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Coreia do Norte importou milhões de dólares em bens de luxo apesar da proibição da ONU

KCNA / YONHAP

O líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un

A Coreia do Norte não pode importar bens de luxo. Mas um relatório da C4ADS – organização sem fins lucrativos que analisa conflitos e transações mundiais – concluiu que o país importou pelo menos 191 milhões de dólares (cerca de 170 milhões de euros) em bens de luxo entre 2015 e 2017, provenientes de 90 países.

Segundo avançou o Observador esta quarta-feira, foram precisos vários meses, milhares de quilómetros e paragens na China, Japão, Coreia do Sul e Rússia. Mas dois Mercedes-Maybach S600 Guard acabaram por chegar a Pyongyang, Coreia do Norte, comprados por Kim Jong Un.

Só que, por ordem das Nações Unidas e como castigo pelo desenvolvimento de armamento nuclear, a Coreia do Norte está proibida de comprar bens de luxo. Portanto, a importação desses bens de luxo constituiu uma total violação do decreto das Nações Unidas.

Os dois Mercedes – avaliados em 500 mil dólares (cerca de 445 mil euros) cada um – entram nessa lista. Kim Jong Un tem também uma limusina avaliada em um milhão de dólares (cerca de 891 mil euros). Na garagem, o líder da Coreia do Norte guarda ainda um Rolls-Royce de luxo.

O relatório da C4ADS foi redigido com base numa investigação de oito meses. O jornal New York Times juntou-se à organização e juntos analisaram dados das alfândegas, de transportadoras e imagens satélite de zonas portuárias.

Os dois Mercedes partiram inicialmente de um porto em Roterdão, Holanda, em 2018. Foram transportados dentro de um contentor durante 41 dias até à China. Passaram depois para o Japão e seguiu-se a Coreia do Sul. Com a mudança de portos, mudavam também os navios. Na Coreia do Sul, um navio – que pertence a empresário russo já acusado de evitar sanções – recolheu os Mercedes. Quando este cargueiro iniciou a sua viagem, tornou-se um “navio-fantasma”: desligou o sistema de localização e desapareceu dos radares.

Dezoito dias mais tarde, o navio voltou a ligar o sistema de localização. Mas os carros desapareceram e tinham já sido substituídos por um carregamento de carvão. Os Mercedes foram deixados dias antes num porto russo e terão sido transportados para a Coreia do Norte de avião, explicou a investigação do New York Times.

As entidades envolvidas no transporte destes produtos usam vários navios, portos e jurisdições para baralhar as autoridades e assim evitar sanções internacionais.

Contactada pela CNN, a Daimler (empresa que detém a Mercedes), afirmou que não sabe por que meios os carros em questão chegaram à Coreia do Norte. “A nossa empresa não tem negócios com a Coreia do Norte há mais de 15 anos e segue estritamente os embargos da Europa e dos Estados Unidos”, justificou.

A C4ADS deixou alguns alertas e explicou que a questão vai muito além da compra de carros e artigos de luxo. Esta investigação levou o New York Times a questionar o quão eficazes serão as sanções das Nações Unidas para impedir Kim Jong Un de levar avante as suas ambições nucleares e se o líder norte-coreano pode estar a utilizar este sistema de transporte para importar armamento.

TP, ZAP //

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