Cientistas transformam moléculas em obras-primas de Mondrian

Uma equipa de investigadores do Trinity College desenvolveu um programa de computador que visualiza estruturas moleculares ao estilo artístico de Piet Mondrian, melhorando a compreensão da simetria molecular e oferecendo uma nova ferramenta educativa que funde arte e ciência.

O famoso artista holandês Piet Mondrian é amplamente considerado um dos maiores artistas do século XX.

O seu estilo artístico, caracterizado por blocos de cores primárias separados por linhas de várias larguras sobre um fundo branco, foi amplamente copiado e serviu de inspiração à cultura moderna.

Além disso, as suas obras de arte aparentemente simples cativaram os cientistas durante décadas, encontrando aplicações de nicho em domínios como a estatística e a matemática.

Agora, investigadores do Trinity College Dublin desenvolveram um programa de computador que visualiza estruturas moleculares ao estilo de Piet Mondrian, proporcionando uma mistura única de arte e ciência para explorar a simetria e a função moleculares.

Esta ferramenta inovadora, que pode ser acedida aqui, utiliza um algoritmo artístico que integra as leis da química, que descrevem a estrutura 3D de uma molécula com base nos seus componentes, com o estilo artístico 2D de Mondrian.

Os investigadores detalharam o seu trabalho num estudo recentemente publicado na revista Angewandte Chemie.

Mistura de arte e ciência

A ferramenta ajuda os cientistas a avaliar e demonstrar rapidamente a simetria molecular, permitindo uma visão mais profunda do que as representações tradicionais podem proporcionar.

Também oferece aos artistas imagens visualmente agradáveis com interpretações contrastantes da simetria, que podem inspirar a incorporação de ideias científicas no seu trabalho.

Senge, M.O. et al / Angewandte Chemie

“Há alguns anos que trabalhamos neste projeto, inicialmente por diversão, para produzir a estrutura de uma molécula de uma forma artisticamente agradável como uma pintura ao estilo de Mondrian”, explica Mathias O Senge, professor de Química Orgânica na Trinity e autor principal do estudo.

As ‘pinturas’ obtidas são únicas para cada molécula e justapõem o que Mondrian e outros pretendiam fazer com o movimento artístico De Stijl“, acrescenta o investigador, citado pelo Sci Tech Daily.

A simetria e a forma são aspetos essenciais da estrutura molecular e da forma como interpretamos as moléculas e as suas propriedades, mas muitas vezes as relações entre a estrutura química e os valores derivados são obscurecidas”, detalha Senge.

“Inspirando-nos nas Composições de Mondrian, representámos a informação de simetria codificada nos dados 3D como blocos de cor, para mostrar claramente como os argumentos químicos podem contribuir para a simetria.”

Impacto na compreensão molecular

Na química, é útil ter uma forma universal de apresentar a estrutura molecular, de modo a ajudar a “planear” o comportamento de uma molécula em diferentes ambientes e a forma como pode reagir e mudar de forma na presença de outras moléculas.

“Mas perde-se inevitavelmente uma certa quantidade de nuances”, explica por seu turno o primeiro autor do artigo, Christopher Kingsbury, investigador de pós-doutoramento que concebeu o projeto.

Este conceito de aumentar a abstração, removendo pequenos detalhes e tentando apresentar uma forma geral, é imitado pelos primeiros trabalhos de Mondrian e, em alguns sentidos, é o que os cientistas fazem intuitivamente quando reduzem fenómenos complexos a uma “verdade mais simples“.

“Graças à nossa nova abordagem, a ciência muito complexa é alimentada através de uma lente artística, o que poderá torná-la mais acessível a um maior número de pessoas”, conclui Kingsbury.

ZAP //

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