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“Um espectáculo triste”. Cartoon de António censurado nos EUA após críticas de anti-semitismo

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(dr) António

Cartoon de António criticado como anti-semita após publicação no The New York Times.

O The New York Times apagou um cartoon do português António Antunes, conhecido apenas pelo primeiro nome e pelas sátiras que publica no Expresso, depois do mar de críticas de anti-semitismo que recebeu. Donald Trump juntou-se ao barulho das queixas e o cartoonista lamenta “o espectáculo triste”.

O cartoon em causa, que é reproduzido no início deste artigo, retrata Donald Trump, presidente dos EUA, e Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro de Israel. O primeiro surge a usar a quipá, símbolo judaico, e uns óculos de sol, como se cego, a ser conduzido por um cão-guia que tem a cara de Netanyahu, com a estrela de David na coleira.

A imagem apareceu na edição internacional do jornal The New York Times (NYT), na passada quinta-feira, a ilustrar um artigo de opinião de Thomas Friedman, e foi classificada como “ofensiva” por muitos judeus pelo mundo.

New Your Times pede desculpas

O cartoon foi condenado pelo próprio Donald Trump e também pelo vice-presidente dos EUA, Mike Pence. A imprensa israelita assegura que o cônsul-geral de Israel em Nova Iorque, Danny Dayan, protestou junto do jornal. Entre a comunidade israelita, chovem as críticas ao conceituado diário nova-iorquino.

Perante a revolta instalada, o NYT emitiu um comunicado onde atesta que o “cartoon político” inclui “tropos anti-semitas” e que foi, por isso, “apagado”. “A imagem era ofensiva e foi um erro de julgamento publicá-la”, salientou o jornal.

Numa nota posterior, o NYT pede desculpas pela publicação e manifesta empenho em “garantir que nada como isto volte a acontecer”. “Tais imagens são sempre perigosas e num tempo em que o anti-semitismo está a crescer no mundo, é ainda mais inaceitável”, frisa o jornal.

“Investigamos como é que isto aconteceu e descobrimos que, devido a um processo defeituoso, um único editor a trabalhar sem supervisão adequada fez o download do desenho sindicado e decidiu incluí-lo na página de Opinião”, acrescenta o NYT, realçando que “o assunto continua a ser analisado” e que estão a ser avaliados “os processos internos e a formação”. “Antecipamos mudanças significativas”, conclui.

Donald Trump usou o seu perfil do Twitter para classificar o desenho como um “terrível cartoon anti-semita” e para lamentar que o jornal ainda não lhe pediu desculpas pessoalmente. “Não me pediu desculpas por isto, nem por todas as notícias falsas e corruptas que imprimem diariamente”, destaca o Presidente dos EUA, considerando que o jornal chegou “ao nível mais baixo de ‘jornalismo’”.

A posição de Trump surge depois de um fim-de-semana onde se verificou um ataque a uma sinagoga, na Califórnia, que matou uma pessoa e causou três feridos.

Posição do NYT é “preocupante”

Para o cartoonista no centro da polémica, o que é “preocupante” é a posição do NYT “porque não é um jornal qualquer“, como vincou em declarações na SIC. “O NYT ser vulnerável a grupos de pressão é uma coisa que não gostaria de ouvir”, referiu, frisando que “provavelmente tem a ver com as suas linhas de financiamento” e lamentando que “é um espectáculo triste“.

Numa nota no Expresso, António destaca que o cartoon é apenas “uma crítica à política de Israel, que tem uma conduta criminosa na Palestina, ao arrepio da ONU, e não aos judeus”.

“É uma política cega que ignora os interesses dos palestinianos”, refere o cartoonista, apontando que “Donald Trump é um cego que vai atrás” e explicando que “a estrela de David é um auxiliar de identificação de uma figura [Netanyahu] que não é muito conhecida em Portugal”.

“É importante separar as críticas a Israel do anti-semitismo“, reforça ainda o cartoonista em declarações ao Público, esclarecendo que o desenho “acontece na altura em que são anunciadas novas anexações na Cisjordânia, na Faixa de Gaza”, algo que “acontece muito por causa do apoio da Administração americana”.

“Não sou anti-semita”, vinca ainda António, sublinhando que tem “o máximo respeito pelo passado de sofrimento dos judeus”. Mas “a história do anti-semitismo utilizada desta maneira é uma saída fácil para não enfrentar as questões e para se colocar num patamar acima da crítica”, o não é “razoável”, segundo o cartoonista.

Do outro lado da barricada, a ex-líder da Comunidade Judaica em Portugal, Esther Mucznik, que é colunista do Público, considera o cartoon “profundamente anti-semita”, notando que “o problema foi ter juntado a quipá e a estrela de David, que são símbolos do judaísmo”.

Em declarações ao Público, Esther Mucznik nota que quando foi publicado em Portugal, na edição do Expresso de 19 de Abril passado, o cartoon também ofendeu a comunidade israelita lusa.

“A ideia de que Israel controla o mundo – que não controla, como se os judeus estivessem na sombra a puxar os cordelinhos”, é um dos “mitos que se espalham sobre os judeus”, constata Esther Mucznik, concluindo que fica especialmente preocupada com “a insensibilidade das pessoas cheias de boas intenções”. “Não digo que o objectivo tenha sido atacar os judeus, mas é essa insensibilidade que é problemática”, refere.

Por seu turno, o Expresso vem realçar que o cartoon “não inclui, nem propaga, qualquer mensagem anti-semita”, apelando à “liberdade de expressão e de opinião” e à independência face a “poderes políticos, económicos ou religiosos”.

“A membros da comunidade judaica e àqueles que se possam ter sentido ofendidos e face à polémica gerada, o Expresso esclarece que nunca foi intenção retratar Israel ou a religião judaica e o seus fiéis de forma menos digna”, acrescenta o semanário, frisando que “jamais permitirá a publicação de qualquer mensagem anti-religiosa, seja qual for a religião”.

SV, ZAP //

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37 Comments

  1. E é isto. Em nome da liberdade e da do direito à critica tudo é permitido… e Deus acuda a quem o critique.

  2. Já não basta a Ilhan Omar (e sair impune) com os comentários que tem feito; agora até um cartonista Português? – Isto em nada tem que ver com liberdade de expressão – anti-semitismo puro. Deplorável!

  3. o cartoon é mesmo acutilante… mas é verdade! e por ser verdade, não pode ser tratado com leveza… quando o cartoon de um “pretenso” muçulmano que aparecia com um turbante na cabeça simulando uma bomba, foi alvo de criticas pelo mundo islão fora, choveram criticas contra os que criticavam o cartoon em prol da liberdade de expressão… agora sucede isto por parte do “farol da democracia”… o que terá de acontecer para que a malta aprenda a lição? será que o cartoonista já entrou na lista de personas non gratas? será que irá padecer de uma maleita qualquer que o impeça de desenhar mais?…

  4. Mais uma bela imagem da Merica… e ainda dizem eles que é a terra da liberdade!…
    O Trump sempre a resmungar e afinal até o NYT, além de fazer a vontade ao “chorão”, ainda pede desculpa!!
    Um cartoon que, por acaso, corresponde perfeitamente à realidade actual, é ofensivo?!
    Coitadinhos… esses judeus radicais continuam a minar tudo, mas como são “o povo escolhido por deus”, tem que ser tudo como eles querem!…

    • Ninguém tem tomates para criticar oficialmente Israel… todos se compadecem dos ‘tadinhos dos judeus que sobreviveram ao holocausto… esses já morreram e nunca fizeram mal a ninguém, paz à sua alma; já estes, matam sem dó nem piedade e ai de quem os criticar!!

  5. olha olha, os extremistas de esquerda do Expresso dizem que não há qualquer problema com o cartoon, quando o próprio NYT pediu desculpas.
    Estão tão do lado da liberdade de expressão o Expresso. Só rir

      • O PNR é de esquerda basta ler o programa deles. Extrema esquerda é qualquer individuo ou organização que ache que pode por meios autoritários impôr a ideia que têm de sociedade aos outros.
        Tais como seja o recente caso na universidade, em que um caso claro de protesto por descreminação entre brasileiros e portugueses, esse mesmo protesto é proibido sob desculpa de “xenofobia”.
        Cortar o direito à livre expressão é autoritarismo de esquerda, e tantos casos houveram é claro que a ZAP trouxe o unico em que foi um outlet de esquerda, o NYT a sentir pressão contra a sua liberdade de expressão.
        Entendeu? Se não entendeu posso contratar o cartonista António para lhe fazer um desenho

          • Sérgio Sá só agora? Voce nao sabe que em 1960 Salazar congelou as rendas, ou seja expropriou as casas dos privados para fazer caridade? Isso são medidas comunistas de falta de respeito pela propriedade privada.

        • Qualquer pessoa que vote tem a obrigação de perder 5 minutos a ler qual a diferença entre a direita e a esquerda. Após isso, qualquer pessoa que aprenda os actos do Salazar saberá que era de esquerda. Não me parece que haja 1 portugues que não saiba o que eram as rendas congeladas decididas pelo Salazar. O Salazar era de extrema esquerda assim como era o inventor do fascismo, o Mussolini, q em 1928 expropriou terras “ociosas” para dar aos pobres. Já agora, em 2019 a Helena Roseta com o apoio do BE queria fazer aprovar uma lei para invadir casas vazias. O modus operandus da extrema esquerda é sempre o mesmo. Falta de respeito pela propriedade privada. Isso em conjunto com um ataque à liberdade de expressão, veja-se se a Le Pen pôde vir a Portugal falar

  6. LEI DA ROLHA ISRAELITA – TUDO É ANTI-SEMITISMO

    É triste, lamentável e eu diria mesmo, acéfalo. Existe uma nova forma de censura por parte do governo de Netanyahu: Consiste em apelidar de “anti-semita” toda e qualquer crítica ao Governo e às políticas do Estado de Israel.

    É como se de repente, criticar José Eduardo dos Santos ou Isabel dos Santos, fosse racismo contra os negros. Esta é a forma mais cobarde de silenciar o mundo com chantagem emocional, a que eu já assisti na política. Imagine-se a partir de agora chamar-se xenofobia anti-Islão a prender um Muçulmano que violasse uma mulher. A não ser que limpeza étnica agora seja um crime menos grave do que violação.

    Está portanto establecido que os Israelitas gozam de uma imunidade total contra qualquer crítica aos seus actos e são considerados inimputáveis de qualquer mal, por serem de raça Judaica. Alguém que seja Judeu, ao contrário de qualquer outra raça do planeta, não pode ser criticado por coisa nenhuma. Estamos perante a mais recente auto-proclamação de raça superior!

    O truque é simples: Aproveitar a onda de animosidade contra os povos Islâmicos, para que Israel continue a proceder ao genocídio e ocupação sistemática de terras na Palestina, contra o acordo de 1947 ratificado pela ONU.

    Esta forma de censura enxertada de discurso de vítima, imposta por Israel ao mundo, já se tem feito sentir por exemplo no Partido Trabalhista Britânico, onde pelo menos metade dos seus membros já foram acusados de anti-semitismo por defenderem os direitos do povo Palestiniano ao seu território, como definido em 1947, e que tem sido sistemáticamente atropelado. Até defender algum povo contra os atropelos de direitos humanos levados a cabo pelo estado de Israel, é segundo Netanyahu, uma forma de ódio racial contra os Judeus. Há povos mesmo com a mania de superioridade. Aliás, só quem não viaja e nunca esteve em Israel, é que não sabe quão racistas os Israelitas são.

    Agora foi o cartonista António a ser alvo desta Lei da Rolha Israelita. Veja-se bem se este cartoon tem algum elemento de preconceito racial. O que é que há neste cartoon que critique a “raça” Judaica? Vê-se alguém de penca comprida? Só se for o Trump. Vê-se alguma mensão a aspectos raciais? Eu cá só vejo a bandeira de Israel (na coleira) e a tromba do seu primeiro ministro, que nem penca de Judeu tem.

    O quipá no cocuruto de Trump, que eu saiba não é insultuoso de nada. Está a indicar que Trump se comporta como se fosse mais israelita que os israelitas. Ainda há quem compare isto a um cartoon em que aparece um muçulmano com um turbante em forma de bomba!.. Que comparação tão estúpida e tão tendenciosa. Por acaso aqui o quipá aparece em forma de alguma coisa ofensiva ou acusatória? Ou aparece apenas como símbolo de si mesmo: um quipá?

      • Mas, isto é o seu primeiro dia na internet?

        Aprende-se alguma coisa, por acaso…
        Pelo formato que você usa, jargão de redes sociais, ao omitir letras de certas palavras, indica, que não consegue ler para além dos títulos noticiosos.
        Nesse caso, retém, cerca de 2% dos artigos que vê. Isso, não lhe dá, sequer, capacidade de argumentar o texto..

          • Eu tento, mas tu bates todos os recordes!…
            Tudo bem que tens as tuas limitações e necessidade especial de atenção, mas não deves abusar da paciência das pessoas…

      • o problema é que estas explanações causam alergia à larga maioria dos frequentadores destes sites… tudo o que tiver mais de 3 linhas de texto e não conter insultos gratuitos, é logo repudiado… é curioso constatar como apesar do aumento da escolaridade obrigatória, a estupidez tem aumentado ainda mais… é caso para perguntar, “de que serve a esta gente andar na escola?”

        • Caro helio neves, parafraseando-o, «é caso para perguntar, “de que serve (de que terá servido) a esta gente andar (ter andado) na escola?»
          É a pergunta que também venho fazendo a mim próprio há já algum tempo. Mas a resposta existe; não pode é ser dada aqui. Reflexo do que nela se pode encontrar está habitualmente a incapacidade de análise e de crítica que leva à falta de argumentação. Mais uma prova disso é o brevíssimo comentário ao meu poema BASTA, abaixo transcrito. É o que temos!!!

  7. Por acaso há … e no caso grande parte é correcta! O único erro reside no facto de os judeus não serem nem “raça” nem “povo” (muito menos escolhido – a não ser os dirigentes do estado pária de israel por Trump e seus acólitos).

  8. É curioso!
    Parece que toda a gente tem peninha dos judeus. Até Trump, ao tentar desviar de si próprio a atenção de quem viu o desenho do nosso António. Diz ele: «terrível cartoon anti-semita».
    Ora o cartoon não é anti-semita, é ou poderia ser, sim, antiTrump, mas nem isso, pois não passa de um retrato (e os retratos não são anti-retratados), de um retrato metafórico do Presidente dos USA, que, se não é cego, aqui, com a sua “crítica”, parece fazer-se, de propósito, como que o desenho não tenha que ver consigo.
    Os judeus, esses parecem ter enfiado a carapuça. Se o fizeram, lá saberão porquê…

  9. Para quem vê anti-semitismo em tudo que não seja pró-Israel, será que este poema também é anti-semita? Para Trump, pelo menos, é capaz de ser.
    Elaborei-o em finais de Dezembro de 2008, na sequência da ofensiva israelita levada a cabo, por essa altura, na Faixa de Gaza. Poema que por aí anda, também na NET.

    BASTA

    Nas ruas envermelhadas
    pelo sangue de tanta gente
    andam vidas obrigadas
    a ver a morte de frente.

    É o sionismo em acção.
    Nem olha a meios, pensando
    que só pode ter razão
    se mais gente for matando.

    E a pobre Palestina,
    que foi Terra Prometida,
    em vez de Paz tem ruina
    e uma guerra fratricida.

    Porque quem foi perseguido
    em tempos que já lá vão
    prefere estar só, consigo,
    a juntar-se ao Povo Irmão.

    Dezembro de 2008.
    Sérgio O. Sá, in Diário de um Marginal.

  10. Quando foi o Charlie Hebdo a satirizar Alá era em nome da liberdade de expressão, agora parece que não …
    Acho que o humor continua a ser mal interpretado, mas é sem dúvida a forma mais inteligente de crítica, apenas acessível em países que continuam a prezar a liberdade de expressão como uma conquista e não como um dado adquirido, algo que pelo caminho do populismo que se está a seguir, em breve deixará de ser uma realidade (e não, não sou de esquerda nem de direita, mas acredito que a democracia ainda pode ser salva).

  11. Sabe qual é o seu problema??? É ver a realidade só com um olho. Porque está indignado com um cartoon, que por sinal é demonstrativo do que realmente se passa em israel e nos eua. E depois o que é que quer??? Grande parte da opinião publica mundial está a ter sentimentos anti semitas, anti israeal??? E normal e até muito aceitavél. E porque será??? Será por causa de cartoons como este??? Nao, nao é. É pelo desrespeito pelas resoluções da ONU (para que serve afinal????). É pela ocupação ilegal de territorios de outras paises. É pelas nova anexações que se anunciam em cisjordania e em gaza. É pelos assassinios diarios e continuos de palestinianos. Sim o mundo precisa de dizer que israel é criminoso e terrorista e qualquer meio serve, sejam cartoons, seja boicotes, o proximo festival da canção devia ser boicotado, para dar um sinal de que nao apoiam as brutalidades e os crimes de israel, em sentidoi contrario, estão aqueles que vao participar no festival, que ao comparecerem estão a dizer ao mundo que acham muito bem e apoiam todos esses crimes e actos terroristas do estado de israel.

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