Biden diz que Putin vai “pagar o preço” de invadir a Ucrânia e recebe apoio dos republicanos

EPA / Sarahbeth Maney / POOL

Joe Biden, no seu primeiro discurso sobre o Estado da União

Num discurso sobre o Estado da União dominado pelos problemas internos nos Estados Unidos, o Presidente norte-americano começou por tentar unir o país à volta da defesa da Ucrânia.

“Quando a história desta era for escrita, a guerra de Putin terá deixado a Rússia mais fraca e o resto do mundo mais forte”, declarou Biden.

Os Estados Unidos juntaram-se aos países que anunciaram o encerramento do seu espaço aéreo aos aviões russos, e vão usar 30 milhões de barris de petróleo das suas reservas estratégicas para amortecer o impacto das sanções aplicadas à Rússia, anunciou o Presidente norte-americano, Joe Biden, no seu primeiro discurso sobre o Estado da União, segundo relata o Público.

Ao mesmo tempo que as bombas caíam nas cidades ucranianas, na madrugada desta quarta-feira, Biden dirigia-se ao Congresso dos EUA, em Washington D.C., para dizer que o Presidente russo “irá pagar o preço” da invasão.

“Ao longo da nossa história, aprendemos a lição de que os ditadores continuam a provocar o caos quando não pagam um preço pelas suas agressões. Os custos e as ameaças, para a América e para o mundo, continuam a subir”, disse o Presidente dos EUA, num discurso centrado em questões de política interna, com uma parte inicial dedicada à guerra na Ucrânia.

“Ele pensou que o Ocidente e a NATO não iam responder”, disse Biden, referindo-se ao Presidente da Rússia, Vladimir Putin.

“E pensou que podia dividir-nos aqui no nosso país. Mas estava errado. Nós estávamos preparados”, afirmou o Presidente dos EUA, na única parte do discurso que foi recebida com fortes aplausos na bancada do Partido Republicano.

Elogio ao povo ucraniano

Antes de detalhar as sanções económicas e outras medidas que já foram decididas para responder à invasão russa, o Presidente dos EUA elogiou “o destemor, a coragem e a determinação” do povo ucraniano — representado no salão da Câmara dos Representantes pela embaixadora da Ucrânia em Washington D.C., Oksana Markarova.

“Que cada um de nós envie um sinal inequívoco à Ucrânia e ao mundo”, disse Biden, perante os aplausos dos congressistas de ambos os partidos.

“Por favor, levantem-se se puderem, e mostrem que os Estados Unidos da América estão ao lado do povo ucraniano”.

Para além do anúncio de que os EUA vão fechar o seu espaço aéreo aos aviões russos, e que vão usar 30 milhões de barris de petróleo das suas reservas estratégicas para conter os custos das sanções económicas contra a Rússia, Biden anunciou também que o Departamento de Justiça norte-americano criou um gabinete “para ir atrás dos crimes dos oligarcas russos“.

“Estamos unidos com os nossos aliados europeus para confiscar os iates, os apartamentos de luxo e os aviões privados [dos oligarcas russos]. Vamos atrás dos vossos ganhos ilícitos”, disse Biden.

“Os EUA vão lutar por cada centímetro da NATO”

Segundo o Jornal de Notícias, anunciando mais sanções a Moscovo e uma caça impiedosa aos oligarcas russos, o presidente norte-americano reforçou o apoio à Ucrânia e assegurou que, se necessário, os Estados Unidos não hesitarão em estar na linha da frente pela defesa dos territórios da NATO.

A liberdade irá sempre prevalecer sobre a tirania“, declarou o presidente norte-americano, sublinhando o apoio dos Estados Unidos a Kiev.

Putin “enfrentou um muro que não esperava, o povo ucraniano”, e “está agora isolado do mundo, mais do que alguma vez esteve”, disse o democrata.

Assumindo o papel de líder do espaço NATO, Joe Biden garantiu que os soldados norte-americanos não serão mobilizados para combater ao lado das tropas ucranianas, mas assegurou que “os EUA vão lutar por cada centímetro” do território integrante da aliança militar transatlântica, caso seja necessário.

“A guerra poderá ter deixado a Ucrânia mais fraca, mas deixou o resto mundo mais forte” e a “Europa mais unida“, acrescentou o presidente norte-americano.

Sem máscaras

Atrás do Presidente dos EUA, sentaram-se pela primeira vez, num discurso sobre o Estado da União, duas mulheres: Kamala Harris, vice-presidente dos EUA e presidente do Senado; e Nancy Pelosi, a líder da Câmara dos Representantes.

Na assistência, os congressistas dos dois partidos — alguns com peças de vestuário azuis e amarelas, as cores da bandeira da Ucrânia — e também os representantes da Administração Biden, do Supremo Tribunal e das forças armadas, assistiram ao discurso de Biden num ambiente ainda marcado pela pandemia de covid-19.

Nos últimos dias, os responsáveis médicos no Congresso deixaram cair a obrigação do uso de máscara no edifício, à semelhança do que tem acontecido um pouco por todo o país, à medida que o número de casos vai descendo de forma acentuada.

Ainda assim, a imposição de um teste à entrada — que alguns congressistas republicanos não quiseram fazer, preferindo ficar em casa — e o distanciamento nas cadeiras, fez com que o ambiente tivesse ficado ainda longe das multidões de anos passados.

Durante o discurso, o Presidente norte-americano tentou usar o abrandamento da pandemia como um motivo de união no país.

“Vamos aproveitar este momento para fazermos uma reconfiguração. Deixemos de olhar para a covid como uma linha de divisão entre partidos, e comecemos a vê-la como ela é: uma doença muito desagradável. E deixemos de nos vermos uns aos outros como inimigos. Comecemos a ver-nos como aquilo que somos: compatriotas”.

Desunião interna

O raro momento de união entre o Partido Democrata e o Partido Republicano terminou assim que o Presidente norte-americano passou para a discussão dos problemas internos nos EUA.

Num exemplo de como a compostura em atos oficiais faz parte do passado na política dos EUA, as congressistas republicanas Marjorie Taylor Greene (da Georgia) e Lauren Boebert (do Colorado) — ambas da fação mais à direita no seu partido — gritaram “Build the wall” (construam o muro) quando Biden falou sobre a reforma adiada das políticas de imigração.

Noutro momento do discurso, quando o Presidente dos EUA falava sobre os soldados norte-americanos que regressaram ao país “em caixões adornados com a bandeira”, Boebert gritou “Você pô-los lá — 13 deles!”, numa referência aos 13 marines que foram mortos no atentado do Daesh no Afeganistão, no verão de 2021.

Combate à inflação

A braços com uma subida da inflação, que põe em causa o forte crescimento económico e a diminuição do desemprego no último ano, e ameaçado por uma taxa de popularidade em mínimos desde que chegou à Casa Branca, Biden aproveitou o discurso — e a oportunidade de falar diretamente para dezenas de milhões de norte-americanos através da televisão — para explicar o que fez até agora e o que pretende fazer nos próximos anos com a ajuda do Congresso.

O problema, para Biden e para o Partido Democrata, é que as próximas eleições para o Congresso vão realizar-se já em novembro, e o Partido Republicano tem todas as condições para recuperar as maiorias na Câmara dos Representantes e no Senado.

Se isso acontecer, a agenda legislativa da Casa Branca ficará bloqueada até ao final do mandato de Biden, em janeiro de 2025.

Talvez por isso, o Presidente dos EUA fez uma declaração que agradou aos republicanos e aos democratas do centro, e que não terá sido bem recebida pela ala progressista do Partido Democrata.

A resposta não é tirar financiamento à polícia. A resposta é dar mais financiamento à polícia”, disse Biden — uma posição que teve como objetivo desfazer uma imagem que ficou associada ao Partido Democrata desde o verão de 2020, na sequência dos protestos contra a violência policial e o racismo.

Para tentar contrariar a subida da inflação, Biden apresentou um plano que passa pela descida dos custos para os cidadãos, incluindo o preço dos medicamentos e as mensalidades de infantários e lares para idosos.

Mais do que qualquer outro assunto, é a inflação que tem empurrado a popularidade de Biden para baixo.

Ainda que haja mais emprego e que a economia esteja a crescer acima do que era esperado, a subida dos preços — provocada pelo aumento do consumo e por quebras na distribuição, por causa da pandemia — acaba por levar o dinheiro que os norte-americanos têm a mais nos bolsos no início de cada mês.

O antídoto, segundo Biden, passa por aumentar a produção nos Estados Unidos, para que os produtos cheguem às prateleiras em maior quantidade, mais rapidamente e com menos custos para os consumidores.

“Vamos comprar produtos americanos para garantirmos que tudo — do convés de um porta-aviões ao aço usado nos separadores nas auto-estradas — é feito na América”, disse Biden.

Alice Carqueja, ZAP //

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