Tanto o primeiro-ministro como Marcelo Rebelo de Sousa concordam em não abrir o precedente de fazer luto nacional de figuras militares. Dos militares de Abril, apenas Spínola teve direito por ter sido Presidente da República.
O Presidente da República está de acordo com o Primeiro-Ministro. No último Domingo, o governo decidiu não decretar luto nacional pela morte de Otelo Saraiva de Carvalho, já que outras figuras importantes do 25 de Abril – como Salgueiro Maia ou Ernesto Melo Nunes – também não receberam essa homenagem.
De acordo com uma fonte de Belém citada pelo Expresso, essa diferença de tratamento “ia levantar perguntas sobre porquê este e não aquele, quando o Otelo ainda é quente”. Recorde-se que Marcelo emitiu uma nota pela morte do capitão de Abril referindo que foi uma figura que causou “profundas clivagens” na sociedade portuguesa.
“Um dos mais activos Capitães de Abril, exerceu funções muito relevantes durante a revolução e candidatou-se à Presidência da República em 1976. Afastado do poder na sequência do 25 de novembro de 1975, viria a ser considerado, pela Justiça, envolvido nas FP25, condenado e amnistiado”, escreveu, referindo que Otelo “suscitou paixões, tal como rejeições” e que “é ainda cedo para a História o apreciar com a devida distância”.
Manuel Alegre tem uma posição contrária à de António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa. “Se Mário Soares fosse vivo e tivesse poder, decretaria luto nacional pela morte do Otelo. Acho que a morte dele merece luto nacional”, disse o socialista ao DN.
Questionado pelo Expresso sobre a questão, o Presidente da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril, preferiu não dar a sua opinião. “Não sou a pessoa indicada para dizer isso. Não ficaria surpreendido se tivesse sido decretado, mas não quero comentar. Os militares de Abril não estão na moda há muito tempo”, revela.
Não há tradição de se declarar luto nacional por figuras militares, à excepção de António Spínola em 1996, que teve direito às honras por ter sido Presidente da República.
Segundo o Expresso, os governos portugueses decretam luto nacional por políticos, como Mário Soares ou Álvaro Cunhal; figuras religiosas, como o Papa João Paulo II ou o Cardeal D. José Policarpo; personalidades da cultura, como Amália Rodrigues ou José Saramago e figuras internacionais, como Nelson Mandela ou Samora Machel.
Marcelo Rebelo de Sousa vai estar mais logo presente na capela da Academia Militar, por volta das 16h30. O corpo de Otelo Saraiva de Carvalho encontra-se em câmara ardente até às 22 horas e vai ser levado amanhã para o funeral em Alcabideche, com uma missa restrita à família e pessoas próximas.