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O “chauffeur” de Angola afinal parece que não aceita ordens

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Manuel de Almeida / Lusa

O presidente de Angola, João Lourenço. Ao fundo, a figura de José Eduardo dos Santos

A agência de informação financeira Bloomberg e a revista The Economist publicaram nos últimos dias artigos que elogiam a presidência de João Lourenço em Angola, destacando o ímpeto reformista, mas sem esconder as dificuldades.

“A oposição chamou-o de ‘chauffeur‘, já que seria José Eduardo dos Santos a dizer-lhe para onde ir, mas dois meses depois, o ‘chauffeur‘ parece que não aceita ordens”, escreve a revista britânica The Economist, num artigo em que passa em revista as principais exonerações de João Lourenço e o simbolismo de algumas iniciativas.

“Ao enfraquecer o clã de dos Santos, e tão depressa depois de chegar ao cargo, Lourenço começou forte”, lê-se no artigo que dá voz a vários académicos para comprovar o simbolismo das mudanças.

“O assalto ao império dourado do antigo Presidente está a convencer pelo menos alguns angolanos”, continua o artigo da Economist, acrescentando que “nas redes sociais muitos partilharam o cartaz do filme ‘O Exterminador’, em que a cara de Schwarzenegger é substituída pela do novo Presidente, ‘O Exonerador Implacável'”.

Noutro exemplo de mudanças simbólicas, a Economist conta que “a comitiva presidencial agora para nos semáforos vermelhos e João Lourenço foi visto numa fila para o KFC, uma cadeia de ‘fast-food’”.

Num país “onde os ricos e os poderosos têm estado acima da lei durante anos, pequenos gestos como estes têm um grande significado“, escreve a Economist.

Se o tom do artigo da revista britânica mostra que os angolanos estão agradados pela nova maneira de governar, também os mercados parecem ter aprovado a recente presidência de João Lourenço.

“Ele ainda só liderou Angola por um par de meses, mas os investidores em títulos já gostam do que estão a ver de João Lourenço“, escreve a Bloomberg, num artigo em que mostra que a dívida soberana angolana é a mais rentável de entre 70 países emergentes analisados por esta agência de informação financeira.

Os 1,5 mil milhões de dólares em títulos de dívida com maturidade em 2025 deram 8% desde que Lourenço tomou posse, nota a Bloomberg, vincando que “o resultado não se reduz ao aumento de 5% nos preços do petróleo nesse período”, porque a média do retorno de outros títulos semelhantes ficou-se pelos 0,3%.

“Apesar de se poder apontar para a turbulência do mercado devido aos preços elevados do petróleo, o mercado pode estar a ficar mais construtivo face à perspetiva de evolução da política económica”, comentou o líder do departamento estratégico do Standard Bank londrino, Dmitry Shishkin.

O Governo tocou nas teclas certas, apontando para o desejo de melhorar a sustentabilidade da dívida, cortar algumas despesas, emitir mais dívida soberana e continuar com a reforma da Sonangol”, concluiu o gestor de fundos.

Também a agência de notação financeira Moody’s considera que uma descida do ‘rating’ de Angola é improvável nos próximos anos, argumentando que o crescimento deve manter-se positivo e que o risco político desceu com a eleição de João Lourenço.

Uma descida do ‘rating’ é improvável nos próximos anos, o crescimento deve manter-se positivo, o setor petrolífero deve crescer moderadamente até 2022, e apoiar a gradual recuperação, ainda que abaixo da década passada”, disse a Moody’s à Lusa.

“O risco político baixou com uma sucessão presidencial pacífica e com sucesso”, concluíram os analistas, nas respostas às questões colocadas pela Lusa.

ZAP // Lusa

1 Comment

  1. Vamos a ver se isto não será a substituição de um clã por outro à boa maneira comunista ou se pelo contrário o actual presidente terá de facto coragem de romper com o passado e virar o destino desse grande país.

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