Não, o Chega e Ventura não são como os outros. Eis 12 diferenças

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Luís Forra / LUSA

André Ventura em campanha do Chega para as eleições legislativas 2024

Têm-se repetido as “conversas de café” que dizem que os outros partidos não são muito diferentes. Analisemos.

“Chega” tem sido uma palavra muito dita em conversas entre portugueses, sobretudo ao longo das últimas semanas, rumo às eleições legislativas deste domingo.

Talvez André Ventura esperasse (e quisesse) que houvesse mais “Chega” nos destaques dos jornais e no conteúdo dos discursos dos outros líderes partidários, ao longo da campanha oficial.

Mas, nas “conversas de café”, o assunto continuou a ser muito frequente.

Ouve-se cada vez mais a postura “vou votar no Chega, são sempre os mesmos a ganhar!”. Ou então “Vou votar no Chega, porque isso chateia. Quero chatear!”. Ou “vou votar no Chega, os outros são todos iguais”.

Esta última variante parte do princípio que o Chega não é como os outros. Que é mais transparente, que não tem corruptos, que não cede a favores, que não dá “tachos”, entre outros aspectos.

Por outro lado, o diálogo muda quando se fala sobre propostas concretas do partido: quando se pergunta onde o Chega vai buscar dinheiro para esta ou aquela medida (algo que Ventura não tem revelado, exceptuando os alegados 400 milhões de euros que quer tirar da “ideologia de género” para aumentar salários e pensões), na resposta costuma surgir o argumento “mas isso é como os outros, que também não apresentam contas”.

Ficam aqui 12 pontos que mostram que o Chega não é “como os outros”. Sendo que os “outros” são os partidos com, pelo menos, um deputado na Assembleia da República.

São propostas que só o Chega apresenta. E nestes termos.

1. Apreender bens
Olhemos para o programa eleitoral. E comecemos pela prioridade do Chega: combater a corrupção. O partido defende apreensão de bens de suspeitos, mesmo antes da condenação final.

2. Castração química
O partido quer introduzir no Código Penal a sanção acessória de tratamento para a inibição da líbido – ou seja, a castração química – de carácter temporário e para reincidentes.

3. Prisão perpétua
Outra das propostas para a Justiça é passar a haver prisão perpétua em Portugal; com possibilidade de revisão depois de cumprida uma parte da pena.

4. Símbolos
Ainda na Justiça, o Chega defende que os símbolos nacionais e de Justiça devem voltar aos tribunais portugueses, “recuperando mobiliário e objectos representativos da cultura portuguesa, promovendo o respeito nacional pelos tribunais, dignificando a sua imagem”.

5. Segurança
Uma das prioridades neste sector é dar mais armas e equipamentos a cada polícia: armas não letais, rádio, algemas ou tiras e colete à prova de bala. E rever o regulamento de uso da força e de recurso ao uso da arma de fogo. Noutro contexto: os filhos dos profissionais das Forças de Segurança deveriam ter vaga garantida nas creches públicas.

6. Habitação
O Chega quer abolir o Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) em casos de habitação própria permanente. Ventura já disse que “o IMI é o imposto mais estúpido do mundo”.

7. Educação
A disciplina Cidadania e Desenvolvimento não deveria ser obrigatória; o currículo dessa disciplina deveria ter “imparcialidade ideológica, priorizando a inclusão de conteúdos voltados para a literacia democrática e financeira”; e os seus professores deveriam ter “formação académica específica”. O Chega quer promover o “combate à cultura woke e ideologia de género que quer entrar na sociedade portuguesa através dos estabelecimentos de ensino”.

8. Imigração
O Chega quer controlar as fronteiras. Pretende estabelecer quotas anuais para a imigração assentes nas qualificações, nas reais necessidades do mercado de trabalho do país e nas mais-valias que os imigrantes possam trazer a Portugal. A Lei da Nacionalidade só poderia ser atribuída a quem conhecer a língua e a cultura portuguesas. E quer criar o crime de residência ilegal.

9. Família
O partido pretende “devolver à família a competência de educar, revendo o papel do Estado no Ensino, retirando todo o conteúdo doutrinal e/ou ideológico dos currículos escolares e dos organismos estatais de apoio ao Ensino”. E, repete, não quer ver os filhos “expostos a conteúdos e actividades que extrapolam os fins escolares, como é o caso de materiais de propaganda à ideologia de género”. Além disso, “nenhuma menina deve ser obrigada a ter que frequentar uma casa-de-banho com pessoas do sexo oposto”. Também quer “combater os estereótipos anti-família natural”.

10. Portugalidade
Lê-se no programa que uma ideia é: “Recusar a culpabilização histórica e protecção do património cultural, impedindo a sua devolução a países terceiros por puros motivos ideológicos, muitas vezes baseada numa visão unilateral dos eventos passados, que pode levar a simplificações e distorções que não fazem justiça à complexidade dos factos”.

11. Sistema político
O Chega defende que os deputados não deveriam ser 230, mas sim 100, no mínimo, com um máximo de 180 deputados. Os ministérios deveriam ser apenas 12.

12. Constituição
Aqui a prioridade é “limpar” a carga ideológica do texto: “Alterar o Preâmbulo no sentido de retirar a carga ideológica que ainda lá permanece, assim como noutros artigos do texto constitucional”.

André Ventura

O presidente do Partido também tem evidenciado particularidades, aspectos únicos.

A linguagem é evidentemente diferente. O tom e as palavras de André Ventura; os insultos (ainda nesta semana chamou “múmias” e “esqueletos” a personalidades relevantes da direita política e, nesta noite, trouxe Mário Soares para a campanha para o criticar), o gozar os adversários, a falta de respeito, as piadas arriscadas, as interrupções constantes. Algo que foi reforçado nos recentes debates televisivos.

O mesmo Ventura, entre outras declarações polémicas, já disse que a designação “casamento” deveria ficar reservada à questão homem-mulher. E criticou publicamente o aparecimento de gays na Europa.

Por fim, o início. Ainda antes de ser oficial, o Chega já estava sob suspeitas. No momento da criação do partido, e da entrega de assinaturas, o Ministério Público suspeitava de crimes de falsificação e de contrafação de documentos.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

14 Comments

  1. Sim o Chega é diferente, começou com uma ideias demasiado radicais e com isso chegou a muita gente, que começou a ouvir falar do partido, mas são essas mesmas ideias que lhe criaram um cordão sanitário em volta. Ventura não foi suficientemente inteligente para limpar essas ideias iniciais e tornar-se mais moderado embora se note um esforço. Terá 4 anos para fazer uma oposição inteligente com base no sistema de justiça, na corrupção e na emigração e mais alguns temas específicos , algo que eu duvido que a AD mude em relação ao PS.

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  2. As pessoas que se identificam com o Chega e se sentem representadas por André Ventura são pessoas sem qualidades humanas nenhumas e que não respeitam os Direitos Humanos. O problema é que são muitas.

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  3. As pessoas que se identificam com o CHEGA, na sua grande maioria têm cabeça para pensar e sabem o quanto têm sido enganadas, roubadas e mesmo ostracizadas, só porque sabem o que querem e não vão na cantiga do vigário.

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  4. Blá, blá blá, blá…
    Símbolos Nacionais, sim, são de grande importância. Se uma empresa tem um símbolo, uma Nação Deveu ter Respeito e incutir na População, essa simbologia. Recordo que, após 35 anos do 25A, foi necessário um treinador da Selecção Portuguesa de Futebol questionar o apoio com a proclamação da Bandeira Naciona e do Hino Nacional. Isso, aglutinou os Portuguesas para apoair a Selecção. Até aí, era uma vergonha levantar a Bandeira Nacional e cantar o Hino Nacional. Somo uma Nação., ou não?
    Saudosismo de quê? As Descobertas realizadoas pelos Portugueses têm de ser o Orgulho desta Nação, que contribuiu e muito, para o desenvolvimento da Humanidade. Por isso temos de ter vergonha?
    Mas, a colonização, a escravatura, blá, blá, blá… realmente, hoje, os povos das ex-colónias vivem muito melhor do que viviam há 50 anos…

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  5. Eu sou portador de deficiência com um grau de incapacidade superior a 60 porcento. Para o chega não existe deficiência em Portugal a pergunta é o que iria fazer meter a todos num comboio ou num barco furado. Conjuntamente com a população de terceira idade….
    Afinal os imigrantes, os ciganos é o início, e também quem não tem trabalho etc… ficam as mulheres boas e os homens bons: ricos e bonitos

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  6. Quando afirma não ser como os Outros , Eu digo , ainda bem ! ….Porque para de mal menor para mal pior já temos os “Outros” . Com este “Artista” seria un barco sem leme , ao sabor dos ventos contrários danosos !

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  7. Após 50 anos de casamento PS /PSD,
    chega.
    Para se saber se é diferente, temos de experimentar.
    Pior que o que tem sido, não deve ser possível.
    CHEGA

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  8. Os argumentos de algumas pessoas fazem-me lembrar a uns anos no Brasil, com o palhaço tiririca e o seu slogan “com palhaço tiririca pior que está não fica”. Foi eleito, mas não resolveu nada.
    Por erros que tenham cometido (quero ver a primeira pessoa que nunca cometeu nenhum erro, quando de má fé, tem que ir a justiça) penso que não é muito inteligente ir votar num arruaceiro que semeia o odio, promete coisas impossíveis de concretizar. Fascistas nunca mais.

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  9. Declaração Cívica
    Respeito os Direitos Humanos,
    Gosto dos Animais e da Natureza,
    Tenho 5 Filhos e adoro Portugal
    Penso pela minha própria cabeça,
    Vou fazer o chamado voto útil!
    Vou votar no CHEGA!
    Viva a liberdade e a democracia.

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  10. Sobre o Ventura “A hipotética valentia com que finge atacar os poderosos mascára a vil cobardia com que persegue os desprotegidos”, cito a escritora Maria Dulce Cardoso.

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  11. Caro Luis. Comparar o “tiririca” com o chega, deve ser para os eleitores que comem gelados com a testa. O seu slogan devia ser, não à corrupção, ao nepotismo, ao anarquismo, vamos dar mérito aos jovens (a geração mais bem preparada de sempre). Pergunto, quem vota no chega é fascista? Então quem vota nos “outros” é o quê? fofinho, factor C, esperto, anti palhaço, anti produtividade….

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