Os chefes de Estado e de Governo da NATO reúnem-se esta segunda-feira em Bruxelas para renovar os votos com a defesa coletiva e reforçar o compromisso de futuro da aliança transatlântica.
Será o primeiro encontro com Joe Biden, que já estava na Europa para participar na conferência do G7. A presença do Presidente norte-americano marca uma mudança de posição dos Estados Unidos em relação à NATO.
Num artigo de opinião publicado no The Washington Post a 5 de junho, o Presidente já tinha escrito que esta viagem à Europa tem como objetivo “realizar o compromisso renovado da América” para com os seus aliados e parceiros, num momento de incerteza e pandemia, “e demonstrar a capacidade das democracias de estarem à altura dos desafios e deter as ameaças da nova era”.
Esta é uma oportunidade para deixar para trás a sombra da ameaça de Donald Trump de tirar o país da Aliança Atlântica. É também o momento de repetir o empenho norte-americano com a lógica de “um por todos e todos por um”, escreve o Expresso.
Os últimos quatro anos de NATO ficaram marcados por uma crise existencial ou uma “morte cerebral” como lhe chamou o presidente francês. Contudo, Emmanuel Macron, que esteve estes dias com Biden na Cornualha, para a Cimeira do G7, mostra-se agora otimista quanto às relações e parceria transatlânticas.
Para além da renovação de votos, os líderes dos 30 membros da Aliança Atlântica vão discutir medidas concretas para adaptar o projeto aos novos desafios de segurança e defesa, através da nova Iniciativa NATO2030, que deverá ser aprovada, tal como a criação do Fundo de Inovação NATO.
Vão ainda falar de Rússia e do que consideram ser um “padrão de comportamento agressivo” – sem esquecer o apoio à Ucrânia e Geórgia e os episódios recentes a envolver a Bielorrússia.
Nas conclusões, deverá ficar também a preocupação com a ascensão militar da China e a divergência com os valores europeus.
Na agenda estão ainda as tecnologias disruptivas e os ciberataques.
“Mensagens muito duras ao presidente russo”
Na chegada ao evento que vai reunir os 30 líderes dos membros da NATO, Boris Johnson antecipou que Joe Biden irá levar “mensagens muito duras ao presidente russo, Vladimir Putin nos próximos dias”.
Boris Johnson referiu à CNN que está “esperançoso de que as coisas vão melhorar com a Rússia, mas admito que até agora tem sido muito dececionante do ponto de vista do Reino Unido”, acrescentando que a última vez que esteve com Putin “deixou isso muito claro”.
“Disse que estamos prontos para fazer as coisas de forma diferente, estamos prontos para tentar ter relações mais estreitas, mas eles tem que mudar a maneira como se comportam”, relembrou.
NATO não está a entrar numa nova “Guerra Fria”
O secretário-geral da NATO defendeu hoje que a Aliança não está a entrar numa “nova Guerra Fria”, mas precisa de se adaptar aos desafios criados pela China, que se está a “aproximar” do espaço euro-atlântico.
“Não estamos a entrar numa nova Guerra Fria, e a China não é o nosso adversário nem inimigo. Mas temos de responder juntos, como uma Aliança, aos desafios que a ascensão da China cria para a nossa segurança”, afirmou Jens Stoltenberg.
O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, na sigla em inglês) falava aos jornalistas à entrada para a cimeira da NATO, que decorre hoje em Bruxelas, e que irá reunir os chefes de Estado e de Governo da Aliança.
Sendo a China um dos temas que estará em cima da mesa durante a reunião entre os Aliados, Stoltenberg destacou que é “preciso falar com a China” em temas como o controlo de armas e as alterações climáticas, mas salientou também que a China “não partilha os valores” da Aliança.
“Vemos como têm reprimido manifestações democráticas em Hong Kong, como perseguem minorias no seu próprio país, como utilizam a tecnologia moderna, as redes sociais e o reconhecimento facial para monitorizar e vigiar a sua população de uma maneira que nunca tínhamos visto”, frisou o secretário-geral.
Acrescentando ainda que Pequim “tem investido fortemente em novas capacidades militares, incluindo capacidades nucleares” e “sistemas de armamento mais avançados”, Stoltenberg sublinhou que isso “importa” para a Aliança porque “nenhum país nem nenhum continente” consegue lidar com estes desafios “sozinho”.
“Precisamos de responder juntos, enquanto Aliança (…) e tem muito a ver com o que fazemos aqui, porque a China está a aproximar-se de nós: vemo-los no ciberespaço, em África, no Ártico, mas a China também está a investir massivamente na nossa própria infraestrutura crítica e a tentar controlá-la”, referiu o secretário-geral.
Ana Isabel Moura, ZAP // Lusa