O Prémio Nobel da Paz Muhammad Yunus foi o escolhido para liderar o governo interino do Bangladesh após a demissão da ex-primeira-ministra do país, Sheik Hasina, no seguimento de violentos protestos liderados pelos estudantes.
Yunus é um crítico conhecido de Hasina que governou o país com mão de ferro durante os últimos 15 anos.
A ex-governante fugiu para a Índia após a demissão num momento que o Nobel da Paz de 2006 definiu como o “segundo dia da libertação” do Bangladesh.
Mas após a saída de Hasina, o país de 171 milhões de habitantes mergulhou no caos, com manifestações violentas fortemente reprimidas pela polícia. Mais de 300 pessoas já morreram.
Entretanto, surgem nas redes sociais vídeos que mostram alegados actos de violência no Bangladesh, com corpos carbonizados nas ruas, templos queimados, lojas saqueadas, cenas de violação e até homens enforcados. É impossível confirmar a autenticidade destes vídeos.
A maioria destes alegados actos violentos terão como alvo a comunidade hindu, uma religião minoritária no país.
As minorias, nomeadamente a etnia Rohingya, são, desde há muito, uma questão complexa no Bangladesh.
“Muito trabalho a fazer”
Muhammad Yunus chegou a Dhaka, capital do Bangladesh, no meio desta crise política e social para liderar o Governo interino. A escolha do chamado “banqueiro dos pobres” foi feita em conversações entre o presidente do país, Mohammed Shahabuddin, e líderes militares e estudantis.
Os protestos dos estudantes tiveram um papel decisivo na queda do Governo de Hasina e os seus líderes fincaram o pé à ideia de ter um militar a liderar o Governo.
Assim, Yunus surge como uma figura consensual e como o homem que pode devolver a democracia ao Bangladesh depois de anos de um regime autocrático.
Yunus já reconheceu à BBC que há “muito trabalho a fazer”, mas também assumiu que “as pessoas estão entusiasmadas”.
O “banqueiro dos pobres” que criou o microcrédito
O homem de 84 anos tornou-se conhecido como o “banqueiro dos pobres” depois de ter vencido o Prémio Nobel da Paz em 2006, pelo trabalho realizado para “criar desenvolvimento económico e social a partir de baixo”.
Yunus fundou o primeiro banco de microcrédito do mundo, o Grameen Bank, criando um conceito pioneiro que permite emprestar pequenas quantias de dinheiro a pessoas pobres, para as ajudar a abrirem os seus próprios negócios e a tornarem-se independentes.
Contudo, o projecto também lhe valeu críticas, nomeadamente da ex-primeira-ministra do Bangladesh que o acusou de “sugar o sangue dos pobres”. Em 2011, o Governo de Hasina destituiu Yunus do cargo de presidente do Grameen Bank.
Em 2013, o Nobel da Paz foi alvo de uma campanha difamatória que o acusava de não ser islâmico e de promover a homossexualidade, após ter assinado uma declaração a condenar as acusações contra homossexuais no Uganda.
Já neste ano, foi condenado a seis meses de prisão por violações da lei laboral. Também foi acusado de peculato e de corrupção noutros processos. Yunus negou todas as acusações e alegou que têm motivações políticas.
ZAP // Lusa