Convenção do Bloco arrancou com uma sátira e com recados (e muito charme) ao PS

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Manuel de Almeida / Lusa

Arrancou em Matosinhos, neste sábado, a XII Convenção do Bloco de Esquerda com Catarina Martins a atacar o Governo, mas também a piscar os olhos ao PS para um possível novo entendimento à esquerda. A abrir as hostilidades, foi exibido um vídeo com uma sátira ao Novo Banco.

É “a primeira” Convenção do Bloco no distrito do Porto, como fez questão de sublinhar Catarina Martins no discurso de abertura.

Mas antes dessa intervenção da coordenadora do BE, foi exibido um vídeo com uma sátira às audições aos devedores do Novo Banco, que decorreram nos últimos dias, com Luís Filipe Vieira e Ricardo Salgado a aparecerem em corpos de peixes e a engolirem notas.

Depois desse primeiro mote em tom de crítica, Catarina Martins abriu a porta a novas negociações com o PS antecipando já o próximo Orçamento de Estado (OE).

Não actuamos por ressabiamento, não temos estados de alma, não ficamos zangados pelo facto de o PS ter fechado a porta a uma solução de estabilidade para quatro anos”, apontou a líder bloquista.

“No Bloco nunca desistimos do que propomos e não falamos por falar”, acrescentou em jeito de recado aos socialistas, frisando que o seu partido não faz “publicidade de ideias” e só quer “decisões”. “Não queremos promessas, queremos soluções”, vincou ainda.

Catarina Martins admitiu também que o Bloco “abrirá outra porta” ao PS, mas avisou que “não abdica de conseguir já as medidas que são urgentes”.

À chegada à Convenção, a deputada Mariana Mortágua também admitiu negociações com o PS na preparação do OE para 2022. Mas “as negociações com o PS não são um fim em si mesmo”, apontou em declarações à TSF, salientando que “há muito tempo” ainda para isso.

“Fogo de artifício” do Governo com o Novo Banco

Contudo, no seu primeiro discurso na Convenção, Catarina Martins tratou também de apontar o dedo aos socialistas a propósito das últimas legislativas.

“Como explicou António Costa em entrevista ao Expresso e cito, ‘um Bloco forte significa ingovernabilidade’, ou, como disseram outros dirigentes do PS, era preciso salvar o Governo das pressões da esquerda. Nada foi mais importante para o PS do que atacar a esquerda nessas eleições”, acusou a líder bloquista.

Catarina Martins também criticou o Governo pelo que “não cumpriu” no OE 2021 apesar dos “bons compromissos para o SNS [Serviço Nacional de Saúde]” conseguidos pelo esforço do Bloco nas negociações.

“Não se pode perder tempo nem recursos nesta emergência que vivemos”, atirou ainda em mais uma farpa ao Executivo. Um Governo que se anda a “gabar de ter poupado 7 mil milhões de euros dos orçamentos de 2020”, salientou, criticando que “a última das prioridades era poupar no orçamento quando há tanta gente aflita e que pagou os seus impostos”.

Catarina Martins ainda acusou o Governo de ter feito “fogo de artifício” com o Novo Banco quando falou numa “bomba atómica”, sabe-se lá porquê”, admitindo travar novas injecções públicas no Fundo de Resolução.

A coordenadora do BE ainda destacou que o Tribunal de Contas deu “razão” ao seu partido, considerando que “a administração do banco cobra o que não pode e todos os pagamentos são dinheiro dos contribuintes”.

Assim, os portugueses estão a “ser assaltados enquanto desfilam os depoimentos dos figurões que espatifaram centenas de milhões de euros e que acham que nunca têm que os pagar”, reforçou. “Desgraçado do nosso país se não tiver quem faça frente a estes irresponsáveis”, acrescentou.

“O Bloco nunca se enganou neste combate e, se nunca nos calámos, foi porque não ignoramos nem esquecemos o que nos trouxe até esta crise”, notou ainda Catarina Martins, realçando que só com “esta persistência evitaremos novos assaltos”.

“Alternativa à esquerda contra o marasmo”

A líder bloquista apresentou o BE como a “alternativa à esquerda contra o marasmo”, “uma esquerda comprometida com as medidas que salvam vidas e que protegem empregos”, vincou.

Numa altura em que enfrentamos “a época mais difícil das nossas vidas” por causa da pandemia de covid-19, Catarina Martins deixou críticas aos anti-vacinas e à direita “para quem um euro de lucro vale mais do que uma pessoa contaminada”. “Mas a esquerda é de outra fibra e não troca vidas por negócios”, destacou.

Nos auto-elogios ao Bloco, a coordenadora do partido frisou que “houve quem lutasse contra a invisibilidade das vítimas da pandemia, as pessoas esquecidas pela economia e desprezadas pelas burocracias, que são os desempregados, os pobres e os excluídas”.

Também enumerou as exigências que o BE fez no último ano, nomeadamente por “mais profissionais de saúde, mais testes, mais vacinas, mais medidas preventivas, protecção do salário e do emprego”.

“Vivemos dias de urgência”, concluiu, sustentando que é preciso assumir a “responsabilidade de construir uma resposta de esquerda para vencer as crises“.

Cinco moções em debate e menos delegados

Sob o lema “Justiça na resposta à crise”, o partido reúne-se até domingo no Centro de Desportos e Congressos de Matosinhos, com várias restrições sanitárias, desde logo a redução para 343 delegados, estando prevista a sua transmissão online.

Em debate estarão cinco moções de orientação política, tendo a eleição de delegados acontecido no passado fim-de-semana, com a moção A (da actual liderança) a conseguir 233, a moção E (promovida pelos críticos do movimento Convergência) 66, a moção Q nove delegados, a moção C oito lugares, enquanto a moção N ficou com cinco delegados.

As diferentes plataformas locais elegeram, no seu conjunto, os restantes 22 delegados.

Além das diversas intervenções que habitualmente marcam as convenções, serão discutidas as alterações aos estatutos e durante a tarde serão apresentadas as cinco moções.

Neste sábado, abrem igualmente as urnas para a eleição dos órgãos nacionais do BE, a Mesa Nacional e a Comissão de Direitos.

ZAP // Lusa

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