Depois da novela mexicana, argentino de 39 anos assina contrato de duas épocas e meia, anunciou o FC Porto esta segunda-feira. Villas-Boas promete futebol “arrojado” com “o líder que precisávamos”.
O argentino Martín Anselmi, que orientava os mexicanos do Cruz Azul, é o novo treinador do FC Porto, tendo assinado um contrato de duas épocas e meia, até 2027, anunciou esta segunda-feira o clube azul e branco.
“O Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD (“FC Porto”) informa o mercado, os seus associados, adeptos e simpatizantes, bem como o público em geral, que chegou hoje a acordo e celebrou contratos de trabalho com Martin Anselmi como treinador da sua equipa principal de futebol, bem como com a restante equipa técnica, válidos até ao final da época desportiva 2026/27”, refere o clube em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
“Mi casa es su casa”, escreveu o FC Porto nas redes sociais, anunciando a chegada do treinador argentino: “bienvenido, Martín Anselmi”.
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“Estamos seguros que trarás muitos sucessos e muitos troféus, acreditamos em ti e que és a continuação viva do nosso projeto desportivo. União e simbiose de estruturas desportivas. Estamos seguros que és o líder que precisávamos”, começou por dizer André Villas-Boas na apresentação do novo técnico portista.
“Tem uma história de um aprendiz do jogo, uma história apaixonante e parecida com a minha“, explicou Villas-Boas: “o Martín também trabalhava na loja do seu pai com jornais desportivos, eu queria ser jornalista desportivo, o Martín tornou-se um estudioso. Ele treinava os seus colegas, eu treinava os miúdos das camadas jovens do FC Porto”.
“As sensações são enormes. Muita felicidade. Aqui respira-se algo com o qual sonhei toda a minha vida. Paixão, cultura pelo trabalho, exigência, a necessidade que a equipa transmita luta”, disse depois o treinador, lembrando… Belluschi, médio que passou pelo plantel portista.
“Passaram muitos jogadores pelo FC Porto. Belluschi… Como disse o presidente, sentir e entender o que se vive no estádio… Queremos e estamos convencidos de que vamos construir uma equipa competitiva”, disse na apresentação.
No empate frente ao Santa Clara (1-1) no Dragão, este domingo, Anselmi esteve atento na bancada e foi visto a apontar tudo no bloco de notas, até no momento do aquecimento portista, relata o jornal Record, juntamente com os adjuntos Facundo Oreja e Luís Pastur, o preparador físico Diego Bottaioli e o treinador de guarda-redes Darío Herrera.
Quem é Anselmi?
O argentino, sem experiência europeia, integrou as equipas técnicas de Independiente (Argentina), Atlanta (Argentina), Independiente del Valle (Equador) e Internacional (Brasil), antes de se estrear como treinador principal ao serviço do Union La Calera, do Chile.
Em 2022, regressou ao Independiente del Valle, mas para ser o responsável máximo, pouco tempo depois de o português Renato Paiva ter deixado o comando dos equatorianos.
Pela formação de Sangolquí conquistou a Taça Sul-americana desse ano, numa final frente ao São Paulo, e em 2023 arrecadou a Supertaça sul-americana, diante do Flamengo, então treinado pelo português Vítor Pereira, além de ter vencido a Taça e a Supertaça do Equador. No campeonato, atingiu a final, perdida para a Liga de Quito.
Rumaria ao México em 2024, para liderar o Cruz Azul, ficando no segundo lugar da fase regular do ‘Clausura’ e, depois, perdendo a final para o Club América. No ‘Abertura’ de 2024/25, foi primeiro classificado na fase regular, mas acabou derrotado nas meias-finais, novamente pelo Club América.
O jovem técnico (39 anos), conhecido por alguns como o “Ruben Amorim” argentino, traz ideias de jogo diferentes, especialmente no que toca ao papel do guarda-redes, como já noticiou o ZAP a semana passada: as equipas do argentino atacam com os 11 jogadores.
Porto vai jogar em 3-4-3? “Sistemas não significam muito”
“Todos vão ficar entusiasmados com o futebol que o Martín propõe, ofensivo e agressivo. Estamos seguros que vai encher de alma os adeptos. Estamos muito ansiosos que construa as suas equipas, que conheça os jogadores e construa o seu futebol, arrojado, nas linhas do que o FC Porto defende, virado para o ataque“, explicou o presidente portista esta segunda-feira.
Ainda sobre o sistema e uma eventual transição na formação portista para o 3-4-3, Anselmi diz que “os rivais são os maiores maestros” da equipa.
“Queremos um futebol de vantagens, futebol posicional. Acredito muito nisso para atacar. Podemos construir com três [defesas], mas se um líbero aparecer, já podemos construir com quatro. No final das contas, os sistemas não significam muito”, confessa: “nós não elegemos como atacar o rival, elegemos como atacar. É preciso ver por onde atacamos, se há homens livres, espaço. É preciso que o sistema se mova”.
“No final das contas, o futebol evolui, os rivais adaptam-se e também melhoram. Os rivais são os nosso maiores maestros. A partir do momento em que o rival percebe as coisas, temos de nos reinventar”, disse ainda.
A bronca: “difamaram-me”
A novela desta contratação foi longa. Uma divergência sobre a cláusula de rescisão do treinador foi estipulada em 2,8 milhões de euros caso um grande clube europeu batesse à porta, mas o Cruz Azul exigia um pagamento de cerca de 5 milhões de euros.
Sobre a polémica, o novo treinador do Porto começou por dizer que “nada do que se disse nestes dias reflete a verdade”.
“Tomei uma decisão, a que considerei ser a melhor para mim. E assumo-a. Mas digo com total transparência. Prometeram-me que me deixariam sair, aceitaram uma proposta do FC Porto. Ainda assim, quando tudo estava pronto, mudaram as regras do jogo. Difamaram-me através dos meios de comunicação. Convoquei uma conferência de imprensa para falar com os adeptos, não me foi permitido pela direção. A minha família teve de sair do México de maneira repentina”, denunciou.
O Cruz Azul emitiu esta sexta-feira um comunicado onde acusa os portistas de não fornecer “qualquer documento que represente qualquer tipo de acordo” por Anselmi, mas uma carta pode “ilibar” o FC Porto. Segundo avança o Record, o diretor desportivo do Cruz Azul, Iván Alonso, aceitou por escrito uma proposta de 3 milhões de euros do FC Porto para levar Martín Anselmi, mas terá depois desaparecido do mapa e deixado de responder aos portistas.
Dragões há cinco jogos sem vencer
Anselmi substitui no cargo Vítor Bruno, que deixou o clube há uma semana, depois de três derrotas consecutivas, sendo que a transição foi assegurada pelo coordenador da formação dos dragões José Tavares, que na quinta-feira liderou a equipa na derrota com o Olympiacos (0-1), para a Liga Europa, e no domingo no empate frente ao Santa Clara (1-1).
Há nove anos que o FC Porto não tinha um treinador estrangeiro, ou seja desde a saída do espanhol Julen Lopetegui, em janeiro de 2016. Desde então, passaram pelo cargo os portugueses Rui Barros (interino), José Peseiro, Nuno Espírito Santo, Sérgio Conceição e, esta temporada, Vítor Bruno.
Os azuis e brancos ocupam atualmente o terceiro lugar da I Liga, a seis pontos do líder Sporting, com os mesmos 41 pontos do Benfica, segundo colocado, tendo já sido afastados da Taça de Portugal e perdido nas meias-finais da Taça da Liga. A equipa está há cinco jogos sem vencer.
ZAP // Lusa /
FC Porto, um clube que tem triturado treinadores: Paulo Fonseca (2013-2014), Luís Castro (2014, como interino), Julen Lopetegui (2014- janeiro 2016). Desde então, passaram pelo cargo os portugueses Rui Barros (interino), José Peseiro, Nuno Espírito Santo, Sérgio Conceição (até Junho 2024) e, esta temporada 24/25 (até 1ª quinzena de 2025), Vítor Bruno e agora o argentino Anselmi (27-1-2025).