BCE desce taxas de juro – mas o impacto nas famílias pode não ser o esperado

Marcello Casal Jr. / ABr

A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde

Segundo corte do ano: descida em 25 pontos base para 3,5%. Há moderação da inflação e de abrandamento da atividade económica a curto prazo.

O Banco Central Europeu (BCE) baixou nesta quinta-feira a sua taxa de juro de referência em 25 pontos base para 3,5%, o segundo corte do ano, num contexto de moderação da inflação e de abrandamento da atividade económica a curto prazo.

Reunido em Frankfurt, na Alemanha, o Conselho do BCE reduziu a taxa de facilidade permanente de depósito de 3,75% para 3,5%, enquanto as taxas de juro das operações principais de refinanciamento e da facilidade permanente de cedência de liquidez diminuíram 60 pontos base para 3,65% e 3,90%, respetivamente (contra os anteriores 4,25% e 4,50%), na sequência de um ajuste técnico.

Estas alterações terão efeitos a partir de 18 de setembro.

Em comunicado, o BCE considera que, no contexto atual, é apropriado “dar mais um passo no sentido de moderar o grau de restritividade da política monetária”.

No entanto, Nuno Rico, especialista da DECO PROteste, avisou que esta decisão não impacta diretamente as famílias que têm crédito à habitação a taxa variável: “As respetivas taxas são definidas através da Euribor, taxa a que os bancos comerciais emprestam dinheiro entre si, mas acaba por influenciar a evolução das mesmas”.

“A decisão de hoje vem reforçar esta tendência de descida dos juros, que se está a traduzir em poupanças nas prestações dos créditos, à medida que os contratos forem sendo revistos, ao longo dos próximos meses”, continuou Nuno Rico, sublinha a “atitude prudente” do BCE, ao contrário do que aconteceu durante a subida dos juros.

A DECO PROteste também adianta que, ainda em 2024, ou no início de 2025, os juros devem descer novamente.

Crescimento e inflação

O BCE reduziu numa décima de ponto percentual as previsões de crescimento para a zona euro este ano, para 0,8%, bem como para 2025 e 2026, em que espera um crescimento de 1,3% e de 1,5%, respetivamente.

O banco justifica a revisão em baixa com as condições de financiamento ainda restritivas que continuarão a travar o consumo das famílias e as decisões de investimento das empresas.

O Banco Central Europeu manteve as suas previsões de inflação nos 2,5% este ano, 2,2% em 2025 e 1,9% em 2026, ano em que espera ver atingido o objetivo de a taxa ficar abaixo dos 2%.

O Conselho de Governadores do BCE deixou inalteradas as previsões de inflação face a junho, apontando para uma taxa de 2,5% em 2024, 2,2% em 2025 e 1,9% em 2026, o que significa que o objetivo de estabilidade dos preços em torno dos 2%, que tem orientado a política da instituição, não será atingido antes de 2026.

O banco central explica que a inflação está a evoluir como esperado, prevendo-se que volte a subir na parte final deste ano devido ao efeito da comparação com a queda acentuada dos preços da energia que ocorreu um ano antes.

No entanto, o BCE reviu em alta, numa décima de ponto percentual, as suas projeções para a inflação subjacente (que exclui os preços mais voláteis, como os dos produtos alimentares não transformados e energéticos) para este ano e para o próximo: a previsão é agora de uma taxa de 2,9% em 2024 e de 2,3% em 2025, mantendo-se inalterada nos 2% em 2026.

Esta atualização em alta é explicada pela resistência da inflação dos serviços.

Segundo o banco central, embora a inflação interna permaneça elevada, as pressões sobre os custos do trabalho estão a moderar-se e os lucros estão a amortecer parcialmente o impacto sobre os salários, enquanto as condições de financiamento permanecem restritivas e a atividade económica continua moderada.

O BCE reitera que o seu objetivo continuará a ser o de assegurar que a inflação regresse aos 2% a médio prazo e que manterá as taxas de juro “em níveis suficientemente restritivos durante o tempo necessário para atingir esse objetivo”.

A inflação homóloga na zona euro caiu quatro décimas em agosto, para 2,2%, o nível mais baixo desde julho de 2021, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou 0,2% no segundo trimestre de 2024, menos uma décima do que nos primeiros três meses do ano.

ZAP // Lusa

Siga o ZAP no Whatsapp

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.