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A crise da inflação está a arrastar a Europa para uma guerra pela comida

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Stephen Jaffe / IMF / Flickr

Christine Lagarde, presidente do BCE

Christine Lagarde, presidente do BCE

A subida dos preços dos alimentos está a obrigar os países europeus a adoptar várias medidas e a apertar a fiscalização contra a especulação.

A inflação está a abrandar em toda a zona euro, mas os preços dos alimentos continuam altos. Se em Portugal, as culpas desta contradição estão a ser atiradas aos supermercados e a ASAE já está a apertar a fiscalização, esta não é apenas uma realidade portuguesa.

Em França, a inflação desacelerou para 6,6%. No entanto, os preços dos alimentos dispararam 16%. A realidade na Alemanha é semelhante, com a inflação na comida a chegar aos 20%.

Os preços da comida estão a subir a um ritmo inédito desde a Segunda Guerra Mundial, de acordo com a economista Maartje Wijffelaars do Rabobank Group. O preço do açúcar, por exemplo, atingiu um novo pico em mais de uma década na semana passada, relata a Bloomberg.

O anúncio surpresa da OPEP de um novo corte na produção petrolífera deve levar a uma subida dos preços da energia e agravar ainda mais a inflação nos alimentos. A situação está a causar instabilidade social, desde protestos a greves que exigem aumentos salariais para os trabalhadores poderem suportar as subidas dos preços.

Uma das medidas a ser adoptada é o corte nos impostos. Espanha avançou com a medida em finais de Dezembro, e depois de meses a rejeitar a proposta, Portugal acabou por também eliminar temporariamente o IVA num cabaz de produtos essenciais com cerca de 40 alimentos. Os preços dos bens alimentares por cá está a subir mais de 20% de ano em ano.

Mas Pedro Sánchez está sob pressão depois de as subidas dos preços terem absorvido o benefício do corte do IVA para os consumidores, especialmente tendo em conta que Espanha vai a votos este ano. Os parceiros de coligação do Podemos têm defendido a fixação dos preços e um desconto de 15% em 20 bens básicos.

Já a Polónia está a manter o imposto sobre a comida no zero na primeira metade deste ano e está a debater prolongar a medida. O Governo de Itália está também a estudar cortes nos impostos de alimentos básicos, como o pão, leite e massa.

Há outros países que estão a apostar em fixar limites para os preços dos alimentos. A Hungria é um exemplo, tendo introduzido limites no início de 2022. No entanto, a inflação nos alimentos disparou quase 50% desde então.

Este limite levou a que os supermercados tivessem de vender os bens com prejuízo, o que fez com que compensassem esta perda com uma subida noutros produtos. O retalho também começou a racionar alimentos na proximidade do Natal, criando uma escassez artificial para os consumidores.

Viktor Orbán, o primeiro-ministro húngaro, afirmou na semana passada que estas medidas ajudaram a combater a inflação, mas que também sujeitam a cadeias de abastecimento a uma “intervenção artificial”.

Em Portugal, o Governo disse desde logo que o IVA zero só iria beneficiar os consumidores caso haja um acordo com o sector da distribuição. O mesmo está a acontecer em França, onde o Governo de Emmanuel Macron — que está actualmente sob imensa pressão devido aos protestos contra o aumento da idade da reforma — negociou um acordo com os supermercados para que a criação de que identifiquem produtos essenciais com descontos e preços em conta.

Portugal está também a estudar a criação de um selo que comprova se os preços dos alimentos são justos e se as subidas recentes se justificam.

 

 

A supervisão mais apertada aos supermercados também está a avançar. Por cá, a ASAE lançou uma mega-operação de fiscalização a toda a linha de produção para entender em que fase é que o grande aumento de preços se dá e se estas subidas são justificadas. Já foram instaurados 25 processos-crime por especulação.

O Governo espanhol também começou a convocar reuniões mensais com as lojas, as empresas de transporte e os produtores alimentares para perceber o que explica a subida dos preços e tentar garantir que os cortes fiscais se traduzem em descidas.

Na Suécia, os supermercados também estão sob fogo e as três maiores cadeias de retalho do país, que representam 90% do mercado alimentar, foram chamadas para reunir com a Ministra das Finanças. O Governo vai também reforçar o financiamento da entidade fiscalizadora.

Adriana Peixoto, ZAP //

2 Comments

  1. Penso que cá o preço dos bens essenciais subiram mais de 30’%, ás vezes por 50% ou mais.
    Durante guerras, os ricos ficarão ainda mais ricos e os pobres ainda mais pobres.
    Exatamente como durante a paz (ou seja, entre 2 guerras).
    Só que com um ritmo muito mais elevado.
    Esse é a realidade. E os ricos escolhem os políticos que terão de dançar como os ricos cantam. Por exemplo, em França – fraternité, liberté, egalité – só aqueles podem se candidatar para presidência quais recebem assinaturas suficientes de apoiantes: ricos, empresários, gente influentes. O que o povo pensa e quer não importa.

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