Sierra Space

Avião espacial Dream Chaser, da Sierra Space
A chave para uma nova geração de tratamentos contra o cancro, capazes de salvar vidas, pode estar em cristais cultivados no espaço. A startup Sierra Space, com sede no Colorado, está quase pronta para lançar o seu avião espacial reutilizável, o Dream Chaser.
A nave espacial Dream Chaser, da Sierra Space, está preparada para levar à órbita (e trazer de volta) uma impressora 3D projetada por engenheiros da gigante farmacêutica Merck.
Se o teste correr bem e o processo de reentrada do Dream Chaser na atmosfera terrestre for suficientemente suave para manter a frágil carga em segurança, este poderá ser o início de algo muito grande.
O dispositivo da Merck vai imprimir, em órbita, cristais microscópicos que podem abrir a porta ao desenvolvimento de uma nova geração de tratamentos médicos.
Quando falamos em cristais espaciais, pode parecer que se trata de algo que um amante de astrologia penduraria no seu quarto para o ajudar a dormir; mas há realmente uma ciência por detrás.
De acordo com o Laboratório Nacional da ISS, os cristais cultivados no espaço são simplesmente melhores: “Os cientistas levantam a hipótese de que os benefícios observados resultam de um movimento mais lento e uniforme das moléculas em uma estrutura cristalina em micro gravidade”.
A investigação sobre anticorpos monoclonais aponta para a cristalização como sendo um processo fundamental para o desenvolvimento de mecanismos de administração subcutânea mais estáveis.
Teoricamente, as dispendiosas sessões de quimioterapia poderiam ser substituídas por injeções que o paciente poderia auto administrar em casa.
Parece ficção científica, mas na verdade a investigação sobre cristais espaciais começou no início dos anos 80, primeiro em voos espaciais pontuais e, pontualmente, no vaivém espacial.
O mítico vaivém espacial era, nas últimas duas décadas do século XX, considerado o transportador orbital de baixo custo dos Estados Unidos, mas esse nunca foi o caso. Os custos que a NASA tinha por missão ultrapassavam um valor estimado de 1,5 mil milhões de dólares.
O processo era assim demasiado caro, mesmo na indústria farmacêutica, onde os lucros trimestrais costumam chegar a sete ou mais dígitos.
A ascensão recente da SpaceX e outros concorrentes reduziu substancialmente estes custos, baixando o custo de envio de cargas para o espaço para um misero valor de 2 mil dólares por quilograma.
Contudo, a resolução desse problema apenas, não ajuda a solucionar o principal problema, a reentrada: é preciso trazer os medicamentos de volta à Terra. Se vamos até à órbita apenas para cultivar algumas estruturas ultra finas, não queremos que elas se partam em pedaços no regresso.
Em conversa com o The Verge, Tom Marshburn explica: “é como uma colisão de carro a uma velocidade de 32 km/h contra o solo”, em relação à experiência de aterragem de uma cápsula como a Dragon, a nave da SpaceX.
Tom Marshburn é um dos principais astronautas da Sierra Space e vice-presidente da empresa. Antes disso, foi astronauta da NASA e já voou no Space Shuttle, na Soyuz e na Dragon.
A Sierra e a sua aeronave reutilizável, Dream Chaser, estão agora preparadas para resolver os dois problemas, o custo e o regresso, de uma só vez.
Reentrada Fácil
O Dream Chaser tem algumas vantagens importantes em relação ao programa original de vaivém espacial da NASA.
Para começar, é visivelmente menor do que o vaivém, cerca de apenas 1/4 do comprimento, cabendo no compartimento de carga de um foguete Vulcan da ULA (United Launch Alliance), sem a necessidade de ter 2 diferentes tipo de tanques, propulsores de combustível líquido e sólido e a infinidade de equipamentos especializados — que frustraram qualquer esperança de rentabilidade do vaivém.
Ao contrário do antigo vaivém, o Dream Chaser não necessita de uma pista com 5 km: “ele pode fazer uma aterragem com precisão em qualquer lugar onde um 737 possa aterrar, uma pista com cerca de 2 km”, diz Marshburn.
No entanto, a maior mudança é que a nave não vai levar tripulação a bordo. — pelo menos para já.
O Dream Chaser nasceu do programa “Commercial Crew Transportation Capabilities” (CCtCap), uma competição que também incluiu a cápsula Dragon da SpaceX e a cápsula Starliner da Boeing. A NASA selecionou dois vencedores, e a Sierra Space teve a “sorte” de ficar em terceiro lugar.
No entanto, a NASA acredita que o projeto tem potencial e ofereceu contratos de carga orbital suficientes para fazer valer a pena relançar o Dream Chaser.
Segundo a agência norte-americana, o design do Dream Chaser oferece algumas vantagens, especialmente quando existe uma forte hipótese de entrarmos numa era focada na exploração espacial pelo setor empresarial.
“Uma cápsula como a Dragon da SpaceX, devido às leis da física e à sua forma, apenas consegue reentrar com metade do que leva”, afirma Meagan Crawford, fundadora e sócia-gerente da SpaceFund.
O Potencial da Micro Gravidade
Por enquanto, o projeto com a Merck é uma prova de conceito: uma impressora 3D com uma série de tubos e cápsulas. Quando chegar à ISS, um astronauta girará algumas válvulas e, em seguida, a mistura resultante do processo será transportada de volta à Terra para ser examinada por alguém da Merck.
Marshburn explica que cargas trazidas pela Dragon ou a Soyuz, muitas vezes passam dias em barcos ou camiões até que possam ser recuperadas; a Dream Chaser, pelo contrário, foi projetada para que a carga seja descarregável apenas uma hora após a aterragem.
O teste da Merck vai tentar fazer uma aterragem suave e a recuperação rápida da carga, de forma a garantir que o projeto tem potencial, embora a ISS esteja prestes a ser desativada: até ao final da década, será descontinuada, e uma Dragon especial da SpaceX irá buscá-la à sua órbita e trazê-la de volta à Terra, onde encontrará o seu local de eterno descanso no fundo do Pacífico.
Para combater esse problema, a Sierra Space está a posicionar os seus próprios módulos orbitais infláveis como uma alternativa comercial, que não esteja presa ao futuro da ISS.
O desenvolvimento de medicamentos espaciais não é a única carta na manga da Sierra, que também já esta a trabalhar numa parceria com a Honda para levar uma célula de combustível de última geração ao espaço.

O Dream chase está limitado ao transporte de cargas, mas os avanços do projeto podem reabrir as portas para o transporte de seres humanos, diz Marshburn: “a qualquer momento, poderemos aproveitar o trabalho já feito para repensar nisso.”
O primeiro Dream Chaser está agora a passar pelos testes finais da NASA — à espera de poder seguir viagem para a ISS ainda este ano.