Na Bielorrússia, Svetlana Tikhanovskaya, candidata da oposição de apenas 37 anos, está a fazer frente ao mais antigo líder da europa, na corrida as eleições presidenciais.
Tikhanovskaya mantém-se firme na luta pelo poder contra o presidente bielorrusso Alexander Lukashenko, de 65 anos, numa eleição inesperadamente incerta, marcada para 9 de agosto.
Tradutora de inglês e mãe de dois filhos, a bielorrussa Svetlana Tikhanovskaya decidiu concorrer depois do seu marido, um bloguer muito popular, ter sido preso acusado de violar a ordem pública e as leis eleitorais.
Durante uma manifestação em Minsk, a candidata afirma “eu não preciso de poder, mas o meu marido está atrás das grades“, assegurando que o que a move é apenas uma questão de justiça.
Revoltada com as repercussões que as decisões políticas tomadas no seu país têm, desabafa. “Tive de esconder os meus filhos. Estou cansada de suportar isto. Estou cansada de ficar em silêncio. Estou cansada de ter medo“, conta a NPR.
A manifestação que se realizou no passado dia 30 de julho, estava repleta de apoiantes a Svetlana. A candidata tem vindo a atrair multidões nas cidades da Bielorrússia desde que se uniu às campanhas de dois outros candidatos da oposição. Neste momento um deles está em prisão preventiva e o outro fugiu para a Rússia por questões de segurança.
A principal promessa da campanha de Tikhanovskaya é realizar novas eleições, livres e justas com a participação de todos os candidatos da oposição. O slogan da sua campanha é o mesmo que o nome do blogue do seu marido “um país para se viver”.
Para além disso, a jovem candidata apela aos bielorrussos que exijam assistência médica, educação de qualidade e uma política externa que procure criar boas relações diplomáticas e não inimigos em todo o mundo.
Desde o fim da União Soviética que o país tem como governante Lukashenko, que mesmo assim reintroduziu algumas medidas antigas que se mostraram um fracasso para os cofres nacionais. O país tem sobrevivido à custa de apoios do Kremlin na área da energia,
ao mesmo tempo que vai conseguindo esquivar-se às intenções do presidente Putin de criar uma relação política e económica mais estreita.
Tikhanovsaya tornou-se a principal opositora do mais antigo líder da Europa depois de o seu marido, Sergei Tikhanovsky ter sido preso. O bloguer ganhou popularidade com o seu canal de Youtube, que abordava questões socioeconómicas ignoradas pela televisão estadual.
A Amnistia Internacional tomou uma posição e considera que Sergei é um “prisioneiro de consciência” e condena a crescente repressão dos direitos humanos no país.
Por outro lado, o porta-voz Morgan Ortagus, do departamento de estado dos EUA, mostrou-se alarmado num post publicado na rede social Tweeter “estamos preocupados com os relatos de protestos e detenções em massa (…) é importante que o governo admita as mesmas condições para todos os que desejam participar nas eleições”.
Lukashenko está a tentar uma aproximação com Washington com o objetivo de combater a pressão do Kremlin. O estreitamento de laços favoreceu Minsk, uma vez que foi nomeado um novo embaixador dos EUA, cargo que não era ocupado desde 2008 devido à divisão de relações entre os dois países.
Ainda assim o presidente mantém tem uma postura contraditória no que diz respeito às relações com o Ocidente. “Não gostaríamos de recorrer ao uso das forças armadas, no entanto, tudo pode acontecer. Os EUA são exemplo disso”, diz, referindo-se ao destacamento de agentes federais nos Estados Unidos devido a protestos em algumas cidades norte-americanas.
A perspetiva de uso da força surge numa altura em que a Agência de Segurança do Estado da Bielorrússia (KGB) informou o presidente que 33 militares que trabalhavam para a Rússia foram presos em Minsk. Segundo a agência, estes planeavam fomentar agitação antes das eleições e que há mais 150 homens em liberdade.
Na quinta-feira, investigadores bielorrussos abriram um processo criminal contra os russos, que foram associados ao marido de Tikhanovskaya, alegações que a candidata considera pouco plausíveis.
Também um porta-voz de Putin já se pronunciou, afirmando que os relatórios dos bielorrussos estão carregados de “insinuações” e “especulações”, e manifestando a esperança de que os russos sejam libertados, negando a existência de militares privados.
Andrei Sinitsyn, editor do jornal russo online Republic.ru, lembra que esta situação não é uma novidade pois “é uma tradição antiga de Lukashenko usar terroristas como bicho-papão”.
A oposição da Bielorrússia tem receio de que a caça aos militares russos no país possa ser usada como pretexto para o uso de medidas mais drásticas por parte das autoridades, mas esse medo não impediu os apoiantes da sua candidata de se mostrarem ativos em Minsk.