Cheias atingem campos no Bangladesh. Pelo menos seis refugiados Rohingya mortos

John Owens (VOA) / Wikimedia

O campo de refugiados de Kutupalong, no Bangladesh

Pelo menos seis refugiados Rohingya morreram após as cheias inundarem os campos de refugiados em Bangladesh nos últimos dias, destruindo os abrigos de bambu e plástico e deixando pelo menos 5.000 desabrigados, informou o Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

“Eles [refugiados] tiveram que fugir dos abrigos, levando (…) apenas [a roupa] que vestiam, porque a água estava a inundar [o local] muito rapidamente”, disse Yasmin Ara, fundadora do Fórum de Desenvolvimento de Mulheres Rohingya. “Precisam de apoio financeiro, alimentos e roupas, não têm o que vestir e não estão a receber auxílio médico”.

De acordo com o ACNUR, citado esta quinta-feira pelo Guardian, equipas de emergência estão a avaliar os danos e realocar as famílias.

As cheias afetaram o campo de refugiados de Kutupalong, aberto desde 1990 e expandido em 2017 em terreno irregular e sujeito a deslizamentos, tornando-se o maior do mundo, abrigando 700.000 Rohingya que escaparam de massacres militares em Myanmar.

Os ativistas têm alertado todos os anos para as chuvas sazonais e os ciclones em Bangladesh, que representam uma ameaça para os refugiados. O Conselho Norueguês de Refugiados disse que foram registados 300 deslizamentos de terra, deixando inundados os abrigos de 14.000 refugiados, número que provavelmente aumentará.

Após repetidos confinamentos, recentes surtos de coronavírus e um incêndio que, em março, deixou 48.000 refugiados desabrigados, há uma sensação entre estes de que estão a ser esquecidos, relatou o Guardian.

“Os responsáveis, a gestão do local e as ONG’s não estão a funcionar bem. Não é apenas um ano, são os três anos anteriores, isso está a acontecer e estamos a enfrentar a mesma situação repetidas vezes”, afirmou Khin Maung, fundador da Associação Juvenil Rohingya. “Nas últimas duas noites, as pessoas não conseguiam dormir. É como se vivêssemos num rio, não em terra”, acrescentou.

Os Rohingya afirmam que só voltarão a Myanmar quando a sua segurança estiver garantida e receberem a cidadania, mas a perspectiva de um retorno parece cada mais distante desde o golpe militar de fevereiro.

A pandemia restringiu o acesso aos campos de refugiados, mas o trabalho de ajuda humanitária também foi prejudicado por anos consecutivos de queda nas doações, com menos de um terço da meta de financiamento deste ano atingida.

“As cheias são uma janela para ver como os refugiados e a comunidade que os hospeda estão vulneráveis ​​a um clima em rápida mudança. Num momento de extrema necessidade, o financiamento continuou a diminuir. Disseram-nos que os doadores estão cansados. O custo dessa indiferença pode ser medido em vidas humanas”, apontou Jamie Munn, diretor do Conselho Norueguês para Refugiados em Bangladesh.

Taísa Pagno //

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