O deserto da Namíbia é um santuário de cavalos selvagens, apesar de não se saber como nem porquê. O que se sabe é que os animais estão perante um futuro perigoso.
O cavalo do deserto da Namíbia é um cavalo selvagem raro encontrado no deserto daquele país africano. É provavelmente a única manada de cavalos que reside em África. Embora haja várias teorias, a origem dos cavalos do deserto da Namíbia não é clara. Foram realizados vários testes genéticos, embora nenhum tenha explicado completamente a sua origem.
Uma teoria defende que exploradores de diamantes levaram cavalos há mais de um século para os campos de mineração abandonados. Outra teoria, segundo o autor e historiador Manni Goldbeck, defende que os animais chegaram com soldados sul-africanos, que em 1915 desembarcaram em Luderitz. Mais tarde, as tropas foram bombardeadas, espalhando os cavalos pelo deserto costeiro da Namíbia, onde permaneceram.
Seja qual for a sua origem, os cavalos reuniram-se eventualmente nas Planícies de Garub, perto de Aus, Namíbia, local de uma fonte de água feita pelo homem. Os animais normalmente são ignorados pelos seres humanos, exceto durante uma ameaça periódica de erradicação devido à possibilidade de que estarem a destruit o habitat dos herbívoros nativos até os anos 80.
Em 1984, foi realizado o primeiro levantamento aéreo da população e, em 1986, as suas pastagens tradicionais foram incorporadas ao Parque Namib-Naukluft. Em várias alturas, alguns cavalos foram removidos da manada, tendo mais de um terço da população sido vendido em 1992. Desde o início dos anos 90, foram mantidos registos rigorosos da população e foram realizados estudos para determinar efeito dos cavalos no ambiente.
Apesar de serem consideradas espécies exóticas dentro do parque, os cavalos podem permanecer devido aos seus laços com a história do país e por serem usados como atração turística.
Agora, os acavalos estão em perigo. De acordo com a CNN, a situação despertou preocupação da comunidade vizinha de Aus. Os animais são a força vital da economia, atraindo turistas que os vêem no seu haitat no meio das dunas de areia inóspitas e nas planícies áridas de Garub.
Segundo a bióloga Telane Greyling, a população de cavalos selvagens caiu de 286 em 2012 para apenas 65. O futuro da manada repousa sobre alguns potros preciosos, mas apenas um, chamado Zohra, sobreviveu para ver o seu primeiro aniversário nos últimos sete anos.
Historicamente, os cavalos já enfrentaram várias batalhas. Na década de 1980, os novos limites do parque cortaram uma parte da sua área. No início dos anos 90, uma seca prolongada matou alguns cavalos.
Nos últimos 20 anos, hienas-malhadas têm sido uma preocupação. “Em 2000, levaram cerca de dois potros”, contou Greyling. “Em 2003, começaram a entrar novamente e um pouco mais frequentemente”. Durante 2012, nasceram 50 potros e, no final de 2012, as hienas começaram a atacar os potros. “No final de 2013, emboscaram um cavalo adulto”.
As hienas foram responsáveis por dezenas de mortes de cavalos. Para complicar a situação, até os predadores estão em perigo. “Em muitas áreas, como a Namíbia, as hienas são vulneráveis à extinção”, disse Karl Fester, investigador na Namibian Conservation Foundation, que estima que o número de hienas no país caiu de 2.000 a 3.000 em 1998 para menos de 1.000 em 2019.
As duas espécies criaram um enigma de conservação. No início de 2019, o Ministério do Meio Ambiente e Turismo informou que tinha matado três hienas que provavelmente atacavam potros, depois de as tentativas de realocá-las terem fracassado. O ato gerou controvérsia entre alguns conservacionistas.
No ano passado, o ministério elaborou um plano de gestão para 2020 a 2029 para os cavalos da Namíbia, que inclui alimentação e água suplementares e gestão de predadores. Hienas não serão mortas nem capturadas, mas sim assustadas.
Segundo o plano, os cavalos não seriam movidos do seu habitat mas, em tempos de seca e severa predação, as dunas onde cavalgam serão cercadas.
Quando a pandemia terminar e os turistas voltarem, esperançosamente poderão ver Zohra e os seis novos potros deste ano. A seca que matou outros cavalos já terminou e há pequenos tufos de relva a crescer nas planícies.
No entanto, um único ano bom não apaga problemas de longo prazo. “Mesmo sem predação, é o hiato de sete anos entre gerações que ameaça o futuro da população”, explicou Greyling. “Isso significa que, em 2026, não haverá égua na faixa etária de 7 a 15 anos, que é a principal idade reprodutiva da população”.
“Espero e ficarei feliz se estiver errada, mas o futuro dos cavalos e das hienas é bastante incerto neste momento”, rematou.