Grande parte das amostras de doentes com COVID-19 moderada a grave tinha vestígios do vírus no esperma até 110 dias após o diagnóstico. Cientistas alertam especialmente aqueles que tentam conceber: aguardem seis meses.
O vírus SARS-CoV-2, responsável pela pandemia da COVID-19, pode persistir no esperma até 110 dias após a infeção inicial, revelou um estudo publicado no Andrology a 12 de março.
O estudo — que envolveu a recolha de amostras de sémen de 13 pacientes com COVID-19, com idades compreendidas entre os 21 e os 50 anos, internados no Hospital das Clínicas de São Paulo, no Brasil — mostrou que 72,7% das amostras dos doentes com COVID-19 moderada a grave continham vestígios do vírus nas células espermáticas.
Estes pacientes, cuja análise foi realizada até 90 dias após a alta, ou 110 dias após o diagnóstico, apresentavam sintomas que variavam de leves a graves.
Curiosamente, até mesmo um paciente com sintomas leves mostrou sinais do vírus no esperma, e duas amostras apresentaram anormalidades estruturais no esperma semelhantes às observadas em outros pacientes com COVID-19.
Esta descoberta levou os investigadores a concluir que 11 dos 13 pacientes ainda tinham sinais persistentes de SARS-CoV-2 no seu esperma, no final do período de estudo.
O papel do esperma na imunidade
O autor do estudo, citado pelo IFL Science, explica ainda que os espermatozoides afetados produziram “armadilhas extracelulares” a partir do ADN nuclear, um processo em que o material genético é expelido para fora da célula, formando redes que prendem micróbios nocivos.
Este fenómeno, que normalmente faz parte da resposta inflamatória sistémica, sugere que os espermatozoides podem participar ativamente nos mecanismos de defesa do organismo durante infeções como a COVID-19.
A presença do vírus no esperma pode ter implicações para a fertilidade masculina e para a saúde da descendência, e as pessoas que estão a recuperar do vírus e que estão a pensar em conceber devem adiar os planos durante, pelo menos, seis meses, avisam os investigadores.