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Caso do bebé sem rosto. Médico que fez ecografias já teve pelo menos oito queixas na Ordem

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O médico obstetra que fez as ecografias a Rodrigo, o bebé de dez dias que nasceu no Hospital de São Bernardo, em Setúbal, sem rosto, foi alvo de pelo menos oito queixas na Ordem dos Médicos, escreve esta sexta-feira o Diário de Notícias.

De acordo com o diário, que avança o número depois de o Correio da Manhã ter noticiado que uma criança tinha nascido com malformações graves que não foram detetadas nas ecografias realizadas durante a gravidez, foram pelo menos oito as queixas, sendo que algumas foram entretanto arquivadas.

Um dos casos mais antigo, conta o matutino, remota a 2011: Luana nasceu com malformações graves que não foram detetadas nas ecografias realizadas numa clínica privada por Artur Carvalho, o mesmo médico que fez as ecografias a Rodrigo também numa clínica privada.

“Sei de bebés que nasceram com anomalias, e isso infelizmente acontece, apesar de todos os exames médicos que fazemos. Em lado nenhum a segurança é de 100 por cento e às vezes aparecem anomalias. Fiquei muito triste com isso porque o nosso trabalho é exatamente para prevenir essas coisas”, disse o médico, em 2011, à Lusa, citado pelo DN.

Os pais de Luana apresentaram queixa à Ordem dos Médicos e ao Ministério Público, mas o caso acabou por ser arquivado por ambos os organismos.

De acordo com a agência Lusa, o médico teria já duas outras queixas na altura em que a Luana nasceu: uma das quais foi arquivada e a outra, escreve o Diário de Notícias, deve também ter sido, uma vez que se passaram já oito anos.

Esta quinta-feira, e depois de o Correio da Manhã avançar a notícia, a Lusa confirmou junto da Ordem dos Médicos que, atualmente, o médico em causa tem quatro processos em curso no conselho disciplinar da Ordem dos Médicos.

A estes, junta-se o Rodrigo, fazendo um total de oito processos desde 2011.

O Diário de Notícias tentou, sem sucesso, saber junto da Ordem se todos as queixas estão relacionadas com casos semelhantes aos de Rodrigo e Luana.

Num comunicado enviado às redações e citado pelo Expresso, o presidente da Ordem, Miguel Guimarães, assegurou esta quinta-feira que já pediu esclarecimentos ao Conselho Disciplinar do Sul sobre Artur Carvalho e que a Ordem vai continuar a acompanhar o caso.

“Perante a gravidade dos factos relatados, informo que já interpelei o seu presidente [do Conselho Disciplinar], pedindo um esclarecimento cabal perante os vários processos que tem em análise”, afirma, citado em nota de imprensa Miguel Guimarães, que apela ainda a uma ação “rápida, eficaz e justa”.

“Erro grosseiro”

Especialistas ouvidos pelo agência Lusa, pelo jornal Público e pelo jornal Observador consideraram que não detetar a ausência de partes do rosto, como é o caso do nariz, durante uma ecografia é um “erro grosseiro”.

Ao Observador, o obstetra Diogo Ayres de Campos afirma que que “há malformações que são muito óbvias”, dando conta que “malformações como a ausência de olhos e uma implantação anormal do nariz fazem parte da rotina da ecografia das 22 semanas”.

“A não deteção dessas malformações é um erro. Há pessoas que fazem ecografias e têm mais experiência e mais conhecimento e há pessoas que têm menos. Mas isto é um erro muito grosseiro”, afirmou o especialista.

“Avaliando o rosto de um bebé na ecografia e não detetar a ausência do nariz é “um erro grosseiro”, explicou Álvaro Cohen, médico obstetra e coordenador da comissão técnica em ecografia obstétrica do Colégio de Ginecologia/Obstetrícia da Ordem dos Médicos, que falava em declarações ao jornal Público.

Por sua vez, o presidente da Sociedade de Obstetrícia, Luís Graça, que falava à Lusa, recusou comentar o caso de Rodrigo em concreto, dizendo contudo que um bebé sem olhos, nariz e parte do crânio deveria ser identificável numa ecografia.

ZAP //

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