Até agora, a pandemia de covid-19 foi menos mortal do que algumas das ondas mais letais de gripe dos últimos anos, de acordo com os dados da Direcção-Geral da Saúde (DGS). Mas, ainda assim, a infecção provocada pelo coronavírus levou a um aumento das mortes no país.
Portugal conseguiu evitar o cenário trágico de países como Espanha e Itália, onde as mortes devido à covid-19 chegaram a triplicar a mortalidade verificada em picos de gripe em anos anteriores.
A DGS conta 2.700 mortes por semana no pico da covid-19, o que constitui um número inferior ao registado no início do ano e desde 2017 nos picos da gripe, de acordo com dados divulgados pelo Jornal de Negócios.
Este resultado terá sido conseguido devido às medidas de confinamento impostas pelo Governo a 19 de Março.
Mas, ainda assim, a covid-19 teve um impacto no aumento da mortalidade em Portugal nos últimos meses. Em Março e Abril, morreram 21 mil pessoas, mais 13% do que a média registada no mesmo período entre 2009 e 2019, segundo os dados divulgados pelo Negócios.
O total de mortes desde o início do ano foi de 48,5 mil pessoas, mais 1% do que em 2019 e mais 6% do que a média entre 2009 e 2019.
“Este ano tivemos um inverno ameno. Sentimos algum impacto na mortalidade relacionado com a epidemia de gripe. No entanto, a partir de Março, detectámos um padrão de mortalidade diferente porque em vez de baixar, como seria natural, aumentava ligeiramente, e isso foi reportado às autoridades. Esse fenómeno foi ainda mais intenso em Abril”, explica ao Negócios a médica Ana Paula Rodrigues do Departamento de Epidemiologia do Instituto Ricardo Jorge, em Lisboa.
Esta especialista nota que “tivemos períodos de excesso de mortalidade, sobretudo nas regiões mais abrangidas pela epidemia e tudo indica que este padrão esteja relacionado com a covid-19″.
Todavia, a médica conclui que “em Portugal, travou-se o curso normal da epidemia” com as medidas de confinamento decretadas pelo Governo.
Confinamento salvou vidas e evitou colapso do SNS
O confinamento salvou vidas e evitou o colapso das unidades de cuidados intensivos dos hospitais públicos, mas é preciso continuar a capacitar serviços para eventuais novas fases da covid-19, nota secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales.
Segundo o estudo da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), o número de doentes graves com covid-19 internados nas unidades de cuidados intensivos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) seria o triplo na primeira quinzena de Abril sem o confinamento imposto pelo Governo em 19 de Março.
“Sem o ‘lockdown‘ decretado pelo Governo em meados de Março de 2020, as unidades de cuidados intensivos dos hospitais do SNS teriam tido que atender, entre 1 e 15 de Abril, uma avalanche de 748 doentes graves com covid-19, três vezes mais do que os 229 que precisaram desse tipo de cuidados”, lê-se na análise divulgada pela ENSP da Universidade Nova de Lisboa.
Para os investigadores da ENSP, “nesse cenário, as 528 camas de cuidados intensivos de que o SNS dispunha na altura poderiam não ter sido suficientes para atender a todas as necessidades, como aconteceu em Itália e em Espanha”.
“A acção antecipada deu tempo para o SNS adquirir equipamentos de protecção, aumentar a capacidade de testar e lidar com o aumento da procura hospitalar e de cuidados intensivos causada pela pandemia”, analisa ainda o estudo.
Os especialistas referem que “Portugal actuou cedo ao decretar o ‘lockdown‘ quando ainda só tinha registado 62 casos e nenhum óbito“, e que “os portugueses aderiram de forma efectiva às medidas de confinamento decretadas pelas autoridades, reduzindo a sua mobilidade em cerca de 80%”.
De acordo com o estudo, as medidas de confinamento contribuíram para que, nos primeiros quinze dias de Abril, Portugal tivesse registado menos 5.568 casos (-25%) de covid-19, menos 146 mortes (-25%), e menos 519 (-69%) internamentos em unidades de cuidados intensivos do que seria de esperar se não tivesse sido decretado o confinamento.
Portugal contabiliza 1.369 mortos associados à covid-19 em 31.596 casos confirmados de infecção, segundo o boletim diário da DGS divulgado na quinta-feira, 28 de Março.
O número de pessoas hospitalizadas subiu de 510 para 512, das quais 65 se encontram em unidades de cuidados intensivos.
O número de doentes recuperados é de 18.637.
ZAP // Lusa
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Com isto se prova que, cada vez mais, se torna imperioso investir, a sério, no SNS, (sem PPP). Só ele nos pode valer em situações de crise como esta! Não tenhamos dúvidas! E não sabemos quantas se seguirão!