Os brasileiros escolhem este domingo o presidente que irá substituir Michel Temer no Palácio do Planalto em disputa polarizada entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad.
Em apenas quatro anos, o Brasil viveu uma crise económica que elevou o desemprego, uma crise política que culminou no afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT) e que por pouco também não derrubou o actual mandatário, Michel Temer (MDB), e uma crise de confiança nas instituições políticas com o desenrolar da Operação Lava Jato, que levou inúmeras lideranças partidárias à prisão.
Ainda em crise, o país volta às urnas este domingo, numa eleição mais dividida que nunca. Os dois nomes à frente da disputa repetem a polarização entre esquerda e direita vista nas presidenciais de 2014.
Jair Bolsonaro (PSL), capitão reformado do Exército, cavalga no fervor antipetismo [anti-PT] da população ressentida com os casos de corrupção nos governos de Lula e Dilma (2002-2016).
O candidato da extrema-direita lidera as sondagens de intenção de voto e busca, nos últimos dias de campanha, a possibilidade de ganhar a Presidência logo na primeira volta eleitoral. Para isso, precisa atingir a marca de 50% dos votos válidos mais um.
Fernando Haddad (PT), ex-presidente da Câmara de São Paulo e nomeado por Lula como o nome petista para a disputa após a Justiça Eleitoral barrar o ex-presidente da competição, subiu rapidamente nas sondagens ao ser anunciado candidato, mas permaneceu estagnado em segundo lugar nesta última semana, com 25%* dos votos.
Numa possível segunda volta, a última sondagem Ibope/Estado/TV Globo, divulgada este sábado, aponta um empate técnico entre Bolsonaro e o petista no limite da margem de erro (52% a 48%*). O cenário dá margem de vitória ao capitão reformado.
O candidato da extrema-direita alcançou 41% das intenções de voto dos brasileiros, nas que são as últimas sondagens divulgadas pelo Ibope antes do início das eleições presidenciais deste domingo, contra 25% de Fernando Haddad.
Dcordo com as sondagens do instituto Datafolha, Jair Bolsonaro alcança os 40% e Fernando Haddad mantém-se com 25% das preferências do eleitorado brasileiro.
A disputa acirrada encontrou o seu auge no último fim de semana, quando actos pró e contra Bolsonaro reuniram manifestantes pelas ruas do País.
Lideradas por mulheres, o movimento #EleNão reuniu milhares de pessoas em todas as capitais estaduais no sábado, 29 de setembro, em denúncia ao caráter machista e misógino do discurso e propostas do candidato da extrema-direita, além das suas posições conservadoras em questões de género e sexualidade.
A acção ganhou força nas redes sociais e apoio internacional, incluindo de um grupo de deputadas portuguesas de esquerda.
No domingo, 30, simpatizantes de Bolsonaro retaliaram com a sua própria manifestação e foram às ruas de nove capitais e dezasseis cidades com trajes verdes e amarelos, semelhante às manifestações a favor do impeachment de Dilma Rousseff, em 2016.
Ainda a recuperar-se de um atentado sofrido em campanha, quando foi esfaqueado em Minas Gerais e teve que ser internado de urgência, Bolsonaro não esteve presente no ato principal, em São Paulo, mas enviou o filho, Eduardo Bolsonaro, deputado federal e candidato à reeleição, que reafirmou as posições do pai de uma vitória na primeira volta.
As “terceiras vias”
Ao contrário das previsões de uma possível renovação na disputa eleitoral, a busca por uma terceira via, ou seja, um candidato que não representasse uma polarização entre esquerda e direita, não foi para a frente.
Em terceiro lugar, o ex-ministro das Finanças e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes (PDT), segue com 13% das intenções de voto. Visto como uma opção de centro-esquerda e, até à última pesquisa Ibope, apontado como o único candidato a vencer Bolsonaro no limite da margem de erro (52% a 48%), Ciro perdeu forças após a entrada de Haddad na disputa, mas ainda acredita numa possível reviravolta na primeira volta.
À direita, o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), não teve sucesso com a sua candidatura apesar de contar com o expressivo apoio do “Centrão”, grupo de cinco partidos de centro e centro-direita. Em quarto lugar, Alckmin regista apenas 8% dos votos válidos e vê, pela segunda vez, uma derrota nas presidenciais. A primeira foi em 2006, contra Lula.
Marina Silva (Rede), que procura a presidência pela terceira vez consecutiva, passa pelo seu pior desempenho eleitoral desde 2010. Apesar de ter ganhado impulso no início da campanha, com acenos ao eleitorado feminino contrário a Jair Bolsonaro, a ex-ministra do Meio Ambiente se vê na reta final com apenas 3% dos votos válidos.
Em 2014, Marina chegou ao segundo lugar durante a campanha, com possibilidades de vencer Dilma Rousseff, mas acabou também por murchar após ataques dos adversários e acabou fora da segunda volta.
Há outros oito candidatos, espalhados pelo espectro político brasileiro, incluindo Alvaro Dias (Podemos), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB) e Cabo Daciolo (Patriota).
Ao todo, 13 candidatos disputam a presidência neste ano. Apesar de tantas opções, mais de 147 milhões de brasileiros vão às urnas neste domingo ainda sem certezas quanto ao futuro político e económico do País.
Em crise, a única certeza para o Brasil é que, independentemente do resultado, a divisão continuará a mostrar-se tão forte quanto em 2014.
Artigo publicado no JPN por Paulo Roberto Netto. O autor é jornalista e ex-aluno de mobilidade internacional da Universidade do Porto, onde frequentou Ciências da Comunicação e Línguas e Relações Internacionais. Actualmente, vive em São Paulo, onde é repórter do jornal “O Estado de S. Paulo”.