Cortar A1 Lisboa-Porto e a linha do Norte. Autarca de Coimbra incentiva protesto “de força”

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Miguel A. Lopes / Lusa

José Manuel Silva

José Manuel Silva, presidente da Câmara Municipal de Coimbra

Cortar a A1 Lisboa-Porto e a linha do Norte como medida drástica para que o Itinerário Principal 3 (IP3) seja transformado em autoestrada. É isto o que propõe o presidente da Câmara de Coimbra aos autarcas daquela região e de Viseu. 

A ideia lançada por José Manuel Silva visa incentivar os autarcas da zona a actuarem “todos” juntos e a serem “consequentes nas acções reivindicativas, cortando o trânsito na linha [ferroviária] do Norte e na autoestrada A1″, conforme diz à agência Lusa o presidente da Câmara de Coimbra.

José Manuel Silva entende que “os autarcas desta região ainda não se motivaram suficientemente – e por isso têm responsabilidades naquilo que se passa – para aceitar o desafio da Câmara Municipal de Coimbra“.

Com este tipo de acção “faz-se sentir a verdadeira acção, intervenção e empenho dos autarcas da região”, defende ainda o autarca de Coimbra.

Em declarações prestadas no IP3, no final da chamada “descida do Botão”, local que não hesita em classificar de “perigoso”, José Manuel Silva observa que, na questão rodoviária, a engenharia “tem soluções para tudo”.

“É uma questão de financiamento, porque é claro que os custos [de construir uma autoestrada] não são os mesmos. Mas o IP3 e esta região merecem esse investimento”, considera também José Manuel Silva.

O autarca defende o prolongamento até ao IP3 da autoestrada do Pinhal Interior (A13), que faz a ligação entre a A23, no Entroncamento, passando por Tomar, até à zona de Ceira, a sudeste de Coimbra, e que liga à A1 em Condeixa-a-Nova.

Também pretende o prolongamento da A14 Figueira da Foz – Coimbra até Viseu, incorporando o atual troço de 75 quilómetros do IP3, que seria, assim, transformado “em verdadeira autoestrada”.

Autarca de Coimbra defende “acções de força”

“A retórica nada resolve“, nota José Manuel Silva a propósito da intenção, manifestada à Lusa, do presidente da Câmara de Viseu e da comunidade intermunicipal (CIM) Viseu Dão-Lafões, Fernando Ruas, de reunir com a sua congénere da Região de Coimbra para tomarem uma posição conjunta sobre o IP3.

“É perder tempo. Se é só para retórica, não contem com a nossa presença”, aponta o autarca de Coimbra, apelando a “acções concretas de reivindicação forte, acções de força, para exigir respeito para com esta região”.

Longa história de promessas por cumprir

Já Fernando Ruas mantém a esperança de que “finalmente” o IP3 possa ser “devidamente requalificado”. E isso passa por ter “quatro vias a unir as duas principais cidades do interior”, declara.

O autarca de Viseu recorda o historial das promessas de obras no IP3 nas últimas duas décadas, destacando o sucedido em 2008, quando o então primeiro-ministro José Sócrates anunciou a criação de uma autoestrada, com direito a placa a assinalar a data na Câmara Municipal de Mortágua, onde se mantém, sem que o projecto tenha avançado.

Sobre a intervenção agora programada para o IP3, a decorrer até 2027, com o início das obras em 2024 no troço entre Santa Comba Dão e Viseu, mas maioritariamente (20 dos quase 28 km) no concelho de Tondela, Ruas discorda da escolha para fazer a duplicação inaugural.

“Ocorre exactamente num troço que é aquele que tem menos problemas“, defende o autarca.

“Eu quero a obra, só que quem tem responsabilidades políticas tem de definir prioridades. Era muito mais importante e mais prioritário onde há estrangulamentos, que é na zona de Penacova”, argumenta.

“O IP3 já nasceu torto”

Em Penacova – município que, juntamente com Coimbra, recebeu em 1991 o primeiro troço, com 24 km de extensão – o presidente da Câmara, Álvaro Coimbra, lembra que o IP3 “já nasceu torto”, quando foi construído, com “altos níveis de sinistralidade, quase desde o minuto zero, o que levou a que houvesse muita contestação em relação ao seu traçado e à forma como ele foi desenhado”.

O crescente número de acidentes graves, nomeadamente com colisões frontais, levou à colocação, a partir do final da década de 1990, de um separador central em betão, em toda a extensão do troço que atravessa o concelho de Penacova.

“Diminuiu muito a sinistralidade neste troço, sobretudo aqui na zona de Penacova, mas é uma adaptação que se tornou quase definitiva. Ou seja, temos um traçado mais estreito em algumas zonas, o que dificulta o trânsito, sobretudo nas ultrapassagens entre pesados e ligeiros”, observa Álvaro Coimbra.

Para o autarca, o maior problema do IP3 tem sido a “derrapagem nos prazos” de obra.

“O Governo tem anunciado, nos últimos anos, uma intervenção para duplicação de 85% do traçado entre Coimbra e Viseu, mas esse calendário tem vindo a ser sucessivamente atrasado”, destaca Álvaro Coimbra.

O autarca lamenta ainda que há “milhões e milhões de fundos comunitários” aplicados para “muitas autoestradas sobretudo no litoral”, e que depois “temos duas capitais de distrito, Coimbra e Viseu, que deviam, desde há muito tempo, ter uma ligação de autoestrada” e “não têm”.

“Uma lacuna de há muitos anos”

Quem também defendeu a criação de uma autoestrada no IP3 é o presidente do município de Santa Comba Dão, Leonel Gouveia.

Para este autarca “não faz sentido” existirem vias com aquelas características entre Coimbra e a Figueira da Foz (a A14) e outra de Viseu para norte, por Vila Real, até à fronteira de Vila Verde da Raia (A24), e que “as duas cidades daqui da Beira” não tenham “uma ligação com perfil de autoestrada”.

“É uma lacuna de há muitos anos, que vem a ser sucessivamente adiada pelos vários Governos”, mas “é imperioso” que a obra “se conclua rapidamente”, defende Leonel Gouveia.

Por outro lado, o autarca quer que sejam resolvidos “rapidamente” os constrangimentos do troço que vai “do sul de Santa Comba Dão até à passagem pelo concelho de Penacova”, uma das zonas mais sinuosas do traçado do IP3, onde chega a existir, no sentido Coimbra-Viseu, uma zona em que se circula pela berma, junto a um separador de betão.

Depois, há ainda as questões relacionadas com o trânsito local, que em algumas zonas do distrito de Viseu se confunde com o próprio IP3, nomeadamente onde o Itinerário Principal foi construído utilizando partes da Estrada Nacional 2.

Isto “condiciona naturalmente a circulação” e “é necessário, rapidamente, lançar os segundos concursos, para que esta obra se concretize na sua plenitude”, sublinha Leonel Gouveia.

ZAP // Lusa

3 Comments

  1. Foi das primeiras promessas de Costa. Já lá vão 8 amos. Rebuçados é com ele, investimentos não. Palavra dada, palavra não honrada. Este indiano só engana os menos atentos ou bajuladores ou subsídio-dependentes.

  2. Um aldrabão… disse que não poderia recuperar os anos de serviço dos professores uma vez que tinha de fazer escolhas, as obras no IP3 seriam a escolha! Até ameaçou demitir-se caso fosse aprovada a recuperação do tempo de serviço dos professores… mais uma mentira e tentativa de manipulação da opinião pública por parte deste sem vergonha… até a Ana Gomes disse que só Freud seria capaz de explicar esta embirração com os professores!

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