Funcionários do governo norte-americano terão abordado cientistas com historial de críticas regulares sobre as mudanças climáticas causadas pelo homem, aos quais foram propostos cargos de gestão na NOAA. Segundo especialistas citados pela E&E News, esta é uma estratégia da Casa Branca para “minar a ciência” numa das principais agências climáticas do mundo.
Depois de os candidatos iniciais terem recusado os cargos na NOAA, a Casa Branca acabou por escolher David Legates, professor de geografia da Universidade de Delaware, que rejeita as principais teorias acerca do clima aceites pela comunidade científica mundial.
Legates, atualmente assistente de observação e previsão na NOAA, defende que um aumento dos níveis de dióxido de carbono tornaria a Terra um sítio melhor para os seres humanos.
John Christy, professor de ciência atmosférica da Universidade do Alabama e um dos cientistas convidados pelo governo americano, referiu ao E&E News que um funcionário da Casa Branca lhe prometeu “carta branca” para mudar a forma como a NOAA aborda as suas pesquisas climáticas.
Além de Legates, a Casa Branca nomeou também para a NOOA Ryan Maue, ex-funcionário do Cato Institute, e Erik Noble, que trabalhou como analista de dados para a campanha do presidente Donald Trump.
Estas mudanças representam um esforço para remodelar a hierarquia de topo da NOAA no primeiro mandato de Trump. Até agora, a agência permaneceu sem grandes mudanças, apesar das teorias adotadas pelo presidente, e pelos seus súbditos, sobre as mudanças climáticas, diz a Science.
As novas contratações têm fama de minimizar a ciência do clima, e publicaram afirmações em contradição direta com a pesquisa publicada por pares da NOAA. De acordo com a Science, os conselheiros externos da Casa Branca motivaram Legates a influenciar a próxima Avaliação Nacional do Clima.
Numa altura em que as presidenciais estão à porta, alguns funcionários da NOAA estão receosos com o que Trump pode vir a fazer na instituição caso seja eleito para novo mandato. Os cientistas do clima estão com medo que o seu trabalho seja afetado, diz o Science.
Há um ano, a agência esteve envolvida num escândalo quando o seu administrador, Neil Jacobs, e a equipa de gestão, criticaram os meteorologistas da agência do Serviço Meteorológico Nacional, NWS. A polémica começou quando Trump publicou no Twitter, erradamente, que o Alabama estava ameaçado pelo furacão Dorian em setembro de 2019.
Depois de receber várias chamadas de pessoas em pânico, o NWS divulgou um comunicado em que esclarecia que a tempestade não atingiria o Alabama. No entanto, Jacobs criticou os meteorologistas.
O episódio ficou conhecido como “Sharpiegate” depois de Trump se ter recusado a reconhecer o seu erro. Mais tarde, o presidente dos EUA apontou para um mapa da Sala Oval em que este parecia ter sido alterado com uma caneta para mostrar o caminho do furacão que supostamente atingiu o Alabama.
Um documentário apresentado na semana passada por Legates oferece uma perspetiva para as prioridades científicas que quer trazer para a NOAA. Legates aparece com destaque no filme, que compara os que querem uma política climática mais agressiva com o governo autoritário descrito por George Orwell na sua novela “1984”, afirmando que todos os que questionam a ciência do clima devem ser perseguidos e presos.
O filme sustenta que as pessoas que estão preocupadas com a mudança climática querem colocar limites no número de crianças nascidas na América, que os bifes sejam ilegais, e que as crenças sobre o ambiente são uma “igreja” que visa os hereges.
Legates defende que reduzir as emissões de carbono implicaria que os países desenvolvidos “iriam em direção a um mundo subdesenvolvido”, e acrescenta que ensinar aos jovens assuntos relacionados com as alterações climáticas causadas pelo homem, é incentivá-los a acreditar numa “mentira”.