Tigray, no norte da Etiópia, está “à beira de uma catástrofe humanitária”, devido aos efeitos da guerra civil na região, durante dois anos, e a uma seca severa, que deixou mais de 91% da população vulnerável, alerta o Governo.
Há uma catástrofe humanitária no norte da Etiópia. Em Tigray, mais de 91% da população está em risco de fome e morte, declarou, esta sexta-feira, o Governo interino da região através de um comunicado.
As autoridades de Tigray atribuíram este cenário à “aniquilação da base económica de Tigray” devido à guerra, para além da deslocação forçada de mais de um milhão de pessoas que agora são “incapazes de se defenderem sozinhas”.
“Para piorar a situação”, a escassez de chuvas sazonais e o aparecimento de infestações de gafanhotos do deserto “combinaram-se para criar uma situação humanitária de pesadelo”, de acordo com o comunicado governamental.
“A quantidade [de ajuda humanitária] que chega às pessoas necessitadas é uma fração do que é necessário para satisfazer as necessidades atuais”, referiu o Governo de Tigray, que lançou um apelo urgente à ação.
“Sem um esforço direcionado a enfrentar esta tragédia, as consequências serão mortais, com ramificações de longo alcance para a paz e a estabilidade nacional e regional”, afirmaram as autoridades.
A Etiópia enfrenta simultaneamente inundações e chuvas torrenciais em partes do sul do país, devido ao fenómeno meteorológico El Niño, e uma seca persistente no norte.
No caso das catástrofes climáticas, geralmente, os países mais pobres são os mais injustiçados: por um lado, estão menos preparados para enfrentar os problemas; por outro, são os que menos contribuem para aumentá-los.
Guerra de Tigray
A guerra de Tigray, motivada por diferenças étnicas e religiosas, começou a 4 de novembro de 2020.
Tudo começou quando as tropas regionais da Frente de Libertação do Povo de Tigray (TPLF na sigla em Inglês), que controlaram a região durante os últimos 30 anos, tomaram de assalto bases militares federais, após romperem relações com o primeiro-ministro Abiy Ahmed.
O exército da Etiópia ripostou e capturou a capital da região, Mekelle, acusando o TPLF de ameaçar a integridade territorial do país e de querer derrubar o Governo.
Pelo menos 600.000 pessoas foram mortas durante a guerra de Tigray, de acordo com o mediador da União Africana, o antigo Presidente nigeriano Olusegun Obasanjo.
Um acordo de paz selado em novembro de 2022 pôs fim a dois anos de guerra, mas a violência, especialmente a violência sexual, continuou desde então.
ZAP // Lusa