Pelo menos 173 pessoas morreram e mais de 1.100 foram detidas, nos últimos dias, no Bangladesh, na sequência dos protestos contra quotas de admissão na função pública, “que favorecem os grupos próximos da elite”.
O Bangladesh vive cenários de terror, com manifestações quase diárias, desde o início do mês, que já fizeram, pelo menos, 173 mortos.
Em causa estão protestos estudantis contra o fim das quotas de admissão na função pública, que favorecem as elites próximas do poder.
Entre os grupos específicos favorecidos, estão os filhos dos veteranos de guerra de libertação do país contra o Paquistão em 1971.
Quase 200 mortos e mais de 1.000 feridos depois, o movimento estudantil na origem das manifestações suspendeu os protestos na segunda-feira por 48 horas, com o líder a declarar que não quer reformas “à custa de tanto derramamento de sangue”.
As autoridades impuseram o recolher obrigatório e os soldados estão a patrulhar as cidades do país do sul da Ásia, o oitavo mais populoso do mundo.
Pelo menos 200 pessoas foram detidas nas regiões de Narayanganj e Narsingdi, no centro do país, disseram à France-Presse (AFP) chefes da polícia local.
Além disso, pelo menos 80 pessoas encontram-se detidas em Bogra, 75 na cidade de Rangpur (ambas no norte do país), 168 na cidade industrial de Gazipur, perto da capital, e 60 em Barisal (sul), acrescentaram responsáveis da polícia.
Estes números vêm juntar-se a um total de 532 detenções em Daca, anunciadas já na segunda-feira.
Forças de segurança vs. direitos humanos
A organização não-governamental de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) fez um apelo à comunidade internacional para pedir às autoridades do país “para acabarem com o uso excessivo da força contra os manifestantes e responsabilizem as tropas pelas violações dos direitos humanos“.
“O Bangladesh tem sido perturbado há muito tempo devido a abusos ilimitados das forças de segurança contra qualquer pessoa que se oponha ao Governo de Sheikh Hasina, e estamos a testemunhar o mesmo manual novamente, desta vez para atacar manifestantes estudantis desarmados”, disse o vice-diretor da HRW para a Ásia, em comunicado.
“Chegou o momento de governos influentes pressionarem Sheikh Hasina para que as suas forças parem de brutalizar estudantes e outros manifestantes“, notou Meenakshi Ganguly.
Também o secretário-geral da ONU, António Guterres, exortou esta segunda-feira o Governo do Bangladesh a respeitar “o direito à livre expressão e reunião pacífica” e pediu “uma investigação rápida e transparente dos atos de violência”.
“Exortamos as autoridades a garantir a proteção e segurança de todos os manifestantes e a criar um ambiente onde se possam exercer livremente os direitos de liberdade de expressão e de reunião”, disse através, do seu porta-voz Stephane Dujarric.
Acrescentou ainda que o Governo deve garantir que os responsáveis por essas mortes devem “responder pelos seus atos” na sequência de uma investigação “imparcial e transparente”.
O porta-voz da ONU precisou que foram recebidos “preocupantes relatos de sentenças muito duras” contra os manifestantes, que – recordou – têm direito ao protesto “sem receio da prisão nem da violência”.
ZAP // Lusa