O comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni, admite ter havido um declínio do poder de compra das famílias nos últimos trimestres, penalizado pela inflação e pela subida das taxas de juro, mas quer evitar uma espiral de aumento de salários.
Apesar de previsões de crescimento da economia portuguesa acima do esperado, a Comissão Europeia nota que o poder de compra dos portugueses diminuiu e que a inflação se fará sentir ainda por algum tempo — sobretudo no preço dos alimentos.
O comissário europeu com a pasta da Economia, Paolo Gentiloni, admite esta contradição, mas diz que é importante evitar uma espiral de aumento de salários, apesar de admitir que há margem para subidas em certos setores.
“De facto, há uma contradição. Temos por um lado perda de poder de compra. Está previsto que os resultados dos aumentos de salários só se façam sentir no próximo ano. Este ano, temos esse aspeto social que temos que ter em conta“, diz o comissário.
“Mas ao mesmo tempo, temos que tentar evitar uma espiral de aumento de salários”, acrescenta Paolo Gentiloni.
Mesmo assim, o comissário admite que ainda há, em certos setores, uma margem para aumentos de salários sem que essa subida tenha influência na inflação. “Há uma margem, que vai diminuir nos próximos anos, mas este ano existe, sobretudo nos setores onde a recuperação da procura é mais clara”, diz Gentiloni.
O comissário destacou as “previsões positivas” divulgadas para Portugal, nas quais se antevê um crescimento da economia este ano de 2,4%.
Gentiloni realçou também a redução do défice em 2023, apesar das “medidas significativas” face à crise energética.
“É interessante notar também que o saldo orçamental do PIB, apesar de um certo número de medidas significativas relacionadas com a energia que tiveram um impacto substancial no orçamento, é melhor do que o de outros Estados-membros”, salientou.
A previsão para este ano coloca Portugal no ‘top três’ dos países da zona euro com a maior taxa de crescimento deste ano, a par da Grécia, apenas ultrapassados pela Irlanda (5,5%) e por Malta (2,4%).
As projeções colocam também Portugal como o país com o menor défice da zona euro e da União Europeia (UE) este ano, um resultado orçamental apenas ultrapassado pelos excedentes projetados para Irlanda (1,7%) e para o Chipre (1,8%) – e pelos 2,3% previstos para a Dinamarca.