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Beth Peterson foi atingida por dois raios. Sobreviveu para contar a história

Beth Peterson / Facebook

Beth Peterson, a norte-americana de 49 anos que foi atingida por dois raios (e sobreviveu para contar a história)

Uma norte-americana, de 49 anos, foi atingida duas vezes por um raio. A reabilitação física e psicológica foi dura mas, passados 25 anos, Beth utiliza essa dor para ajudar os outros.

A expressão “um num milhão” é usada com frequência para descrever alguém muito especial ou que passou por uma experiência demasiado invulgar. Na verdade, ainda há muitas pessoas por esse mundo fora que se encaixam literalmente nesta estatística.

É o caso de Beth Peterson, uma norte-americana de 49 anos que foi atingida por um raio e viveu o mesmo drama novamente, apenas um ano depois do primeiro incidente. Felizmente, sobreviveu para contar a história.

“A chuva encharcou as minhas botas e o meu coração estava a bater muito quando me apercebi que um raio tinha partido uma árvore a 50 metros de distância de mim. Não houve nenhum aviso, exceto pelas nuvens negras que cobriam o céu”, recorda à BBC.

“Antes de ter conseguido encontrar um abrigo, um forte raio de luz atravessou o meu corpo e atirou-me a uma distância de mais de nove metros, sobre um piso de cimento. Senti cada centímetro do meu corpo a arder, a arder com eletricidade, a matar-me. E depois ficou tudo escuro”, conta a norte-americana.

“Tinha 24 anos e era militar em Fort Benning, no estado da Geórgia. Naquela noite, estava a inspecionar munições num depósito com um colega. Ele tentou reanimar-me, mas foram os paramédicos que me ressuscitaram depois de o raio ter feito o meu coração parar de bater durante um curto período de tempo”.

“A minha vida mudou para sempre”

“Quando cheguei ao hospital, os médicos ficaram surpreendidos com o facto de eu ter sobrevivido. Estava semiconsciente, a perguntar se alguém tinha disparado ou atirado um explosivo contra mim”.

“Não podia falar porque tinha os maxilares partidos. Não conseguia entender o que me diziam por causa de uma lesão cerebral grave. Não conseguia andar porque os vasos sanguíneos dos meus pés estavam completamente destruídos. Estava feliz por estar viva, mas a minha vida tinha mudado para sempre”.

Fiz doze cirurgias para reconstruir os maxilares e os dedos dos meus pés tiveram de ser amputados. Lentamente, reaprendi a ler, escrever, falar e caminhar – inicialmente usava muletas e depois, quando fiquei mais forte, passei a usar os músculos do abdómen para manter o equilíbrio”.

“Sentia-me impotente mas, a cada sinal de recuperação – como conseguir dizer o alfabeto e completar operações matemáticas básicas – também renascia a esperança. Além de enfrentar a reabilitação física, fui diagnosticada com um transtorno de stress pós-traumático e tive de ser acompanhada por um psicólogo”.

Um ano depois, um novo raio

“Exatamente um ano depois do dia em que fui atingida por um raio, estava em casa, porque ainda não podia trabalhar, e a ver a chegada de uma tempestade. O meu psicólogo tinha-me encorajado a enfrentar os meus medos e a não me esconder em casa durante tempestades – por isso, ganhei coragem e fui até à varanda“.

“De repente, senti tudo outra vez: a mesma luz, o mesmo ardor agonizante. Fui atirada para dentro de casa, onde o meu namorado, David, correu até mim. Antes de perder a consciência, estava convencida de que ia morrer”, lembra.

“O segundo raio não me feriu fisicamente tanto como o primeiro. Como ainda estava em recuperação, os médicos não puderam perceber com precisão a extensão dos danos deste segundo golpe”.

“Os meus dias passaram a ser um fluxo constante de visitas a hospitais e clínicas de reabilitação. Vivia com medo, obcecada por nuvens, chuvas e relâmpagos, examinando o céu de forma constante”.

“Quatro meses depois, recuperei força suficiente para voltar a caminhar com a ajuda de uma bengala. David e eu decidimos casar. No ano seguinte, tivemos um filho, Casey. A cada cirurgia, a cada sessão de reabilitação, eles eram a fonte de alegria que me ajudou a superar tudo”.

Já se passaram 25 anos e ainda sinto dores. Pode parecer estranho, mas quem já passou por uma amputação vai entender: a dor não desaparece realmente, mas aprendemos a conviver com ela”.

Na sequência da sua história improvável, Beth organiza palestras para outros pacientes com transtorno de stress pós-traumático e dor crónica. Em 2013, escreveu o livro “Life After Lightning” (“A Vida Depois dos Raios” em tradução para português) sobre como usar a dor para se tornar uma pessoa mais forte.

“Os raios podem ter mudado a minha vida de uma forma irremediável, mas também me deram um novo propósito: ajudar os outros“, conclui.

ZAP // BBC

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