Pedro Adão e Silva não gostou do que Dalila Rodrigues disse no Parlamento e retribui as críticas por causa da escolha de Nuno Vassallo e Silva.
O Ministério da Cultura exonerou no dia 29 de novembro a presidente do conselho de administração da Fundação Centro Cultural de Belém (CCB), Francisca Carneiro Fernandes.
Francisca Carneiro Fernandes foi exonerada nas vésperas de completar um ano como presidente da Fundação CCB, cargo para o qual tinha sido escolhida pelo anterior ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva.
Para o seu lugar foi nomeado Nuno Vassallo e Silva, secretário de Estado no Governo liderado por Pedro Passos Coelho.
Na quarta-feira, a ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, acusou no parlamento o seu antecessor, Pedro Adão e Silva, de ter feito um “assalto ao poder” no Centro Cultural de Belém, garantindo “que acabaram os compadrios naquela instituição”.
“Acabaram os compadrios, ‘lobbies’ e cunhas que levaram à constituição da atual equipa do CCB. Demitida que está, exonerada que está, afastada que está a sua presidente, está, evidentemente, a abordagem a este assalto ao poder, assalto ao CCB, que é absolutamente inadmissível nos termos em que foi realizado pelo ex-ministro da Cultura, doutor Pedro Adão e Silva”, afirmou a ministra durante a audição, a requerimentos dos grupos parlamentares do PS e do BE, sobre o “novo rumo” para o CCB, a exoneração da sua diretora e as opções políticas do Governo para esta instituição.
Para Dalila Rodrigues, esta nova postura do Ministério da Cultura decorre de um “novo ciclo”, que “implica novas metodologias e novas abordagens”, nomeadamente “manifestação de interesses” e “abertura de concurso”.
Sobre as manifestações de solidariedade para com Francisca Carneiro Fernandes por parte de artistas, entidades e personalidades ligadas ao setor, a ministra afirmou que “são extremamente extraordinárias”.
“Eu própria, quando fui exonerada da direção do [Museu] Nacional de Arte Antiga, em 2007, tive o gosto de ver o meu trabalho amplamente reconhecido e o movimento de contestação generalizado”, disse a ministra, lamentando não ter visto o apoio dos trabalhadores do CCB às “duas trabalhadoras que foram dispensadas para que a colaboradora Aida Tavares” iniciasse funções naquela instituição, “através de um processo nada transparente”.
“É mesmo muito óbvio, mas é tão óbvio que chega a ser incompreensível, por assim dizer, que seja o Partido Socialista a levantar questões”, acrescentou.
Ex-ministro reage
Pedro Adão e Silva esteve sempre no silêncio desde que deixou de ser ministro da Cultura, porque acha que essa deve ser a postura de antigos governantes.
Mas, sendo diretamente atingido nestas declarações da sua sucessora, decidiu quebrar o silêncio. Reage com “grande indignação” porque são declarações “falsas e muito muito graves“. Foi “gravíssimo, injurioso e falso“.
O anterior ministro da Cultura disse que esta audição, depois de uma “fuga” da ministra a perguntas de jornalistas e deputados, mostrou uma Dalila Rodrigues “insegura e sem trabalho para apresentar”.
Adão e Silva acha que a ministra disse o que disse por sugestão de uma agência de comunicação. “Aquilo vinha preparado, ensaiado”.
“Não me recordo de um ministro atacar nestes moldes o seu antecessor, sem dizer exatamente o que está a falar. Uma acusação de assalto ao poder é uma acusação gravíssima”, avisou na RTP.
O ex-ministro assegura que a sua postura no Ministério da Cultura foi precisamente o contrário: nomeações por competências profissionais, e não por ligações partidárias.
A escolha de Nuno Vassallo e Silva mereceu reparos: “É um pouco estranho alguém que acusa outros de assalto ao poder, de conluio, de cunhas, agora escolhe um antigo membro de um governo do PSD, mas cuja especialidade é muito parecida com a senhora ministra: ourivesaria e joalharia“, acusou Pedro Adão e Silva.
Nuno Vassallo e Silva tem doutoramento em História da Arte e foi diretor do Museu Calouste Gulbenkian, do Museu de S. Roque e Diretor-Geral do Património Cultural.
“As acusações que me são feitas aplicam-se a este caso”, reforçou o ex-ministro.
ZAP // Lusa