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Nos anos 60, o assassinato de Kitty Genovese levou à criação da linha 911

Foi o assassinato de uma nova-iorquina, em 1964, que levou à criação da agora famosa linha 911 (e de um novo termo no campo da psicologia social).

A história foi recordada, esta semana, pelo canal estatal russo RT. Na madrugada do dia 13 de março de 1964, Kitty Genovese estava a voltar para casa em Nova Iorque, depois de mais um dia de trabalho, quando um homem a apunhalou duas vezes nas costas.

Um dos vizinhos pensou que se tratava de uma rixa familiar e gritou através da sua janela para deixar a jovem em paz. O assassino assustou-se e fugiu e Kitty, já gravemente ferida, usou todas as suas forças para chegar ao apartamento onde morava.

No entanto, dez minutos depois, o homicida voltou e encontrou a norte-americana, na altura com 28 anos, no saguão do prédio, onde a esfaqueou novamente, violou e roubou, tendo depois fugido.

Embora o crime tenha durado mais de meia hora, apenas uma vizinha, Sophia Farrar, saiu em seu socorro, já depois do segundo ataque. A norte-americana esperou ao seu lado pela ambulância, mas já era tarde demais.

O autor do assassinato foi preso dias depois. Chamava-se Winston Moseley, tinha 29 anos, era casado e pai de três filhos. Durante o interrogatório, confessou este crime e outros dois assassinatos e violações, além de mais de quarenta assaltos. Os exames psiquiátricos concluíram que era necrófilo (pessoa que encontra satisfação sexual com cadáveres).

O caso ficou conhecido várias semanas depois, quando o jornal New York Times publicou um artigo com o título: “37 pessoas viram um assassinato e não chamaram a polícia“.

Segundo o RT, embora a publicação nova-iorquina tenha exagerado tanto no número de testemunhas como na sua inação, o artigo escandalizou o público norte-americano, sobretudo as palavras de um vizinho, que disse não ter contactado as autoridades porque não se queria “envolver”.

Na época, a dupla de psicólogos John Darley e Bibb Latané decidiu aprofundar esta situação e, num estudo publicado em 1968, concluíram que quantas mais pessoas testemunham uma emergência, menos provável é que uma delas ajude a vítima. No caso de uma testemunha, a probabilidade é de 85%; se forem três, baixa para 31%.

Outra importante consequência deste assassinato foi a criação, por parte da empresa AT&T, da linha 911, semelhante ao nosso 112 em Portugal. A necessidade de ter um número assim só ficou mais evidente quando uma das testemunhas afirmou não ter chamado a polícia por não saber como fazê-lo.

Quanto a Moseley, foi inicialmente condenado à morte, mas o veredito foi posteriormente alterado para prisão perpétua. Morreu na prisão, em 2016.

ZAP //

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