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Casais negros inférteis colocados no fim da lista de procriação assistida

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Os casais negros com problemas de infertilidade estão a ser discriminados, sendo colocados no fim da lista da procriação medicamente assistida por não haver doações de negros no Banco de Gâmetas Público

Segundo apurou o Diário de Notícias, uma vez que não houve, até agora, dadores negros no primeiro banco público nacional de gâmetas – espermatozóides ou óvulos -, os casais negros que procuram ajuda médica para ter filhos são colocados no fim da lista.

Isto deve-se à prática médica de não indicar aos casais que podem receber gâmetas de dadores de outra etnia.

A boa prática é atribuir gâmetas de acordo com a etnia“, explica ao DN a directora do Banco de Gâmetas Público, Isabel Sousa Pereira, notando que o médico não deve “propor ao casal ‘quer preto ou branco’”.

O Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida não tomou, até agora, qualquer posição sobre esta temática, mas a lei não impõe como obrigatoriedade que haja compatibilidade nas características físicas dos dadores e dos futuros pais.

Todavia, os médicos por norma não indicam gâmetas de etnias diferentes às dos casais que procuram a procriação assistida.  “É feito em nome do superior interesse da criança“, explica ao DN o presidente do Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida, o juiz desembargador Eurico Reis.

“A justificação é que uma criança muito diferente dos pais terá mais dificuldade em integrar-se”, salienta Eurico Reis, frisando que “mesmo na procriação não assistida há problemas com os filhos dos casais mistos” e que “existe um risco sociológico real“.

Mas para o professor catedrático Mário Sousa, responsável pela cadeira de Medicina de Reprodução no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, no Porto, “há aqui um problema”. “As pessoas negras estão a ser discriminadas e isso não pode ser“, salienta no DN.

Ninguém pode opor-se se uma senhora negra quiser ser inseminada com gâmetas de um branco. E vice-versa. E mesmo se se tratar de um casal de negros que diga: ‘queremos gâmetas de branco já que não há de negros’, um médico só pode dizer não por objecção de consciência”, acrescenta Mário Sousa.

ZAP //

 

7 Comments

  1. Isso não é discriminação. Se não há doadores negros, paciência! Querem obrigá-los? Cada qual com suas prioridades e comvicções.

  2. O assunto como é tratado é uma não notícia.
    É um mau trabalho a sua publicação sob o título que lhe é dado. É tendencioso e pretende criar um caso de discriminação onde ele simplesmente não existe.

    O que faria sentido seria dizer precisamente:

    – Casais de raça negra inférteis têm dificuldade em encontrar resposta ao seu problema pela falta de doadores da sua etnia.

    Seria uma divulgação positiva e quicá “produtiva” pelo surgimento de dadores motivados por esse facto.

    Seria então um bom serviço jornalístico, alertando para a questão de uma forma positiva e útil.

    Elevação e postura ética é o caminho mais difícil mas o único que distingue um profissional de nível.

    • Estou inteiramente de acordo com o Sr. Outsider e, muito especialmente para a sociedade actual em que estando sempre a correr à procura muitas vezes do nada, limita-se a ler ou ouvir os títulos das notícias. Os profissionais da comunicação social têm de ter mais cuidado, muito especialmente na elaboração e publicação de títulos noticiosos. Obrigado Sr. Outsider por alertar para este problema que há necessidade de ser resolvido

  3. Caros leitores,
    Pelo teor sensível do tema, a publicação desta notícia, e a escolha do seu título, mereceram da parte da nossa redacção uma atenção especial.
    Ao trazer à atenção dos nossos leitores um tema que nos parecia de interesse notório, tivemos a noção de que o mesmo iria despertar perspectivas divergentes e opiniões apaixonadas e dividir sentimentos, pelo que procurámos conferir-lhe a maior objectividade possível.
    Entendemos antes de mais ser necessário analisar se o caso noticiado configura uma si um caso de “discriminação”.
    Objectivamente, e independentemente de haver ou não razões que a justifiquem, e de a discriminação ser ou não “positiva”, ou “compreensível”, ou “defensável”, esta é, formalmente, uma situação de “discriminação”, que nem sequer é desmentida – é antes assumida e defendida – pelos médicos que a praticam.
    Usámos então, de forma fria, consciente e desapaixonada, o termo “discriminação” no texto.
    No seu título, a fonte que citámos usou a expressão “discriminação racial”:
    “Suspeita de discriminação racial na procriação assistida”
    Ao construir o nosso título, entendemos que seria ainda prudente retirar-lhe, na medida do possível, qualquer carga de subjectividade ou necessidade de interpretação. Assim, fugimos à palavra “discriminação”, e usámos factos:
    “Casais negros inférteis colocados no fim da lista de procriação assistida”.
    É, objectivamente, o relato factual do conteúdo da notícia.
    Ao contrário do que defendem alguns leitores, não há neste título nenhuma subjectividade, nenhuma opinião transmitida ou subentendida, nenhuma carga interpretativa.
    Esperávamos, ao trazer aos nossos leitores o assunto, que ele despertasse discussão aberta sobre o tema em si, as suas diferentes perspectivas.
    É lamentável constatar que, uma vez mais, em vez de discutir o tema, alguns leitores optam por discutir a forma como o trazemos – e tecer considerações acerca da intenção com que o fazemos – deturpando e invertendo completamente a intenção que sempre tivemos de “prestar um bom serviço jornalístico”, alertando para a questão “de uma forma positiva e útil”.
    São, infelizmente, sinais dos tempos e das modas.

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