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Neste café, os empregados trabalham a partir de casa

Dawn Avatar Robot Cafe

Dawn Avatar Robot Cafe, Tóquio, Japão.

Parece difícil de acreditar, mas no café DAWN, localizado no bairro de Nihonbashi, os empregados recolhem o seu pedido e levam-lhe o seu cafezinho sem saírem de casa.

Estes 60 empregados são, além de ‘garçons’, pilotos. Têm, todos, outra característica comum: são deficientes motores. Como infelizmente não podem trabalhar fora de casa, operam remotamente 60 elegantes robôs, que servem os clientes no estabelecimento japonês.

O café situado em Tóquio, que começou como uma experiência pop-up há seis anos, tornou-se recentemente um estabelecimento permanente graças ao seu conceito não só inovador, mas também transformador no campo da inclusão social.

Cerca de 16% da população mundial vive com deficiências que limitam a sua capacidade de desempenhar as suas funções no emprego, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). No Japão, apenas 19% das pessoas com deficiência em idade ativa estão empregadas, de acordo com cálculos da Bloomberg de 2021. Em 2020, 34 milhões de pessoas no Japão estavam limitadas à sua casa devido a deficiências motoras, doenças mentais ou velhice.

Com uma plataforma onde as pessoas com deficiências como esclerose lateral amiotrófica ou esclerose múltipla podem participar no dia-a-dia do trabalho, reduzindo os sentimentos de isolamento e inutilidade, o DAWN tenta desafiar as várias barreiras sociais enfrentadas por estas pessoas.

Kentaro Yoshifuji, fundador e diretor executivo do Ory Laboratory, a empresa que está por detrás dos servidores robóticos do estabelecimento, criou o laboratório com o objetivo de permitir que os indivíduos acamados ou presos em casa participem mais plenamente na sociedade e de combater a solidão, que muitas vezes acompanha a deficiência.

Com essa meta em mente, criou o OriHime, um robô que vê, ouve, fala e que pode ser controlado ao longe a partir de um smartphone ou tablet. Não há qualquer Inteligência Artificial (IA) envolvida. O OriHime é a personificação dos empregados que estão em casa ou em quartos de hospital: apesar de ser ele a interagir “cara a cara” com os clientes, os empregados controlam todas as suas ações a partir de casa.

Junto com o menu, os clientes recebem um catálogo com a imagem e história de cada empregado por trás de cada OriHime.

Tendo também ele estado acamado durante vários anos durante o liceu devido a um problema de saúde, o empresário compreende os desafios enfrentados pelas pessoas com mobilidade limitada.

“É desolador pensar que as pessoas com deficiência sentem que são um fardo para a sociedade, ou que receiam que as suas famílias sofram ao cuidar delas”, disse Yoshifuji.

“Há muitas dificuldades na minha vida diária, mas acredito que a minha vida tem um objetivo e não está a ser desperdiçada. Ser útil, ser capaz de ajudar outras pessoas, e até sentir que os outros precisam de mim, é muito motivador”, confessa um funcionário do DAWN, Shota Kuwahara, que luta contra distrofia muscular.

“Quando opero o OriHime a partir de casa, é como se estivesse mesmo lá!“, adianta Shota.

“Até começar a trabalhar no DAWN sentia que era um enorme fardo para as pessoas à minha volta e que não conseguia contribuir com nada nem ajudar ninguém”, desabafa Sae, que sofre de transtorno somatoforme.

“Um dia, de repente, disseram-me que a minha única opção era um transplante de coração. Tive de deixar de trabalhar. Refugiei-me na minha concha”, recorda Naoki, piloto do café que aguarda um transplante. O seu primeiro pensamento foi: “agora, posso regressar à sociedade”.

“Desde que fui diagnosticada com um distúrbio mental, falta-me confiança em tudo”, diz Kotonoha, que sofre de enxaquecas severas e depressão: “Cheguei a um ponto em que estava sempre deprimida e ficava em casa o dia todo, mas no DAWN tornei-me mais poderosa e positiva”.

Tomás Guimarães, ZAP //

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