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“Cristiano Ronaldo joga em Ceuta”. Marrocos enganou jovens para os empurrar para Espanha

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Antonio Sempere / AFP

Migrantes de Marrocos a chegar a Ceuta

A invasão a Ceuta de milhares de marroquinos, nos últimos dias, foi impulsionada por mensagens falsas espalhadas pelos telemóveis de jovens e adolescentes a anunciar que Cristiano Ronaldo ia jogar naquele território espanhol. Um plano vingativo que terá sido engendrado por Marrocos para pressionar Espanha.

O jornal El Faro de Ceuta assegura que um suposto jogo de Cristiano Ronaldo em Ceuta foi tornado “viral entre crianças e jovens para provocar a debandada em direcção à fronteira com a Espanha”.

Vários adolescentes de Castillejos, cidade marroquina situada próximo de Ceuta, receberam a mensagem nos seus telemóveis e saíram a correr rumo a Ceuta, com os guardas fronteiriços a receberem ordens para os deixarem passar.

Este é o cenário que terá provocado a crise migratória que se abateu sobre Ceuta, onde chegaram milhares de pessoas nos últimos dias, entre as quais muitos menores desacompanhados.

Marrocos planeou tudo para “castigar Espanha”

O jornal espanhol El Mundo nota que Marrocos não facilitou apenas a passagem dos jovens pela fronteira, mas que “planificou” tudo para que o maior número de menores passasse rumo a território espanhol.

Foi uma acção para “desestabilizar mais Espanha” por não poder devolver estes menores não acompanhados por adultos ao seu país de origem.

Marrocos tentou causar todo o dano possível a Espanha”, sem recear “os riscos” de lançar jovens e crianças rumo à fronteira, aponta ainda o El Mundo, lembrando que um dos jovens que atravessou, de 18 anos, morreu.

A publicação considera ainda que Marrocos “quis castigar Espanha por acolher o líder da Frente Polissário, Brahim Ghali”, que está a ser tratado à covid-19 num hospital espanhol, e “porque não apoia o seu plano de anexação do Sahara”.

Há crianças de 5 anos que chegaram sozinhas

Nas salas de aulas em Castillejos, quase só há meninas porque os rapazes fugiram todos para Ceuta. Muitos pais estão desesperados sem saberem dos filhos porque eles partiram sem dizer nada. Para alguns dos miúdos, foi como uma brincadeira.

“Muitos viram que havia gente a correr, disseram que tinham aberto a fronteira, que era como uma festa, e fugiram”, conta um residente de Castillejos ao El Faro de Ceuta.

Entre segunda-feira e quarta-feira, chegaram a Ceuta cerca de 1500 jovens e adolescentes, sobretudo com idades entre os 10 e os 18 anos. Mas também há crianças de 5 anos que fugiram sozinhas, segundo o referido jornal.

Agora, Espanha não pode simplesmente devolver os menores desacompanhados. E como não têm documentos, os pais têm de fazer prova de que são seus filhos para poderem recuperá-los.

É mais um problema no meio de uma crise migratória sem fim à vista.

Cerca de 700 menores foram acolhidos num centro próximo da praia do Tarajal, onde muitos chegaram. Mas como o espaço não tem condições para todos, alguns estão a ser transladados para outros locais.

Centenas tentaram saltar cerca de Melilla

Entretanto, a frustração de centenas de jovens adultos já devolvidos a Marrocos está a provocar confrontos com a polícia do país. As autoridades estão a organizar viagens de autocarro desde Rabat para os devolverem às suas cidades de origem, com o intuito de aliviar a pressão e os conflitos.

Também há jovens que estão a voltar para casa pelo próprio pé, caminhando cansados, com fome e revoltados.

Enquanto isso, continua a haver quem se arrisque a atirar-se ao mar, na esperança de chegar à Europa através de Ceuta.

Nesta madrugada, centenas de marroquinos tentaram saltar a cerca dupla que separa Melilla, cidade autónoma espanhola, de Marrocos. O El Mundo fala de uma “avalanche” de pessoas com “vários grupos numerosos” ao longo de diferentes pontos da fronteira.

Apesar da presença do Exército, dezenas de pessoas terão conseguido passar, mas não se sabe quantas.

Cerca de 10 mil marroquinos chegaram a Ceuta entre segunda-feira e quarta-feira, segundo o El Mundo.

As forças policiais espanholas continuam a intensificar a fiscalização pelas ruas de Ceuta, tentando identificar os imigrantes que chegaram nos últimos dias. O objectivo é devolvê-los a Marrocos.

Susana Valente, ZAP //

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