Terapia com células estaminais regenera danos no coração após ataque cardíaco ou enfarte

ZAP // L.Yap et al / NPJ Regenerative Medicine

Um grupo de investigadores transplantou células estaminais precursoras em músculo cardíaco danificado de porcos, levando a uma melhoria significativa na função cardíaca. Este estudo pode estar na base de um tratamento eficaz, capaz de regenerar músculo cardíaco danificado pela fala de oxigénio.

A isquemia acontece quando o músculo cardíaco é privado de oxigénio.

Se esta privação for prolongada, a isquemia pode causar danos irreversíveis e comprometer a capacidade do coração para bombear sangue.

A causa mais comum de isquemia cardíaca está associada à aterosclerose e ao acúmulo de placa nas artérias.

Se uma artéria estiver completamente bloqueada, há uma maior probabilidade de desenvolver um ataque cardíaco ou num enfarte do miocárdio.

Estudos anteriores analisaram diferentes formas de reverter os danos provocados no músculo cardíaco resultantes de isquemia, incluindo o transplante de células estaminais pluripotentes humanas (hPSCs).

As hPSCs são células imaturas que podem dividir-se e diferenciar-me em grupos primários de células que compõem o corpo humano. Por outras palavras, estas células podem ser utilizadas para criar qualquer tipo de célula ou tecido humano.

Um grupo de investigadores da Escola de Medicina da Universidade Nacional de Duke, em Singapura, cultivou em laboratório células hPSCs, e promoveram a sua diferenciação em células precursoras do músculo cardíaco, designadas por células progenitoras cardíacas.

Os resultados do estudo foram apresentado num artigo publicado em maio na revista NPJ Regenerative Medicine.

A principal diferença entre este estudo e investigações anteriores está na utilização de laminina, uma proteína responsável por direcionar o desenvolvimento de certos tipos de células.

Os investigadores utilizaram laminina do coração para cultivar as células progenitoras.

L.Yap et al / NPJ Regenerative Medicine.

Cerca de 200 milhões de células progenitoras com 11 dias de idade foram injetadas no músculo cardíaco danificado de porcos. Foi possível observar que estas células organizaram-se rapidamente em torno do tecido danificado, gerando um enxerto de músculo cardíaco.

“Quatro semanas após a injeção, houve um enxerto rápido, o que significa que o corpo está a aceitar as células estaminais transplantadas”, disse Lynn Yap, autora principal do estudo, em comunicado publicado no site da Universidade de Duke.

“Também observamos o crescimento de um novo tecido cardíaco e um aumento no desenvolvimento funcional, o que sugere que este protocolo tem potencial para se tornar num tratamento de terapia celular eficaz e seguro”.

Os investigadores observaram também uma melhoria significativa na capacidade de bombear sangue, bem como uma redução da área de morte muscular causada pela isquemia.

Karl Tryggvason, Lynn Yap

Mapa eletro-anatómico do coração antes e depois do transplante das células estaminais percursoras. A lilás, tecido saudável.

Em estudos anteriores, já se havia tentado o transplante de células do músculo com células que já tinham iniciado o processo de batimento cardíaco. Porém, foram registadas arritmia cardíacas e outras complicações.

Neste estudo, os investigadores optaram por recorrer a células menos amadurecidas, que ainda não tinham iniciado o processo.

Só após o transplante é que as células amadureceram na totalidade e começaram então a produzir batimentos cardíacos. Este simples pormenor reduziu a incidência de arritmia para metade.

Nos casos em que surgiram arritmias, estas foram temporárias e resolveram-se em cerca de 30 dias. Além disso, as células transplantadas não desencadearam a formação de tumores, outra preocupação relacionada com terapias de células estaminais.

Os investigadores acreditam que a técnica desenvolvida é facilmente reprodutível e segura, graças ao uso da laminina para cultivar células estaminais.

“Para garantir a segurança dos pacientes, é imperativo que as terapias baseadas em células estaminais mostrem uma eficácia consistente e resultados reprodutíveis”, disse Enrico Petretto, um dos coautores do estudo.

“Através de uma extensa análise de expressão genética e molecular, demonstramos que este protocolo baseado na laminina para gerar células funcionais no tratamento de doenças cardíacas é altamente reprodutível.”

Os resultados promissores do estudo podem levar a um tratamento capaz de regenerar o músculo cardíaco danificado pela isquemia.

“Esta tecnologia aproxima-nos de um novo tratamento para pacientes com insuficiência cardíaca, que de outra forma viveriam com graves problemas cardíacos e sem hipóteses de recuperação”, disse Karl Tryggvason, autor correspondente do estudo.

“Também terá um grande impacto na cardiologia regenerativa, através de um protocolo testado e comprovado que pode restaurar os músculos cardíacos danificados e reduzir o risco de efeitos colaterais adversos”.

Patrícia Carvalho, ZAP //

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