde, explicou o modelo holandês, mas não discutiu os seus resultados.
Sousa Real partiu aqui pela primeira vez ao ataque, lamentando “que o Bloco não tenha acompanhado o PAN” na reposição crédito bonificado para ajudar na aquisição de casa e o aumento do IMI de 3 para 5 anos. “Não é isso que nos separa”, respondeu Mortágua, referindo o aumento da isenção de IMI de 5 para 8 anos proposto pelo Bloco.
Sousa Real mais de pé atrás: “acompanhamos evidentemente que se taxe não só os lucros excessivos, mas pelo contrário também: não podemos diabolizar o que é o empreendedorismo e a nossa economia, precisamos de incentivar do ponto de vista fiscal empresas com boas práticas, que sociais, quer ambientais.”
Isenção sobre produtos petrolíferos: o ponto forte de Sousa Real
A isenção “só beneficia as grandes petrolíferas e empresas como a Galp, que não só são empresas que mais lucram à conta do sacrifício e do salário dos portugueses que têm que pagar mensalmente esses custos, como também não precisam desse tipo de apoio”, referiu Sousa Real, reforçando mais uma vez que o PAN defende o financiamento de passes gratuitos para todos os utentes e “uma maior aposta no reforço dos transportes públicos e da ligação da ferrovia a todas as capitais de distrito”, usando o dinheiro dos impostos sobre os produtos petrolíferos.
Mortágua criticou “o erro” da proposta do PAN de fazer descer o IRC de 21% para 17%: iria beneficiar a banca.
Acordo à esquerda?
Concordando que a violação deve ser crime público, as duas líderes partiram para eventuais acordos à esquerda.
Mariana Mortágua não responde a uma união ao PS e diz que tem um “programa muito claro” e destacando mais uma vez as “convergências” com o PAN.
Inês Sousa Real aproveitou mais uma vez para criticar os deputados do Chega e a sua atuação no Parlamento.
Se com os outros já andamos mal imagine-se com estas… Por momentos imaginei duas galinhas a disputar a pertença dos ovos e depois dividem-nos, em seguida culpam uma outra galinha que causa alvoroço no galinheiro cheio de galinhas velhas e outras depenadas como se tivessem vindo de alguma trincheira ou festival. Se de facto tivessem muito preocupadas com os portugueses nem se tinham juntado ao “Deu à Costa” para derrubar o governo. Estaria o preço da habitação onde está se não tivesse havido a Manifestação de Interesse? Até o nome da coisa gera suspeição.