Atravessar o “pedaço de oceano mais temido do mundo” é como ir à Lua

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Pinguim Gentoo em Port Lockroy, na ilha antártica de Goudier, próximo da Passagem de Drake

A Passagem de Drake é um dos lugares mais perigosos do mundo, e os oceanógrafos consideram-no um “lugar fascinante”.

É o “pedaço de oceano mais temido do globo — e com razão”, escreveu Alfred Lansing sobre a viagem do explorador Ernest Shackleton, em 1916, que o atravessou num pequeno bote salva-vidas.

A passagem de Drake é, objetivamente, uma vasta massa de água e situa-se ao fundo do continente sul-americano, entre o Chile, a Argentina e a Antártica.

É neste local que ocorrem as tempestades mais fortes do mundo, conta a CNN. “O Oceano Antártico é, em geral, muito tempestuoso, mas no Drake está-se a espremer (a água) entre o Antártico e o hemisfério sul”, acrescenta. “Isso intensifica as tempestades à medida que elas passam”. Chama-lhe um “efeito de funil”, diz o oceanógrafo Alexander Brearley.

“No meio da Passagem de Drake, os ventos podem ter soprado ao longo de milhares de quilómetros até ao local onde nos encontramos”, explica. “A energia cinética é convertida do vento em ondas e forma ondas de tempestade”. Quem lá passa sente então o “Drake shake”, ou os “abanões de Drake, como são conhecidos.

Estas ondas podem atingir até 15 metros de altura, diz. No entanto, a altura média das ondas no Drake é bastante inferior — quatro a cinco metros. Mesmo assim, é o dobro do que se encontra no Atlântico, por exemplo.

“Não é apenas turbulento à superfície, embora seja obviamente isso que se sente mais, mas é turbulento em toda a coluna de água“, diz Brearley, que atravessa regularmente o Drake num navio de investigação.

Antes da abertura do canal do Panamá, em 1914, os navios que passassem da Europa para a costa ocidental dos EUA tinham obrigatoriamente que passar no local. Na ponta da América do Sul há mesmo um memorial para os mais de 10 mil marinheiros que lá morreram.

“Tínhamos mares muito, muito agitados — ondas de mais de 20 metros“, recorda o capitão Stanislas Devorsine, um dos três capitães do Le Commandant Charcot, um navio polar da empresa de cruzeiros de aventura Ponan. Estreou-se no Drake como capitão há mais de 20 anos, navegando um quebra-gelo cheio de cientistas até à Antártica para um período de investigação.

Estava muito vento, muito agitado“. Não que os clientes da Ponant enfrentem algo do género. Devorsine é rápido a salientar que os níveis de conforto de um navio de investigação — e as condições em que navegará — são muito diferentes dos de um cruzeiro.

“Somos extremamente cautelosos — o oceano é mais forte do que nós”, diz. “Não podemos navegar com mau tempo. Vamos em mares agitados, mas sempre com uma grande margem de segurança. Não estamos a brincar”.

A Passagem de Drake recebe anualmente alguns turistas aventureiros. É assustador, mas para os oceanógrafos, como Brearley, é um “lugar fascinante”.

Edwina Lonsdale, diretora-geral da Mundy Adventures, uma agência de viagens de aventura, compara mesmo a travessia com uma ida à Lua. “Se fossemos à Lua, esperaríamos que a viagem fosse desconfortável, mas valeria a pena“, diz ela. “Só temos de pensar: ‘É disto que preciso para ir de um mundo para o outro’.”

ZAP //

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