Sociais-democratas consideram ambição de Assunção Cristas “irrealista”. Carlos Jalali, politólogo, fala numa mudança “difícil, mas não impossível”.
Se o CDS conseguisse suplantar o PSD e tornar-se no principal partido de centro-direita, essa seria uma “mudança brutal” no sistema político português, acredita Carlos Jalali, especialista em sistemas políticos.
O professor da Universidade de Aveiro lembra que só nas primeiras eleições o CDS conseguiu os seus melhores resultados e o mais próximo dos sociais-democratas. Freitas do Amaral, o fundador do partido, conquistou 42 lugares – num Parlamento de 263 deputados – contra 73 do PSD de Sá Carneiro.
Segundo o Diário de Notícias, no entanto, Jalali sublinha o potencial de Assunção Cristas para fazer reforçar o peso do CDS, num momento em que o PSD parece não estar a capitalizar nas intenções de voto em relação ao PS e, no terreno simbólico, o facto de ter ficado à frente da candidata social-democrata, Teresa Leal Coelho, nas eleições autárquicas em Lisboa serve de referencial: “Nós podemos, o PSD não é imbatível.”
Por outro lado, há uma “diferença abissal das estruturas a nível nacional entre os dois partidos”.
O PSD está representado em força nas câmaras municipais, o que diz, “ajuda a mobilizar o eleitorado”. Aliás, a implantação territorial do CDS foi sempre um dos problemas do partido, que sofreu a sua maior erosão durante mais de uma década de liderança cavaquista do PSD e do país.
Durante as duas maiorias absolutas de Cavaco, o CDS encolheu de tal forma, com 4 deputados e depois cinco, que ficou conhecido como o “partido do táxi“.
Nos anos em que concorreram sozinhos para a Assembleia da República, como acontecerá em 2019, os centristas nunca conseguiram, à exceção de 1976, chegar sequer à metade dos lugares conquistados pelos sociais-democratas.
O CDS em “bicos de pés”
Depois de o CDS se afirmar como a principal força de centro-direita, o PSD reagiu e considerou a ambição da líder do partido “irrealista” e um “enorme disparate”.
Entre as hostes sociais-democratas lembra-se a Assunção Cristas que os resultados nas autárquicas não são transponíveis para o plano nacional. António Bragança Fernandes, presidente da distrital do Porto do PSD, considera que Assunção Cristas está a “pôr-se em bicos de pés”, confundindo os votos autárquicos que obteve em Lisboa, em outubro passado, com legislativas.
“São duas coisas diferentes as autárquicas não têm nada a ver com as eleições legislativas”, diz ao DN, sublinhando que a líder centrista “está a elevar muito a fasquia”. Bragança relembra que, em Lisboa, o que esteve em causa foram nomes, enquanto que nas legislativas, o que vai a jogo “é o partido em si”.
Ao CDS “pode sair o tiro pela culatra”, diz o presidente da maior distrital social-democrata – apoiante de Pedro Santana Lopes nas eleições internas – que rejeita que a estratégia de Rui Rio esteja a abrir espaço ao CDS entre o eleitorado de centro-direita. “Rui Rio está a fazer o que é do melhor interesse para o país a longo prazo, está a apostar no futuro”.
Já Carlos Peixoto, vice-presidente da bancada e líder da distrital da Guarda diz que as ambições do CDS “são legítimas”, na medida em que é “legítimo sonhar”. Mas são igualmente “irrealistas”. “Não têm nenhum tipo de adesão à realidade do comportamento eleitoral dos portugueses”, destaca o parlamentar laranja.
E se Cristas bateu o PSD em Lisboa, relegando os sociais-democratas para o lugar de terceira força política na capital, o vice-presidente do grupo parlamentar diz que “o Dr. Rui Rio não é a Dra. Teresa Leal Coelho” e que não se podem fazer comparações entre eleições autárquicas e legislativas.
Outro deputado da bancada, que não apoiou publicamente Rui Rio nem Santana Lopes, diz que “o CDS querer alargar o eleitorado infligindo golpes no PSD é um enorme disparate“.
Para este social-democrata “cada partido deve fazer o seu caminho, elegendo sempre o PS como alvo. O alargamento do eleitorado tem de ser feito para fora e não para dentro do centro-direita”.
O deputado entende que Assunção Cristas “ainda não percebeu qual o papel dela e do CDS. Ao longo dos tantos anos em que Paulo Portas presidiu ao CDS, nunca se viu entrar num congresso a ser anunciado como o próximo primeiro-ministro de Portugal. No discurso de Assunção está implícito que, como agora o PSD anda um pouco atrapalhado, vamos filá-los. É ridículo e na política o ridículo mata”.