O misterioso líder do grupo está presente nas negociações para o novo governo e pode fazer uma rara aparição pública para anunciar o executivo. O Ministro Interino da Educação Superior já anunciou que as mulheres vão poder estudar nas Universidades, mas separadas dos homens.
Com a saída dos últimos militares americanos do Afeganistão marcada para amanhã, os talibãs estão a preparar-se para revelar o novo executivo do Emirado Islâmico. O grupo tem esperança de que a quebra da moeda e a crise económica instalada desde a tomada de Cabul acalme, avança Zabihullah Mujahid, porta-voz dos talibãs, à Reuters.
Mujahid apela também à continuação das relações diplomáticas com os Estados Unidos, apesar da resposta americana com drones depois dos atentados no aeroporto, que descreveu como “um ataque claro no território afegão”. O fim das negociações para o novo executivo ainda não é claro, mas o porta-voz aponta para daqui a “uma ou duas semanas”.
Sobre a possibilidade de mulheres serem incluídas no novo governo, uma intenção que os talibãs já tinham feito pública, Zabihullah Mujahid afirma que a decisão está nas mãos da liderança e que não pode antecipar qual será o veredicto.
As negociações estão a decorrer na cidade de Kandahar, com a presença do líder supremo do grupo radical – Hibatullah Akhundzada, conhecido como “comandante dos fiéis”, que está à frente dos talibãs desde 2016. Há cinco anos desapareceu, havendo suspeitas de que estivesse em Carachi, no Paquistão, e normalmente só envia mensagens nos dias sagrados, escreve o DN.
A Voice of America avança que o novo governo deve incluir membros do Rahbari Shura – o conselho de líderes dos talibãs, que é o principal órgão de decisão do grupo e é encabeçado pelo próprio Azhunzada. 33 das 34 províncias afegãs já têm governadores e chefes da polícia.
O executivo deve ter mais de 26 membros e incluir pessoas que não integram o conselho, mas ainda não há planos para abrir as portas a outros grupos de momento. “Não há acordo com nenhum dos outros líderes políticos para os incluir no governo”, refere Mujahid, que acrescenta que o grupo está a ter em conta as opiniões de antigos líderes mujahideen.
“De momento, a liderança talibã está a consultar diferentes grupos étnicos, partidos políticos e dentro do Emirado Islâmico sobre a formação de um governo que tem de ser aceitado tanto dentro como fora do Afeganistão e ser reconhecido”, afirmou Sher Mohammad Abbas Stanikzai, outro líder talibã, numa declaração televisiva no Sábado.
Hamid Karzai, ex-presidente afegão que esteve no poder de 2001 a 2014, assim como Abdullah Abdullah, que liderava o Conselho de Reconciliação Nacional, conversaram com os talibãs, mas as últimas notícias davam conta que estão em prisão domiciliária.
Sirajuddin Haqqani, líder da rede Haqqani, e Mullah Yaqoob, filho do fundador talibã Mullah Omar e responsável pelas operações militares, estão a ser apontados como possíveis Primeiros-Ministros. Está também na mesa tornar Haqqani Primeiro-Ministro e Yaqoob ficar como Ministro da Defesa.
Já são conhecidos os nomes do Ministro Interino da Educação Superior, Abdul Baqi Haqqani, e do responsável pela Federação de Desporto, Bashir Ahmad Rostamzai. Os ocupantes dos restantes cargos podem vir a ser anunciados pelo próprio Akhundzada, de quem só se conhece uma fotografia, mas ainda nada foi confirmado.
Mulheres nas universidades, mas separadas dos homens
Um dos primeiros anúncios do novo Ministro Interino da Educação Superior foi de que as mulheres vão poder frequentar as Universidades, mas em turmas separadas das dos homens. O ensino primário e secundário vai também continuar a ser separado.
Os afegãos “poderão continuar os seus estudos superiores segundo a sharia em segurança, sem que as mulheres e os homens estejam misturados” e vai ser criado “um programa de ensino islâmico e razoável” que respeita os “valores nacionais e históricos” e “capaz de rivalizar com os outros países”, anunciou Abdul Baqi Hazzani.
Esta decisão marca mais uma tentativa dos talibãs de passarem uma imagem mais aberta e moderada relativamente aos direitos das mulheres, em busca do reconhecimento da legitimidade pelos governos estrangeiros.
Recorde-se que entre 1996 e 2001, quando os talibãs controlaram o Afeganistão, a educação das meninas foi proibida, as mulheres foram barradas da esfera pública e obrigadas a ter acompanhamento de um homem para sair de casa e foram impostos castigos como o apedrejamento para as acusadas de adultério.