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Bolsonaro nega ter chamado covid-19 de “gripezinha”, mas fê-lo pelo menos duas vezes

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Joedson Alves / EPA

O Presidente brasileiro negou na quinta-feira ter-se referido à covid-19 como “gripezinha”, afirmando que não há nenhum registo que prove o oposto, apesar de a imprensa ter partilhado pelo menos dois vídeos com esse conteúdo.

“Falei lá atrás que, no meu caso, pelo meu passado de atleta — eu não generalizei — se pegasse a covid-19, não sentiria quase nada. Foi o que eu falei. Então, o pessoal da media falou que eu chamei de ‘gripezinha’ a questão da covid. Não existe um vídeo ou um áudio meu falando dessa forma. E eu falei pelo meu estado atlético, porque eu sempre cuidei do meu corpo. Sempre gostei de praticar desporto”, disse Jair Bolsonaro, na sua transmissão semanal na rede social Facebook.

Contudo, em pelo menos duas ocasiões, o chefe de Estado brasileiro, um dos mais céticos em todo o mundo em relação à gravidade da pandemia, referiu-se publicamente à doença causada pelo novo coronavírus como uma “gripezinha”.

A primeira vez ocorreu em 20 de março deste ano quando, ao conceder uma entrevista no Palácio do Planalto, em Brasília, Bolsonaro afirmou que, depois da facada que sofreu em 2018, durante a sua campanha eleitoral, não seria uma “gripezinha” que o iria derrubar, após comentar a realização de dois testes para deteção da covid-19.

“Depois da facada, não vai ser uma gripezinha que me vai derrubar não, está ok? Se o médico ou o ministro da Saúde me recomendar um novo exame, eu farei. Caso contrário, me comportarei como qualquer um de vocês aqui presentes”, declarou Bolsonaro, depois de ter se submetido a dois testes à covid-19, que resultaram negativo.

Quatro dias mais tarde, num pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão, Bolsonaro pediu o regresso “à normalidade no país” e o fim do “confinamento em massa”, quando a pandemia ainda estava nos seus meses iniciais, acusando ainda a imprensa de espalhar o “pavor” na população.

O chefe de Estado declarou, naquele seu pronunciamento à nação, que se contraísse o novo coronavírus, seria “acometido de uma “gripezinha ou resfriadinho”.

“No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado com o vírus, não precisaria de me preocupar. Nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou resfriadinho. (…) Enquanto estou falando, o mundo procura um tratamento para a doença”, afirmou o Presidente do Brasil, na noite de 24 de março.

Em ambas as ocasiões, as declarações de Bolsonaro foram registadas em vídeo pela imprensa local. Após Bolsonaro negar, na quinta-feira, que tenha feito tais referências, vários internautas foram às redes sociais partilhar os vídeos em que o Presidente classificou a covid-19 de “gripezinha”.

Durante a transmissão ao vivo nesta quinta-feira, acompanhado do ministro da Educação, Milton Ribeiro, e do secretário de Alfabetização do Ministério da Educação, Carlos Nadalim, Bolsonaro advogou ainda que um “estudo sério” será divulgado sobre a efetividade do uso de máscaras durante a pandemia, frisando que falta “o último tabu a cair”.

“A questão da máscara, não vou falar muito porque ainda vai ter um estudo sério falando da efetividade da máscara — se protege 100%, 80%, 90%, 10%, 4% ou 1%. Vai chegar esse estudo. Acho que falta apenas o último tabu a cair“, declarou o mandatário.

Brasil já estará na segunda vaga

O Brasil experimenta uma segunda onda de infeções por covid-19, defende Domingos Alves, especialista em modelagem computacional e porta-voz de um grupo de cientistas da Universidades de São Paulo (USP) que analisa informações sobre a pandemia.

“Os dados estão indicando que estamos dentro de uma segunda onda (…) Estamos numa segunda onda e se não houver medidas [das autoridades] esta onda irá crescer” disse Alves em entrevista à Lusa.

O especialista explicou que o Brasil regista uma tendência sustentada de alta no número das infeções e lembrou que a taxa de reprodução (Rt) da covid-19, usada para calcular quantas pessoas são contaminadas por alguém infetado, tem subido desde outubro.

“Em 6 de outubro quatro estados do Brasil tinham uma taxa de infeção (Rt) maior do que 1. No dia 27 de outubro passaram a ser 15 estados e no dia 16 de novembro eram 21 estados. Destes 21 estados, 16 deles tinham esta taxa de infeção acima de 1 há mais de 14 dias”, frisou. Quando o índice está acima de 1, a previsão é de aumento de casos já que cada infetado contamina pelo menos mais uma pessoa.

O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo maior número de mortos (mais de 6,2 milhões de casos e 171.460 óbitos), depois dos Estados Unidos.

ZAP // Lusa

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