Da pandemia à educação, o “Bloqueio de Esquerda” afastou-se do IL, que “fica muito caro” aos jovens

Bloco de Esquerda e Iniciativa Liberal defrontaram-se e discutiram visões para dois países diferentes, desde a saúde à educação e da pandemia à economia.

Já cantava Rui Veloso que “muito mais é o que nos une, que aquilo que nos separa”. Mas entre o Bloco de Esquerda e a Iniciativa Liberal, isto não é propriamente verdade e o debate desta quinta-feira provou-o irrefutavelmente.

A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, e o presidente da Iniciativa Liberal, João Cotrim Figueiredo, estiveram frente a frente na SIC Notícias, um debate para as eleições legislativas de 30 de janeiro sempre em tom cordial e em que as principais trocas de acusações chegaram no final.

Pandemia, saúde, impostos e educação foram temas em que os dois partidos divergiram nas suas opiniões.

“Na saúde, como na escola e um pouco como tudo o resto, a questão da Iniciativa Liberal não é a liberdade de escolha, é colocar o estado a financiar vários negócios privados. A Iniciativa Liberal, que não gosta nada do Estado, depois quer uma espécie de ‘Estado papá’ para pagar os negócios de toda a gente”, atirou Catarina Martins, no momento em que o debate chegou ao tema da educação.

A líder do BE – que por diversas vezes criticou que a IL não tenha ainda programa eleitoral apresentado – recordou uma proposta do programa liberal de 2019 no qual era sugerido que Portugal deixe de financiar o ensino superior público, “empurrando assim os estudantes para créditos a 30 anos com juros de 3% mais spread para financiarem integralmente os seus estudos”, considerando que o partido “fica muito caro” à geração mais jovem deste país.

Na réplica, João Cotrim Figueiredo disse que, apesar de gostar de responder a esta questão da educação, não queria “deixar acabar o debate” sem falar do seu principal foco nesta campanha que é o crescimento económico.

“O Bloco de Esquerda tem zero propostas sobre crescimento económico. Aliás, gostava de saber qual é o modelo económico que o Bloco de Esquerda defende”, criticou, aproveitando este raciocínio para dar um novo nome ao partido de Catarina Martins, que deveria ser conhecido como o “bloqueio de esquerda”.

Para o deputado único liberal, o BE, “que em tempos já foi um partido querido pelas camadas mais jovens, hoje em dia perdeu completamente esta capacidade de ser um farol para aqueles que querem um Portugal mais moderno”.

“O que a Iniciativa Liberal oferece aos jovens é começarem a sua vida com um crédito monumental em cima para poderem estudar se não forem milionários, é pagarem rendas num mercado desregulado que não conseguem pagar e trabalharem sem regras, nem sequer regras salariais, e, portanto, com salários muito baixos”, respondeu, na réplica, a líder bloquista.

Catarina Martins considerou que a “ideia de um Portugal em que só alguns têm oportunidade e a generalidade é completamente abandonada é uma ideia absurda, velha”, com Cotrim Figueiredo a contrapor que essa não é a ideia do partido.

“E a Iniciativa Liberal pode fazer da irresponsabilidade propaganda, mas não tem nenhuma ideia que permita a alguém construir aqui vida e nós não desistimos do nosso país”, disse Catarina Martins a encerrar o debate.

Foi na questão da pandemia que o debate entre os dois líderes partidários aqueceu. Catarina Martins salientou que havia um “elefante na sala”, referindo-se à organização de um “arraial liberal” em protesto contra as medidas sanitárias. A bloquista procedeu a perguntar a Cotrim Figueiredo quantas das 19 mil vidas perdidas para a covid-19 teriam sido poupadas se não houvesse medidas restritivas.

O liberal respondeu que “distorcer os dados” é algo “típico do Bloco de Esquerda” e que o seu partido nunca se opôs às medidas restritivas. Pelo contrário, a IL “foi contra os estados de emergência, à exceção do primeiro”, e contra “os excessos” que “impunham uma limitação à liberdade das pessoas”.

Os dois partidos voltariam a divergir quanto ao salário mínimo, escreve o Expresso. Enquanto o Bloco de Esquerda propõe subir em 10% por ano, a Iniciativa Liberal não concorda sequer com a sua existência. Dando o exemplo da Dinamarca, Cotrim Figueiredo salientou que poderiam existir vários salários mínimos, “sectoriais, regionais, municipais”.

Catarina Martins respondeu na mesma moeda e realçou que a Dinamarca tem uma maior carga fiscal que Portugal. Isto porque a Iniciativa Liberal propôs em 2019 uma taxa única de IRS de 15% e, como Cotrim Figueiredo disse no debate, “a redução fiscal produz crescimento [económico]”.

Daniel Costa, ZAP // Lusa

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