“Nunca faremos parte dos EUA”. Uma “rockstar” chegou ao poder no Canadá (mas o país vai às urnas)

NEIL HALL/EPA

O antigo presidente do Banco de Inglaterra, Mark Carney, foi eleito o próximo primeiro-ministro do Canadá.

Economista altamente qualificado, regulador duro, mas sem grande experiência política, Mark Carney substitui Trudeau e garante que tal “como no hóquei, o Canadá vencerá”. Entretanto, Trump admite possibilidade de recessão nos EUA.

O ex-governador do Banco do Canadá e do Banco de Inglaterra, Mark Carney, de 59 anos, foi eleito este domingo para substituir o primeiro-ministro canadiano Justin Trudeau na liderança do Partido Liberal e do Governo.

De acordo com a agência EFE, Mark Carney foi eleito com cerca de 400 mil votos (86%) de cerca de 152 mil votantes do Partido Liberal, derrotando a ex-vice-primeira-ministra e ministra das Finanças Chrystia Freeland, cuja demissão do governo em dezembro desencadeou a crise que culminou agora com a eleição do ex-governador do Banco do Canadá.

Mark Carney substitui na liderança do Partido Liberal e do Governo Justin Trudeau, que anunciou a demissão em 6 de janeiro após oiyo anos no cargo, depois de enfrentar uma crescente perda de apoio tanto no seu partido como no país.

Trudeau, descendente de Pierre Trudeau, um dos primeiros-ministros mais conhecidos do Canadá (entre 1968 e 1979 e, depois, entre 1980 e 1984), tornou-se profundamente impopular entre os eleitores devido a uma série de questões, incluindo o aumento do custo dos alimentos e da habitação, bem como o aumento da imigração.

Apesar de tudo, espera-se que Carney conduza o país a novas eleições durante o seu mandato-tampão. Caso não o faça, a oposição pode forçar uma ida às urnas através de uma moção de censura no Parlamento.

Quem é Carney?

Mark Carney foi comparado a uma estrela de rock em 2012, quando foi nomeado e se constituiu como o primeiro estrangeiro a ocupar o cargo de governador do Banco de Inglaterra desde a sua fundação em 1694.

A nomeação de um canadiano mereceu elogios bipartidários na Grã-Bretanha, depois de o Canadá ter recuperado mais rapidamente do que muitos outros países da crise financeira de 2008. Ao longo do seu percurso, ganhou a reputação de ser um regulador duro.

Apesar da falta de experiência na política, é visto como um economista altamente qualificado, com experiência em Wall Street, a quem se atribui o mérito de ter ajudado o Canadá a evitar o pior da crise económica global de 2008 e de ter ajudado o Reino Unido a gerir o Brexit — foi o primeiro estrangeiro de sempre a comandar o Banco de Inglaterra.

“Quem quer defender o Canadá comigo?” questionou o novo líder, no seu primeiro discurso como vencedor. Carney deve ser empossado nos próximos dias.

“São dias sombrios, provocados por um país no qual já não podemos confiar”, afirmou Carney, numa altura em que o Canadá vive uma escalada de tensões com os Estados Unidos — que ameaçam com uma guerra comercial e até com uma eventual anexação do seu vizinho a norte desde a tomada de posse do novo presidente Donald Trump.

“O Canadá nunca será parte dos Estados Unidos, de forma alguma. E no comércio, como no hóquei, o Canadá vencerá”, garantiu o novo líder canadiano.

Trump admite possibilidade de recessão nos EUA

O Presidente norte-americano disse no domingo que espera um “período de transição” económica marcado pelas tarifas que os Estados Unidos impuseram ou pretendem impor a produtos de outros países.

“Detesto prever coisas desse género. Há um período de transição, porque o que estamos a fazer é tão bom que estamos a trazer a riqueza de volta aos Estados Unidos”, afirmou em entrevista à emissora conservadora norte-americana Fox News, quando questionado sobre alguns dados que apontam para uma recessão este ano.

No avião presidencial, o Air Force One, de regresso após passar o fim de semana na casa em Mar-a-Lago, Trump disse que é normal duvidar sobre a possibilidade de os EUA entrarem em recessão.

“Quem sabe? Tudo o que posso dizer é que vamos arrecadar centenas de mil milhões [de dólares] em tarifas e vamos ficar tão ricos que não vamos saber como gastar todo esse dinheiro”, respondeu.

Paralelamente, numa entrevista a uma outra emissora norte-americana, a NBC, o secretário do Comércio, Howard Lutnick, garantiu que não vai haver recessão nos EUA. “As tarifas globais vão baixar porque o Presidente Trump disse: ‘Querem impor-nos 100%? Nós vamos impor-lhes 100%'”, argumentou.

Trump teve de abordar os avanços e recuos nas taxas dirigidas ao México e ao Canadá, que estão a preocupar os mercados, e avançou que as “tarifas recíprocas” entram em vigor a 2 de abril. O republicano insistiu que a imposição das taxas acontece porque outros países estão “a roubar” os Estados Unidos.

Na semana passada, Trump reconheceu que a política económica que está a adotar pode exigir “pequenos ajustes” aos norte-americanos. No que se refere às tarifas recíprocas sobre os produtos dos países que tributam as importações dos EUA, Lutnick explicou: “Alguns produtos fabricados no estrangeiro podem ser mais caros, mas os norte-americanos ficarão mais baratos, e é esse o objetivo”.

Desde que regressou à Casa Branca, Trump ameaçou com tarifas México, Canadá, China, entre outros países. As taxas foram aplicadas mas, em alguns casos, foram revertidas temporariamente, como no caso dos bens incluídos no acordo de comércio livre T-MEC com os vizinhos Canadá e México.

“Vamos atrair empregos, vamos reabrir fábricas”, prometeu o Presidente, em declarações à imprensa na tarde de domingo, antes de aterrar em Washington. Em relação à pausa nas tarifas sobre o setor automóvel, que está totalmente integrado entre os três países, Trump declarou que o fez porque queria “ajudar os fabricantes norte-americanos”.

O republicano referiu, porém, que as taxas “podem subir” mais tarde.

Trump recusou-se a avaliar estas políticas tendo em conta o impacto na bolsa e propôs o modelo de acompanhamento económico chinês: “Se olharmos para a China, eles têm uma perspetiva de 100 anos. Nós vamos por trimestres, e não se pode fazer isso dessa forma, é preciso fazer a coisa certa”, disse.

ZAP // Lusa

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.