Ataques israelitas fazem mais 700 mortos. Combates na Síria no pior ponto em quatro anos

Haitham Imad/Lusa

Operações de busca decorrem em Khan Younis após ataques aéreos israelitas

Mulheres e crianças compõem maioria dos mortos, segundo o Ministério de Saúde da Faixa de Gaza. Sem vagas nos abrigos, palestinianos dormem nas ruas. “Não há nenhum espaço seguro em Gaza.”

O Ministério de Saúde da Faixa de Gaza, controlado pelo movimento islamita Hamas, disse esta quarta-feira que ataques aéreos israelitas mataram pelo menos 704 pessoas, a maioria mulheres e crianças, nas últimas 24 horas.

Num comunicado, o ministério disse que os ataques causaram o desabamento de prédios residenciais, causando em alguns casos a morte de dezenas de moradores. Duas famílias perderam um total de 47 membros numa casa destruída em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, disse o ministério.

Também no sul de Gaza, em Khan Younis, um ataque a um prédio de quatro andares matou pelo menos 32 pessoas, incluindo 13 membros de uma só família, disse Ammar al-Butta, um familiar que sobreviveu ao ataque.

Cerca de 100 pessoas encontravam-se abrigadas no prédio, incluindo muitas que haviam sido retiradas da Cidade de Gaza, no norte do enclave, notou Ammar al-Butta. Vídeos chocantes que circularam nas redes sociais mostram o resultado devastador do ataque israelita na zona residencial.

“Achávamos que a nossa área seria segura”, continuou al-Butta à agência de notícias Associated Press (AP).

Isto porque, a 13 de outubro, Israel emitiu uma “ordem de deslocação” para cerca de 1,1 milhões de pessoas no norte da Faixa de Gaza para sul, ameaçando lançar uma incursão terrestre no território palestiniano.

Um outro ataque destruiu um movimentado mercado no campo de refugiados de Nuseirat, no centro de Gaza, disseram testemunhas à AP.

Na Cidade de Gaza, pelo menos 19 pessoas morreram quando um ataque aéreo atingiu uma habitação, de acordo com sobreviventes, que afirmaram que dezenas de outras pessoas permaneceram soterradas.

Na terça-feira, o ministério tinha anunciado que 5.791 pessoas, na grande maioria civis, incluindo mais de 2.300 crianças, foram mortas desde 07 de outubro, quando iniciaram os ataques contra Gaza.

No mesmo dia, a diretora Regional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) para o Médio Oriente e Norte de África, Adele Khodr, disse que pelo menos 2.360 crianças tinham morrido e 5.364 ficado feridas.

Sem vaga nos abrigos, palestinianos dormem nas ruas

A agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNWRA) afirma que há de momento mais de 600 mil desalojados em Gaza.

Os cerca de 150 abrigos na região recebem quatro vezes mais pessoas do que a capacidade instalada. Muitos palestinianos dormem na rua por não conseguirem vaga nos abrigos sobrelotados, diz a organização.

“Não há nenhum espaço seguro em Gaza hoje”, lê-se na publicação da UNWRA no X (antigo Twitter).

Invasão terrestre adiada por questões estratégicas

O chefe do Estado-Maior do Exército de Israel, tenente-general Herzi Halevi, indicou hoje que a ofensiva terrestre à Faixa de Gaza está a ser adiada por “considerações estratégicas”, no 18.º dia de guerra contra o movimento islamita Hamas.

Segundo afirmou o dirigente militar em conferência de imprensa, o grupo palestiniano “lamentará” ter lançado o ataque surpresa a Israel de 07 de outubro.

Com cerca de 360.000 reservistas convocados e uma multidão de tropas mobilizadas em torno da Faixa de Gaza, uma das incógnitas das últimas semanas tem sido a data em que ocorrerá a invasão terrestre, uma coisa que é quase unanimemente dada como garantida, mas que primeiro parecia iminente e agora está a ser adiada, enquanto Israel calcula todas as implicações que terá.

“Preparámo-nos para isso. O Exército israelita e o comando Sul prepararam planos ofensivos de qualidade para alcançar os objetivos da guerra”, disse Halevi, assegurando que as tropas “estão prontas para a operação”.

Ainda assim, acrescentou que há questões “táticas e estratégicas” que estão a atrasar a invasão, enquanto Israel continua a atacar alvos do Hamas para “matar terroristas, destruir infraestruturas e recolher informações secretas para a fase seguinte”.

Segundo alguns órgãos de comunicação social, entre as preocupações de uma operação terrestre estão as armadilhas que os combatentes palestinianos poderão deixar, os combates num contexto de guerrilha urbana num lugar que Israel não controla, ou os quilómetros de túneis subterrâneos da Faixa de Gaza cuja existência desconhece, o que poderia causar muitas vítimas mortais do lado israelita.

A isto acresce outra questão delicada, os pelo menos 220 reféns que continuam em cativeiro em Gaza, um dos elementos que poderá até agora ter impedido a ofensiva terrestre israelita.

Até agora, o Hamas libertou quatro reféns: uma mulher e a filha, ambas norte-americanas, e duas idosas israelitas, na noite passada.

Oito soldados sírios mortos. Hostilidades no pior ponto em 4 anos

Oito soldados sírios foram mortos e sete feridos em ataques israelitas contra posições do exército da Síria no sul do país, informou hoje a imprensa estatal síria.

“Por volta das 01:45 [23:45 de terça-feira em Lisboa], o inimigo israelita realizou um ataque aéreo a partir dos Golãs ocupados”, visando posições do exército sírio na província de Daraa, de acordo com uma fonte militar citada pela agência de notícias SANA.

As Forças de Defesa de Israel (IDF) confirmaram esta madrugada o lançamento de ataques aéreos contra infraestrutura militar na Síria, em retaliação por ataques sírios em direção a território israelita.

“Em resposta ao lançamento de foguetes da Síria contra Israel ontem [na terça-feira], os caças das IDF atacaram a infraestrutura militar e os lançadores de morteiros pertencentes ao exército sírio”, informaram as forças armadas na rede social X (antigo Twitter).

Pelo menos dois projéteis foram lançados na terça-feira da província de Deraa, no sul da Síria, em direção a Israel, que respondeu com fogo de artilharia, no terceiro incidente desse tipo desde o início da guerra em Gaza, relataram várias fontes.

O Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), organização não-governamental com sede no Reino Unido e uma ampla rede de fontes no terreno, indicou que o lançamento foi feito da região de Daraa e atribuiu a ação a “combatentes leais” ao grupo xiita libanês Hezbollah.

Tanto o Hezbollah como outros grupos armados apoiados pelo Irão estão presentes no território sírio e são aliados do Governo do Presidente sírio, Bashar al-Assad, considerando Israel a sua permanência nesse país vizinho uma ameaça para a segurança israelita.

O movimento xiita já está envolvido em intensos ataques transfronteiriços com Israel a partir do sul do Líbano.

Israel ataca o território sírio com relativa frequência, a maioria das vezes com mísseis disparados do ar, tendo como alvo o Hezbollah e outras milícias pró-iranianas.

O chefe da Comissão de Inquérito da ONU sobre a Síria afirmou que os combates no país atingiram o pior ponto nos últimos quatro anos, com consequências devastadoras para os civis.

“Estamos a assistir à maior escalada de hostilidades na Síria em quatro anos“, disse Paulo Pinheiro, na terça-feira, na Assembleia Geral da ONU.

“Mais uma vez, parece haver um total desrespeito pela vida dos civis, naquilo que muitas vezes são represálias”, salientou o brasileiro.

No início do mês, um ataque com drone à academia militar de Homs matou 89 pessoas, incluindo 31 mulheres e cinco crianças, e feriu 277.

Nenhum grupo reivindicou o ataque, mas os militares sírios acusaram os rebeldes “apoiados por forças internacionais conhecidas” e lançaram uma campanha brutal de ataques aéreos em áreas controladas pela oposição no noroeste da Síria, como retaliação.

“Em apenas quatro dias de bombardeamentos terrestres, cerca de 200 civis foram mortos e feridos, e instalações médicas, escolas e mercados foram afetados”, disse Pinheiro. “Dezenas de milhares de pessoas estão novamente deslocadas e em fuga”, acrescentou.

Turquia também se vinga

Entretanto, em retaliação a um atentado em Ancara, no qual ficaram feridos dois membros das forças de segurança turcas, a Turquia bombardeou zonas controladas pelos curdos no nordeste da Síria. Os bombardeamentos resultaram na “destruição e danificação de centrais elétricas e de água, afetando centenas de milhares de civis”, disse o responsável.

Pinheiro referiu ainda os recentes ataques aéreos aos aeroportos de Damasco e Alepo, na Síria controlada pelo governo, alegadamente por Israel, que colocaram ambos fora de serviço e “podem ter afetado mais uma vez a entrega de ajuda humanitária”.

Na revolta síria, transformada numa guerra civil já no 13.º ano, já morreram cerca de meio milhão de pessoas, metade da população de 23 milhões de pessoas está deslocada e as infraestruturas foram danificadas, nas zonas controladas pelo governo e pela oposição.

ZAP // Lusa

 

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