Cada um de nós está envolvido por uma “nuvem invisível” ou “aura” povoada por produtos químicos, fungos, bactérias e outras coisas. Uma nova pesquisa oferece uma visão por dentro desta nuvem.
“Temos medido coisas como a poluição do ar numa ampla escala, mas nunca ninguém mediu esta exposição biológica e química a um nível pessoal”, afirmou Michael Snyder, geneticista da Universidade de Stanford.
“Ninguém realmente sabe quão vasta é a exposição humana ou que tipo de coisas estão lá”, acrescentou.
Para descobrir o que se passa nesta “aura” ou nesta”nuvem” que nos rodeia, Snyder e a sua equipa projetaram um pequeno dispositivo, do tamanha de um baralho de cartas, para monitorizar o ar. Ao longo de dois anos, 15 voluntários usaram este dispositivo amarrado ao braço.
A pesquisa, publicada a 20 de setembro na revista Cell, serviu-se do dispositivo criado para aspirar o ar circundante na órbita do voluntário.
Tudo o que o dispositivo inalou – bactérias, vírus, substâncias químicas, fungos e todo outro tipo de partículas – foi extraído e o DNA e RNA das partículas foi sequenciado, quimicamente perfilado e catalogado num banco de dados personalizado.
O próprio Michael Snyder amarrou o dispositivo durante dois anos para, no final da experiência, a equipa poder recolher a maior quantidade de dados possível. Volvidos os dois anos, a equipa recolheu 70 mil milhões de leituras.
“Reunimos dados isolados suficientes de bactérias, vírus e fungos, e para descodificar na totalidade as exposições ambientais, construímos um banco de dados de mais de 40 mil espécies”, afirmou Chao Jiang, um dos membros da equipa.
Segundo os dados recolhidos, os participantes voluntários do projeto passaram o seu tempo em cerca de 50 locais diferentes na área de São Francisco e mesmo habitando o mesmo espaço por longos períodos de tempo, as assinaturas pessoais da exposição revelaram dados diferentes.
“Parece que, mesmo com deslocações muito curtas, temos perfis de exposição ou assinaturas muito diferentes”, contou Snyder, acrescentando que “todos nós temos a nossa própria nuvem de microbiomas que vamos libertando”.
O que compõe a nuvem de cada pessoa é, naturalmente, variável, mas inclui um grande número de traços da própria nuvem microbiana, além de outros aspetos como fungos e partículas que passam do ambiente exterior – animais domésticos, produtos químicos, plantas entre outros.
Os pesquisadores reconhecerem que isto é apenas o começo de uma pesquisa e, no estudo, apenas três elementos usaram o dispositivo de maneira extensiva, criando um limite para a confiança dos resultados obtidos até ao momento.
Contudo, a quantidade de dados expostos a partir desta técnica mostra que há uma enorme quantidade de informação que podemos aprender com o estudo da nossa própria “nuvem”.
Os pesquisadores disseram ainda que, caso a tecnologia fosse mais acessível, o dispositivo poderia tornar-se uma importante ferramenta de diagnóstico para a saúde.
“Queremos medir mais pessoas em ambientes mais diversos“, afirmou Snyder. “Queremos simplificar a tecnologia, idealmente ao ponto de qualquer pessoa poder medir as suas próprias exposições – algo como um smartwatch detetor de nuvens“.
Apesar de ser ainda cedo para a investigação retirar grande conclusões, uma nova era de transformações na saúde poderá estar a surgir – um novo paradigma que, para além de analisar os aspetos internos do corpo humano, investiga o aspeto mais exterior: a nuvem pessoal de cada um.
“Durante anos temos sequenciado os genomas das pessoas, testado o sangue e a urina, analisado os micróbios nos intestinos, tudo para entender como estas coisas afetam a saúde humana”, contou Snyder ao Wire.
“Mas tudo isto relaciona-se com o que está no interior do corpo. A única grande coisa que não temos perguntado é: a que é que estamos expostos?”, acrescentou.
ZAP // Science Alert
Com tanta matéria à nossa volta alguns mais descuidados devem portar uma química insuportável.